Anna Claudia Ramos é escritora, professora de oficinas literárias, mestre em Ciência da Literatura pela UFRJ e sócia-diretora do Atelier Vila das Artes.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
De um modo geral, acordo cedo, sou uma pessoa solar, totalmente do dia! Três ou quatro vezes por semana, quando não estou viajando, tomo café, pego minha bicicleta e vou remar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Remar naquele visual me faz um bem incrível. É praticamente uma meditação ativa. A Lagoa é muito viva e cheia de histórias. Temos um grupo bacana lá no remo. Na volta, faço um suco, tomo banho, e só aí sento para começar a escrever. Meu escritório é no quintal. É legal isso, estou dentro e fora de casa ao mesmo tempo. Mas é um espaço só meu, totalmente reservado. Quando estou escrevendo um livro, por exemplo, fico bem na toca, desligo celular pra poder ficar mais focada. Nem sempre posso me dar ao luxo desta rotina matinal saudável. Como viajo muito por este imenso Brasil, às vezes a rotina matinal é acordar, tomar café e partir para bate-papos, oficinas ou palestras, seja com alunos ou professores. Na verdade, se eu pensar bem, a minha rotina é não ter rotina. Cada dia da semana eu praticamente me programo de acordo com “o que temos pra hoje”, sabe? Tenho gostado dessa ideia de viver o aqui e agora. Também pratico yoga, então as práticas diárias de yoga também entram no meu dia na hora do possível.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de ouvir música, meus livros têm trilha sonora. Para cada livro uma música, ou algum CD, ou algum tipo de música específica. A música me leva para dentro da história de alguma maneira. Costumo ouvir até acabar o livro. Às vezes, passo anos sem conseguir ouvir aquela música de novo, de tanto que ouvi durante o processo. Mas costumo dizer que cada livro pede um processo, uma forma especial. Então, estabeleço uma relação diferente com cada livro. Mas sem sombra de dúvidas funciono muito bem durante as manhãs e ao longo do dia. Nunca de madrugada. Alguns livros demandam pesquisa, outros pedem um esquema inicial, outros pedem uma primeira escrita no papel antes de passar para o computador, outros nascem direto no computador, mas não começo nenhum livro antes de traçar quem será o narrador. E mesmo que tenha a história na minha cabeça, muitas vezes, o livro ganha tanto espaço em mim, as personagens crescem tanto e me levam para lugares que não havia pensado anteriormente. Escrever é um misto de uma inspiração inicial, que na verdade eu chamaria de uma ideia inicial, e muito trabalho. Se hoje escrevo e tenho uma obra reconhecida na minha área, é porque me preparei muito para isso. Anos de estudo, muita leitura e disciplina. Gosto dessa palavra disciplina. Não algo que te engesse, mas cada escritor, na verdade cada artista, precisa traçar a sua disciplina de trabalho, como melhor funciona. Não existe uma regra única. Não gosto de rotinas engessadas, mas sei que muita gente precisa delas para funcionar. Gosto da liberdade de poder traçar meu dia, minha semana, meu mês… mas sem foco e disciplina as coisas não andam. O remo me educa muito nesse sentido. Sem foco e disciplina não melhoro meu desempenho técnico. O remo também me ensina que não posso ser nem autoconfiante e nem medrosa demais, senão acaba virando o barco. Preciso achar um eixo, um equilíbrio entre o medo e a confiança. Assim também na vida e, claro, na escrita. Mas escrita não é achismo, não é qualquer coisa, requer técnica, conhecer estrutura narrativa, saber criar bons narradores, saber que não basta ter uma ideia, precisa maestria para fazer esta ideia virar uma boa historia, mas ao mesmo tempo requer um olhar muito pessoal do artista. É isso que faz a diferença. Gosto de dizer que a técnica está a seu dispor e não você ao dispor dela, entende?
