Antônio FJ Saracura é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Ando pela redondeza de meu condomínio. Após o café, leio o que escrevi à noite passada e reescrevo, até sentir que ficou bom.
Depois (se nada a fazer na rua) leio um livro até o almoço.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho (escrevo) melhor à noite, que há silêncio; mas, se a história brota, qualquer hora eu corro para o computador. Não tenho ritual nenhum, apenas abro o word e começo a construção do texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo tudo que tenho na cabeça, só paro quando a esgoto ou quando preciso cuidar de assunto urgente alheio. Não tenho meta diária. Há dias que apenas leio livros. Outros que leio e escrevo e outros que escrevo somente.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu estruturo as vigas mestras do texto (conto, crônica, romance) a partir de pesquisa, entrevistas, lembranças… Depois, vou ao computador e escrevo. A escrita flui fácil com o risco de invadir periferias, sair da linha mestra, E escrevendo deixo lacunas para preencher com novas pesquisas ou com melhor análise, posteriormente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho tabus, sei que a primeira versão é apenas um exercício de escrita. Ao achar travas (bloqueios na linha da escrita) deixo explicitadas em vermelho para depois retomar. Um livro ou o conto para mim nasce de partes aparentemente desconexas que a reescrita ajusta.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso várias vezes (infinitas) até achar que está irretocável. Depois de alguns dias, retorno ao texto e o reviso outras vezes. Na fase de publicação contrato um revisor profissional para a parte gramatical e também a consistência e coerência do enredo. Se o conto ou romance envolver comunidade (cidade…) ou instituição (igreja…) peço a um intelectual relacionado para pré ler.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador. Eventualmente, posso levar ao computador anotações feitas no correr do dia quanto estalam em minha cabeça.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Escrevo muito a partir de minha memória, da memória de pessoas de minha família ou do povoado, que contam casos. Mas fico sempre atento captando o que ocorre comigo e por onde passo, que agregue valor ao projeto que escrevo (anoto em papéis soltos ou no smart fone (wsap falso, com voz, ou digito em notas).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu publiquei meu primeiro livro em 2008 (com 63 anos) já escrevia desde dez anos atrás em computador. Antes escrevia textos pequenos para jornais. Sempre escrevi por necessidade de me liberar de sobrecarga de ideias organizadas na cabeça. Meu processo de escrita tem sido o mesmo: espontâneo. Não vejo porque ou como mudar. A minha escrita é muito fluente na primeira versão (catarse) e, extremamente, exaustiva na depuração.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Escrever e publicar os demais livros (principais) que programei fazer quando resolvi ser escritor. Não vou ter tempo de escrever todos (talvez). Gostaria de ler o livro que me arrebate desde a primeira linha (tendo escrever livros assim). Os espetaculares que li (e foram muitos) sempre tiveram pecados (perdoáveis) e poderiam não os ter.