Antonio Eduardo Ramires Santoro é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Durante o período de aulas acordo às 5h todos os dias, tomo um banho imediatamente, meus remédios para hipertensão, um café e saio. Tenho uma rotina conforme o dia da semana. Às segundas e sextas vou para a Universidade Católica de Petrópolis, onde começo as aulas às 7h20 e termino às 10h40. Às terças e quintas vou para a UFRJ, onde começo as aulas às 07h30. Quarta, aulas às 7h30 no IBMEC. Reservo minhas tardes para pesquisar, escrever ou advogar, conforme a demanda do escritório.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Durante o dia. A manhã é o melhor horário para pesquisar e escrever, mas durante o dia eu funciono bem. À noite não rendo bem, por isso só uso a parte da noite se for muito necessário para cumprir um prazo de envio de artigo, livro ou capítulo de livro. O único ritual é sentar e abrir o laptop em um lugar calmo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
O ideal é escrever em períodos concentrados, mas isso é praticamente impossível diante da rotina de aulas. Então pesquiso ou escrevo em qualquer horário que esteja disponível na minha agenda. Não tenho meta diária, para mim isso não funciona. Minhas metas são por produção. Por exemplo, preciso escrever um artigo, me dedico a ele até terminar. Se estiver escrevendo algo que não tem prazo ou urgência, faço com mais calma, termino e volto a ele um tempo depois, como um mês. Esse é um método que oxigena as ideias e permite me autocriticar, o que não acontece quando os prazos impedem o retorno ao texto. Eu costumo dizer que existem textos verdes e textos maduros. Ambos podem ser bons textos, mas, obviamente, os maduros são mais refletidos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu escrevo conforme minha problematização. Um projeto de pesquisa pode gerar muita produção. Obviamente um bom projeto tem seu problema específico bem como um cronograma claro e detalhado, mas durante a execução da pesquisa (meus últimos três projetos se basearam em coleta de dados empíricos porque não tenho tido interesse em pesquisa estritamente teórica) os dados podem ensejar problemas específicos e relacionados ao problema principal. Nesse caso costumo enfrentar esses problemas escrevendo imediatamente sobre eles, busco abordá-los em artigos científicos que são, portanto, relacionados diretamente à pesquisa e à coleta de dados correspondente. Não há dificuldade de começar quando se tem em mente que uma boa introdução de um artigo científico tem que apresentar e justificar o tema, apresentar o problema, a hipótese e a metodologia. É assim que começo, escrevendo a introdução.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Dificilmente travo a escrita. Penso que escrever sobre uma pesquisa (e não sobre assuntos aleatórios) evita ou minimiza a possibilidade de travar a escrita. Isso porque quando se elabora um projeto bem feito, já foi realizada uma boa investigação teórica para que a concepção formal do projeto ocorresse. Escrever um projeto de pesquisa demanda conhecimento sério sobre o tema e domínio do assunto. Quando a coleta dos dados desperta problematizações específicas, o assunto já não é mais tão árido. É mais difícil conceber um bom projeto que produzir (escrever) com base nas pesquisas realizadas no desenvolvimento do projeto.
Não tenho medo algum de não corresponder às expectativas. Faço um trabalho que respeita o que penso no momento em que escrevo e, por isso, não tenho qualquer receio de agradar ou desagradar. Mas eu realmente adoro receber críticas sérias. Primeiro porque alguém se dispôs a ler o que escrevi. Segundo porque se a crítica é séria, me permite refletir sobre os pontos abordados. Eu tenho muita tranquilidade em relação a isso porque compreendo que nenhum texto é definitivo, sobretudo se a pesquisa relacionada a ele ainda está em andamento, o que me permite revisitá-lo a partir das críticas. Costumo revisitar meus textos em três casos: quando recebo uma crítica, quando coleto novos dados que confirmam ou infirmam o que escrevi e quando passa mais de três anos que escrevi o texto. Em qualquer desses casos, não tenho qualquer constrangimento em reescrevê-lo ou escrever um novo texto, mesmo que modifique minha compreensão anterior.
Não existe qualquer motivo para ter ansiedade quando trabalho em projetos longos. Eu é que elaboro o projeto ou resolvo participar de projeto elaborado por outro pesquisador, portanto a escolha de participar de um projeto longo é exclusivamente minha. Se optei por realizar um projeto longo, apenas respeito o cronograma de pesquisa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende se tem ou não prazo. Se tiver prazo apertado, reviso apenas uma vez. Se não tiver prazo, como disse antes, espero um mês e volto ao texto um tempo depois, como um mês, por exemplo. Só mostro para outras pessoas em dois casos, se estivermos escrevendo em coautoria e houver uma pequena divisão de trabalho (por exemplo, um revisa a parte escrita pelo outro tornando o texto mais orgânico e menos justaposto) ou se for uma pesquisa que exista uma pessoa orientando ou coordenando que não seja eu e, com isso, eu precise submeter primeiro a ela.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo no computador. Gravo ou filmo o que puder, organizo os dados coletados no computador e em um HD externo. Enfim, tenho uma boa relação com a tecnologia. Mas ainda posso melhorar e vou começar a fazer uso de softwares de análise de conteúdo para me auxiliar nas pesquisas, especialmente qualitativas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm de várias origens: das próprias pesquisas (uma pesquisa incentiva a realização de outra), da prática como advogado, das conversas com colegas, alunas e alunos, da leitura de livros, artigos, jornais, revistas, redes sociais, de filmes. Meus principais hábitos para me manter criativo são: ser curioso e incomodado, ler (qualquer coisa), assistir filmes e, sobretudo, conversar com as pessoas (especialmente ouvi-las).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Metodologia. Ter método é a forma mais eficiente de escrever. Saber que escrever não é justapor palavras, mas apresentar um problema com clareza, definir uma hipótese, elaborar um método para pesquisar a respeito daquele problema e executar como planejado. A escrita em si é uma boa descrição disso. Eu não diria nada a mim mesmo se pudesse voltar à escrita dos meus primeiros textos porque só consigo escrever de forma fluida por ter errado muito. O importante é transpirar, se eu não tivesse transpirado não escreveria como faço agora e espero que descubra no futuro mais sobre métodos que me conduzam a uma escrita melhor.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tenho nenhum projeto que gostaria de fazer que ainda não fiz. Quando um projeto de pesquisa está terminando penso em assuntos que gostaria de pesquisar, então leio muito sobre e elaboro um novo projeto. Nesse momento estou no início de um projeto, então não tenho nada em mente. Tenho tantos livros que gostaria de ler e que já existem… especialmente literatura, porque direito, filosofia e história leio bastante. Normalmente se penso que eu gostaria de ler um livro relacionado à minha área de pesquisa que não existe, certamente esse será o tema da minha nova pesquisa.