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não, não tenho meta nenhuma de escrita diária quando estou escrevendo um livro, mas, como disse, sou muito disciplinada. Se eu estiver trabalhando com prazos, preciso ter meta de produção, claro! Afinal, vivo da escrita, mas não só da escrita literária, escrevo conteúdo para algumas plataformas, artigos, preparo palestras. Enfim, são várias demandas e preciso estar atenta ao que cada uma me pede, vamos dizer assim. Mas quando estou escrevendo literatura, cada livro pede um processo, pede uma trajetória. Aprendi com Octavio Paz lendo seu livro O arco e a lira, que a técnica só vale na medida de sua eficácia, “seu valor dura até que surja um novo processo. (…) cada poema é um objeto único, criado por uma técnica que morre no instante mesmo da criação. A chamada técnica poética não é transmissível porque não é feita de receitas, mas de invenções que só servem ao seu criador”. Diria que não só para o poema, mas para a prosa, para a escrita de um modo geral, portanto, para cada livro estabeleço uma relação de trabalho e crio minhas metas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
De certa forma acho que já vim falando do meu processo desde o começo da entrevista, mas vamos lá aprofundar essa resposta. Não sou daquelas autoras que para todos os livros tem um mesmo processo de escrita. Cada livro pede um processo diferente, como já falei. Para cada um tenho uma trilha sonora, que escuto enquanto escrevo. Mas às vezes não consigo ouvir música, o livro pede silêncio absoluto. Funciono melhor durante o dia, mas alguns livros eu escrevi melhor à noite. Mas sempre antes de escrever ouço música, como se a música me ajudasse a entrar no mundo da história que estou escrevendo. Quando o livro pede pesquisas, sempre faço antes de começar o livro. Quando escrevi um diário inventado da Princesa Isabel menina, passei meses lendo, estudando e pesquisando. Fui ao Museu Imperial e trouxe muito material, e li as cartas que ela escrevia quase que diariamente para os pais, fui entrando no mundo de Isabel, porque por mais que fosse um diário inventado, era baseado em fatos reais, vividos numa época totalmente diferente da atual, com linguagem diferenciada. Fora que não era um diário de uma menina qualquer, era de uma personagem real, eu precisava conhecer e dar voz para Isabel. Na verdade, eu queria achar a voz de Isabel. E creio que consegui achar essa voz lendo as cartas de quando ela era menina. Depois que organizei o material que trouxe do Museu Imperial, passei dois meses lendo, marcando passagens que não poderiam ficar fora do livro, checando informações que não batiam de um livro para o outro, montando um esquema imenso. Meu escritório era só papel e anotações por todos os lados. Quando sentei para escrever, tinha um esqueleto em mente, mas tudo foi se modificando à medida que escrevia o texto e descobria novas possibilidades de abordagem da história. Muitas vezes recorri a novas pesquisas e checagens de fotos e fatos. Outra coisa fundamental neste livro foi a escolha da linguagem, do tempo verbal que escolhi para narrar a história. Na construção do mundo da narrativa as coisas precisam de uma lógica, mesmo que ilógica. Outro grande mestre me ensinou isso: Umberto Eco. Diria que meu processo criativo é bem múltiplo, e eu poderia passar páginas e páginas contando os bastidores da escrita de cada um dos meus livros. Mas aqui não temos tempo nem espaço para isso.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Já bati muito a cabeça tentando escrever determinados textos que não saíam por nada ou empacavam. À força de muito bater cabeça a gente aprende. Um dia, até meu computador me deu uma mãozinha e pifou me deixando na mão. Mas depois entendi que aquele deixar na mão tinha sido ótimo porque acabei me distanciando do problema. Então, muitas vezes quando as coisas não fluem, largo tudo, pego minha bicicleta e vou pedalar pela praia e pela Lagoa. Quando volto estou mais serena. Às vezes a solução surge no meio da pedalada. Às vezes, não. Às vezes é preciso tempo. A escrita pede tempo, maturação. Tenho aprendido a me permitir ter mais tempos livres, para fazer o que quiser, sem compromissos. Desde muito jovem me cobrava trabalhar, aprender, fazer, escrever, mas a maturidade tem lá suas vantagens, uma delas é essa, me permitir administrar melhor o tempo e não abrir mão daquilo que me é caro, que fala mais alto para o meu coração. Tenho aprendido que posso procrastinar de vez em quando. Até porque, muitas vezes é preciso esvaziar a cabeça para que o novo chegue.