Anorkinda Neide é poeta, escritora integrada às Contistas e organizadora da Janela de Poesia.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é dormir. Eu durmo pela manhã. Mas nos dias ideais, (sim, eles existem!) a minha rotina é me permitir ficar em estado de poesia, de inspiração… Observando a vida em seus detalhes enquanto cuido de meus afazeres e cuidados. Então, à noite, estou disposta a codificar em versos ou em histórias o que eu captei não só durante o dia, mas durante a vida pois eu sei que meu dia é reflexo de tudo o que já vivi até aqui.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu durmo pela manhã e escrevo, geralmente, na madrugada. Quando há prazos, então largo tudo de pernas pro ar e vou direto ao computador ‘cumprir o compromisso’ mas apenas quando isto é prazeroso, até porque do contrário, não conseguiria escrever.
O ritual de preparação é aquele que descrevi antes… passar o dia conectada à inspiração. Em dias atribulados não escrevo nada ou quase nada, por isso, prezo tanto pela minha ‘preguiça’, por respeitar meus ritmos lentos de andar pela vida.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gosto de escrever todos os dias, mas nem sempre é possível. Não estipulo metas nem quando há prazos, isso limita minha inspiração. Então, só escrevo quando flui, se forçar porque a ‘meta era tal’, não rola nada legal.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo é o da inspiração. Respiro, concentro e deixo vir. Muitas vezes não há plano algum, apenas um tema ou uma ideia que quero trabalhar naquele momento.
Quando há pesquisa, deixo as janelas abertas e anotações todas a minha frente, faço uma oração pedindo ajuda para juntar tudo o que absorvi e montar um texto minimamente bom. Não acho difícil mas, sim prazeroso montar este tipo de quebra-cabeças (sempre amei quebra-cabeças!).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Bah! Com as travas da escrita é uma peleia (luta) feia! Como disse antes, dias atribulados são o meu martírio porque preciso escrever, necessidade básica, tento deixar passar o tempo necessário para que a calmaria ganhe novamente o seu espaço em mim, mas é difícil passar por isso sem uma boa revolta!
A procrastinação costuma aparecer quando o medo de não ser capaz de produzir algo bom dentro da meta, do tema ou do prazo, geralmente os contos. Pra lidar com isso, só sendo enfática comigo mesma: – Vamos lá! Escreva qualquer coisa, mas escreva!
Projetos longos são raros, como o livro de Nora, que narra um fim de semana de uma moça wiccana todo em poemas, neste projeto eu não travei, a história fluiu com o prazer imenso que senti na pesquisa.
Um conto de duas mil palavras eu considero um projeto longo… rsrs Tenho alguns em que eu demorei vários dias desenvolvendo-os, não gosto muito disso, pois fico com medo de algo me impedir de prosseguir com ele e aconteça de passar outros tantos dias sem poder trabalhar nele quando então perco o ritmo e o tom do texto, pode virar um frankenstein!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muito, gosto muito de reler meus textos. Além da gramática (onde deixo passar muitos e muitos erros) procuro notar o ritmo, a coesão, a coerência, fico meio obcecada com essas coisas.
Não costumo mostrar pra outras pessoas antes de publicá-los, mas é bom pra correção gramatical passar por um olhar mais competente que o meu.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Alterno as duas coisas. A prosa flui mais rapidamente, por óbvio, no teclado, porém muitas vezes faço um esqueleto da história no papel. Quanto aos poemas eu tenho um relacionamento com o teclado muito produtivo para fluir os versos, mas aqueles que nascem o papel são meus mimos, um carinho maior.
A tecnologia é para mim o melhor instrumento de trabalho do escritor, pela rapidez de produção, revisão, divulgação e resposta a sua obra.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Leitura, muita leitura. Agora mesmo, antes de reabrir estas perguntas da entrevista, eu estava relendo um livro que eu revisito constantemente e pensei isto mesmo: – Daqui eu gravei inspirações que certamente me acompanham ao escrever.
Então, o hábito que eu cultivo é o de sempre ler literatura de todos os gêneros, inclusive infantil.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ah… a gente amadurece. Assim como amadurece na vida, assim se espelha na escrita. E é vivendo que se amadurece e é escrevendo que amadurecemos a escrita. Não dá para deixar para começar quando estiver pronto, você estará pronto na medida em que for escrevendo. Isso envolve uma boa dose de humildade porque obviamente os primeiros textos não serão ótimos mas é preciso que existam e que não sejam negados mais tarde, eles fizeram parte do processo.
Hoje eu penso mais no todo enquanto escrevo, em todo o conjunto da obra, mesmo num pequeno poema, onde ao escrever já vou automaticamente pensando na forma que ele terá, ou num conto penso na estrutura dele, a técnica vai caminhando junto com a inspiração.
Ao voltar à escrita de meus primeiros textos, eu diria a mim: – Muito bem, guria!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda não comecei um livro com poemas inspirados nos poemas de Rodrigo Arcadia, meu melhor poeta amigo falecido há alguns anos. Eu amo entrar na energia lírica dele e escrever de forma muito diferente da minha própria. Já fazia isto com ele em vida e quero muito concretizar este sonho.
Que ainda não existe? Não sei, eu posso pensar em algo que eu desconheço e isto já existir ou também posso imaginar algo surreal e hiperbólico… hehe Realmente não sei.