Angelo Adriano Faria de Assis é professor do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não sigo rotinas. Tudo depende dos compromissos do dia, do humor e inspiração. Mas gosto, sempre que possível, de me informar pela manhã a partir de mídias variadas. Depois, dedicar certo tempo à leitura.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever no período da noite, quando encontro mais silêncio e já resolvi a maior parte das tarefas do dia. Mas depende da inspiração. Mais do que o relógio, é ela que comanda o meu tempo de escrita. Quando vem a inspiração, procuro sentar para escrever, antes que a ideia se perca.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Se a escrita diz respeito a trabalho com prazo de entrega, procuro seguir uma rotina de escrita, dedicando algumas horas por dia à tessitura do texto. Mas nem sempre a inspiração ocorre na hora em que estamos dedicados à escrita. Já passei dias sem escrever uma linha sequer, e depois acordado durante a madrugada, quando as ideias chegavam, debruçado sobre o computador para não perder o rumo. Não costumo seguir metas, como número de páginas. Antes, minha meta é me sentir satisfeito com o avanço da escrita no dia, seja de uma linha ou várias páginas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Procuro criar uma história que tenha começo, meio e fim (não obrigatoriamente nesta ordem) em minha cabeça. O mais difícil, para mim, é saber como começar a escrita. A primeira frase, a primeira ideia a colocar no papel. Depois que o início ganha forma, todo o resto ganha sentido e parece ganhar vida. Gosto de escrever com os livros que vou usar como referência por perto, todos em cima da mesa, para que eu possa folhear, buscar citações, debater e discutir teorias com as quais concordo ou me oponho. É uma certa necessidade de materialização das ideias e dos diálogos com os autores, tornando a escrita menos solitária e mais envolvente, participativa, complementar…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Aprendemos a conviver com travas e prazos. É preciso, ao mesmo tempo, entender que o texto precisa de uma certa maturidade para nascer, que não adianta forçar uma ideia se ela ainda não está formada, primeiro, em sua própria cabeça. Sobre as críticas, expectativas e ansiedades, não há muita possibilidade de controle. Mas acho que toda crítica é bem-vinda, desde que respeitosa. Se parte para a picuinha, para a mediocridade da crítica maldosa, sem objetivo de crescimento, simplesmente deixo de observar e procuro não me afetar com isto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sempre releio os meus textos algumas vezes antes de publicar, procurando erros, palavras repetidas ou mal aplicadas, ideias pouco claras. Por vezes, peço a colegas que leiam. Mas, normalmente, sou meu maior crítico, e procuro seguir o bom senso, ao invés dos conselhos pouco proveitosos da vaidade.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de escrever no computador. Raramente escrevo algo à mão. Penso que a escrita via tecnologia, para mim, é mais rápida e proveitosa. Depois, costumo imprimir para ler o texto com mais atenção e fazer as correções necessárias. Um pé no futuro, outro, no passado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como historiador, acho que as ideias surgem das leituras feitas, de livros e documentos, mas também das referências do cotidiano, dos interesses pessoais e particulares. Para mim, a criatividade é fruto do esforço e dedicação ao tema que estou desenvolvendo. As ideias não surgem do nada, mas antes de uma percepção cada vez mais aguçada do mundo em que você está mergulhado. Criatividade, então, para mim, é fruto do esforço e dedicação, com um pouco de inspiração e curiosidade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Com o tempo e a maturidade, acho que as verdades do passado ficam menos “verdadeiras”. Muitas das afirmações que fiz, já não faria, e hoje não passariam, na melhor das hipóteses, de suposições não muito seguras. Acho que aprendi a dividir mais, a ter menos certezas – essa, talvez, uma das fórmulas, também, da busca da criatividade – a perceber que as verdades não são tão absolutas quanto eu pensaria há alguns anos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de desenvolver muitos projetos diferentes, alguns dos quais ainda nem sei quais são. Mas, independente dos temas abordados, gostaria que, entre seus resultados, ajudassem a criar um mundo mais crítico, a fazer as pessoas aceitarem mais as diferenças e percebessem a riqueza cultural do mundo. Saber ler e respeitar o outro é a melhor forma de acabar com preconceitos e criar um mundo mais justo. E gostaria de ler um livro que me ensinasse a fazer isso. Mas talvez este livro esteja escrito em outro formato, sem palavras. O que é preciso é sentir e entender…