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Mostro, sim, para alguns amigos que sei que são críticos em termos literários. Não vale amigo ou família, que vai dizer que está lindo mesmo não estando, não é? Esses não ajudam a gente a crescer, apenas insuflam egos e isso não é bom. Dependendo do texto, como no caso de livros que têm personagens com característica que não domino, procuro ajuda especializada. Exemplo: tenho um livro com uma personagem surda, e tive ajuda de uma professora de uma escola bilíngue de surdos. Quando fui escrever sobre as paralimpíadas, entrevistei atletas paralímpicos na modalidade de esporte que eu estava trabalhando no livro. Quando terminei o livro, levei para meu atleta consultor ler e ver se no quesito “informações técnicas” eu não tinha cometido nenhum equívoco. Recentemente escrevi um livro que tem uma personagem cega e tive ajuda de uma amiga muito querida que me ajudou bastante com a construção da personagem e seus desdobramentos. Ela me contou sobre o tempo que estudou no Instituto Benjamin Constant, eu contei o que estava planejando para o livro e trocamos muitas ideias antes mesmo de eu escrever a história. Quando o texto ficou pronto eu dei para ela ler e sua leitura teve um olhar muito atento. Foi importantíssimo esse olhar. É claro que temos que ter cuidado, porque muitas vezes quem lê não gosta por algum motivo. Precisamos também ter serenidade e autocrítica para avaliarmos os resultados das leituras. Se formos nos influenciar pelos gostos de cada um, fica complicado. Gosto quando encontro bons editores de texto no meu caminho, porque adoro discutir o texto com meu editor. Discutir, pensar, mexer, aparar o que for necessário. Agora, revisar… quanto mais puder, melhor. Ler, reler, ler de novo… (risos) quantas vezes for necessário. Na verdade, um dia é preciso colocar ponto final na história. Agora, mesmo depois do livro publicado, acabo sempre pensando: “por que não escrevi isso de forma diferente? por que não coloquei uma frase aqui?” Mas revisar é extremamente importante. E adoraria se eu pudesse ter um intervalo bacana entre o que considero o final da escrita e a revisão, porque quando for encarar a revisão, já estarei com um olhar mais distanciado para o texto. Isso ajuda muito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia é ótima. E ainda quero dominar alguns programas que não domino. Em relação aos textos, como já disse, eles podem começar tanto no papel quanto direto no computador. Mas acredito que temos que ter o livro em diferentes suportes: livro impresso, app, audiolivro, e-book. O conteúdo é o mesmo, só estará sendo oferecido em diferentes plataformas. Vivi uma experiência muito bacana de ter tido um dos meus livros em todos os suportes. A menina e o golfinho tinha livro impresso, app para Android e iOS, e-book, audiolivro e plataforma virtual para interação com escolas e estudantes de português espalhados pelo mundo. Em 2015, chegamos a desenvolver um projeto com o Colégio Bandeirantes (São Paulo), em parceria com o Projeto Jurujuba (Niterói), e com crianças e jovens que falam português, mas moravam em outros países. Chegamos a ter um filme coletivo, com a moçada conectada e criando soluções para driblar fuso horário e acesso ruins à internet da turma de Jurujuba. Foi bárbaro! Pena que a editora fechou e, com isso, a comunidade virtual acabou. Atualmente o livro está disponível na Nuvem de Livros e no Ubook. O app só roda em aparelhos mais antigos, porque acabou não tendo mais atualizações e os exemplares do livro impresso que ainda restam só podem ser comprados comigo ou com algum distribuidor que ainda tenha algum exemplar. Adoraria não estar em algumas redes sociais, pois elas acabam consumindo muito tempo, mas quer a gente queira ou não, as redes sociais são uma forma de divulgação do nosso trabalho e isso é importante. E eu mesma administro minhas redes sociais e meu site, que foi desenvolvido por uma empresa sensacional chamada Saber Digital.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias podem vir de diferentes lugares. De fatos cotidianos, de uma frase que escuto, do observar as crianças e os jovens, de observar a vida, na verdade. Mas também podem vir de temas que me são caros e quero falar, aí vou procurar uma história para aquele tema. Muitas vezes recebo uma proposta de uma editora para escrever sobre algum assunto específico. Para aceitar este tipo de encomenda, preciso ter o que dizer sobre o assunto em pauta, preciso querer falar sobre o assunto, preciso acreditar! Muitos livros nasceram de encontros com leitores, por exemplo, a partir de algo que vivi ou ouvi. O livro que sai ainda neste ano pela Editora Panda Books nasceu de uma fala de um menino de nove anos que me disse que tinha alguns medos e um deles era do escuro que morava dentro do escuro. Na hora parei de falar, e anotei essa pérola no meu caderninho. Sim, também tenho caderninho de anotações. O menino então me perguntou se era assim que nasciam as histórias e eu disse que, sim, que essa era uma das possibilidades. Acabou virando título do livro: O escuro que mora dentro do escuro. Claro