Anton Roos é jornalista e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Antes que eu possa fazer qualquer coisa relacionada a trabalho ou escrita, eu preciso sair com meu cachorro Milton para uma caminhada pelo bairro onde moro.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu prefiro escrever pela manhã. Normalmente quando tenho um projeto em andamento, gosto de acordar mais cedo que o habitual, sentar na frente do computador e escrever. Não tenho nenhum tipo de ritual do tipo ouvir música enquanto escrevo ou tomar iogurte com granola. Apenas me sinto mais confortável para escrever logo cedo quando as ideias parecem menos influenciadas pelo excesso e conflito de informação que circula hoje em dia. À noite, embora não seja uma rotina fixa, reviso o que consegui produzir ao longo do dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende muito do projeto que estou escrevendo. No momento estou revisando um livro que pretendo lançar em 2021, então sempre que tenho tempo livre, dedico toda minha atenção para esse projeto. Em paralelo, comecei a esboçar outra ideia de romance para um futuro próximo. Aderi ao caderno como ferramenta para poder jogar ideias cruas, planejar cenas, cenários e diálogos. Não gosto de estipular uma meta fixa, muito mais para não me frustrar, tipo “ah, não consegui escrever as dez páginas que estavam planejadas”. Tem dias e dias, preciso respeitar meu ritmo, embora saiba que durante a produção de um livro ou conto eu só vá sossegar quando estiver com o projeto bem adiantado ou finalizado.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu costumo pincelar uma escaleta prévia dos capítulos antes de começar a escrever, me sinto mais seguro e confiante quando tenho um norte para guiar meu trabalho. Acredito que seja preciso escrever uma primeira versão, ainda que essa versão esteja distante da versão definitiva. Sempre haverá espaço para ajustes e se for preciso até mesmo mudança de rumo em algum ou outro momento. Começar é desafiador, mas necessário. Escrever exige comprometimento e frequência. O escritor sabe que não pode deixar a ideia muito tempo na gaveta.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Ninguém é uma máquina. Quem paga de ser humano feliz o tempo todo está mentindo. Nenhum artista no mundo é capaz de ter uma performance avassaladora todas as noites. Na escrita não é diferente, há dias em que as coisas fluem naturalmente e outros dias que nada dá certo. O grande segredo talvez seja não se deixar influenciar pelos dias menos produtivos. Faz parte do processo, é como uma gangorra. Hoje pode estar na parte de baixo, amanhã na de cima.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Se tem algo que aprendi desde que comecei a me aventurar pelo mundo da escrita é que não vale a pena publicar nada de maneira afoita. Meu projeto atual, por exemplo, comecei a escrever em 2017 e só hoje noto que estou perto do ponto final definitivo. Mas a opinião de leitores beta de confiança, um revisor e uma boa leitura crítica são imprescindíveis.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O caderno só serve para ideias soltas, não consigo manter uma constância escrevendo a mão. O grosso é todo ele feito no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu gosto de tudo que flerta com o absurdo, sempre. Nunca pensei se há um lugar de onde minhas ideias surgem. Observo sempre com atenção redobrada para as situações e personagens incomuns que cruzam meu caminho.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sou a mesma pessoa que eu era quando publiquei meu primeiro livro. Aprendi muito desde então, inclusive a ponto de me policiar muito mais hoje em dia. Se pudesse, de fato, dizer alguma coisa para o meu eu escritor de alguns anos atrás é: não seja tão afoito, não ache que a primeira versão é a versão definitiva. Se cerque de amigos leitores confiáveis. Não desista nunca.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dois livros aguardando na gaveta, um sai ano que vem se tudo der certo. O outro vou estudar a melhor maneira de publicar. Ainda há outro, um terceiro que comecei a esboçar. É um livro que quero escrever há algum tempo, mas nunca me sentia confiante suficiente para começar. É cedo para falar qualquer coisa sobre esse livro ainda, está ganhando forma aos poucos e estou gostando do resultado. Eu acho que sempre vou me surpreender com bons livros então seria muita falta de modéstia dizer que existe um livro que eu gostaria de ler e ainda não foi escrito. Ele já foi escrito e eu ainda não li, só isso.