que dediquei a livro para o menino e já estamos à procura dele na rede municipal de Porto Alegre, onde o encontro aconteceu, em 2014. Enfim, são muitas histórias sobre como nasceu cada um dos meus livros. O Em algum lugar do mundo eu escrevi para contar que as crianças também têm seus silêncios interiores, seus sonhos e desejos e nem todo adulto entende, sabe ou respeita isso. Mas para me manter criativa, faço o que sempre fiz, mantenho em mim a capacidade criativa que tinha quando criança ao brincar, leio muito, assisto filmes, vou a exposições, enfim, consumo arte. Quanto mais bagagem temos, maior a profundidade do que podemos criar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ah! Que pergunta boa! Aliás, que perguntas boas você criou para esse seu projeto de entrevistas. Nunca ninguém tinha me feito esta pergunta. Eu diria para mim: “parabéns por não ter desistido, por não se deixar levar pelo que é fácil, pelo que está na moda. Parabéns por ter se mantido íntegra ao que pensa, sente e escreve, mesmo tendo sido tão atacada”. Porque quando a gente escreve sobre determinados temas antes do tempo que ele explode no mercado editorial, a gente é bem atacada. No final dos anos 1990, eu já escrevia sobre diferentes famílias, sobre homossexualidade, sobre separações e diferentes casais, sobre uma série de temas que agora um monte de gente está escrevendo. Sempre falei sobre temas da vida, sobre a busca de você se conhecer, se entender no mundo, sobre a vida e suas nuances, suas alegrias e dissabores. Muitos livros foram barrados nas escolas por serem “polêmicos”, mas a vida é polêmica, é paradoxal, cheia de reveses. Temos que falar sobre tudo com as crianças e os jovens. Crianças não têm problemas com histórias tristes, quem costuma ter são os adultos, porque muitas vezes não sabem como lidar com temas mais delicados da vida. Quanto mais falamos, mais prevenimos e preparamos as crianças e jovens para os reveses da vida, porque quer os pais queiram ou não, os filhos vão crescer e precisar tomar atitudes sozinhos. Nós não crescemos? Não saímos de casa? Não fizemos escolhas? Os filhos também farão. E se estiverem amis bem preparados, muito melhor, não é mesmo? Se já tiver lido histórias que falam sobre morte, vão, pouco a pouco, aprendendo a lidar com a morte de forma menos sofrida. Então, penso que a diferença da Anna de 1992, ano que lancei meu primeiro para a Anna de hoje, 2018, é que estou mais serena diante da vida. Mas continuo seguindo o conselho que Ana Maria Machado me deu no lançamento do meu primeiro livro, quando fui buscar o texto de quarta capa que ela havia me dado de presente. Na ocasião, Ana disse que eu tinha escolhido um caminho difícil, porque não tinha contado uma aventura pela aventura, mas falava de uma busca interior, e isso era para poucos, mas que se esse era meu caminho, se era minha expressão no mundo, que seguisse, por mais difícil que fosse. Assim fiz! Já me angustiei demais, hoje estou bem mais calma, mais em paz comigo mesma, e com o tempo da vida. Sabe, aprendi que mesmo que a gente não peça, o tempo nos dá respostas em relação ao que construímos e plantamos. Pode parecer piegas, mas é bem isso, vamos colher o que plantamos, mas temos que plantar sempre, tipo aquele papo, hora do plantio, hora da colheita e assim sucessivamente. Boa parte do que penso e acredito em relação a muita coisa que você me perguntou pode ser encontrada nas reflexões feitas em meu livro Nos bastidores do imaginário: criação e Literatura Infantil e Juvenil, fruto do meu mestrado, finalizado em 2005.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São dois. O primeiro é um projeto chamado A criação literária e a ligação com o divino, um possível tema para o doutorado que talvez eu faça, ou talvez escreva sem doutorado mesmo, ou talvez nem escreva, fique apenas pesquisando sobre o assunto, vamos ver. Por enquanto estou lendo e estudando possíveis caminhos para abordar o assunto. O segundo é dar continuidade ao projeto que lancei em parceria com a cantora e compositora Liza K, chamado VerSons, que mistura trechos do meu romance De onde vêm essas vozes? com as músicas autorais da Liza K. É um projeto que faz as duas artes dialogarem. Atualmente o projeto está disponível no Ubook, já apresentamos no LER e na FLIP, vamos fazer na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro, mas queremos viajar por vários lugares apresentando e conversando com os expectadores sobre os possíveis diálogos entre textos e músicas. E já estamos pensando também em fazer um VerSons para crianças. Agora, você me pergunta que livro eu gostaria de ler que ainda não existe, mas eu diria que nem vai existir, porque seria a história de Jesus contada por ele mesmo e não por quem conviveu com ele. Um livro contando tudo, tipo um diário de bordo da vida dele narrado em primeira pessoa.