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Como escreve Angélica Silva

19 de agosto de 2019 by José Nunes

Angélica Silva é escritora, estudante de psicologia na Faculdade Guairacá.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Eu acordo para ir trabalhar, geralmente tomo um banho, café e escovo os dentes. Vou para o trabalho.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Não, a inspiração sempre vem de fatos cotidianos, de observações sobre vidas e o mundo.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Não. Alguns meses atrás tinha deixado a escrita de lado, mas por via de um grupo de escritores me senti muito incentivada em usar minhas inspirações, agora tenho escrito com frequência, quase todos os dias.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Começar sempre é o mais fácil, na verdade depende do que está escrevendo, quando se trata de poemas e poesias, a inspiração e o desenvolvimento vem muito rápido, a construção de ideias se harmonizam, onde encontro mais dificuldade é na conclusão dessas ideias, onde muitas vezes não consigo encontrar algo coerente para fechar. No caso de planejamento de livro, é muito mais complexo, porque não depende somente de uma inspiração, construção e coerência, no livro precisa de muito mais, precisa de conhecimento, você precisa conhecer profundamente daquela ideia da qual está desenvolvendo, portanto é um trabalho complexo.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Creio que respondo muito bem, eu apenas tenho um pouco de vergonha em expor as minhas ideias e escritas, porém é algo que estou descontruindo conforme vou mergulhando no mundo da escrita. Agora ansiedade ou procrastinação eu não sinto, pode ser algo onde eu tropece, pois se tentar atropelar as coisas, geralmente elas saem dos eixos, tem que ter paciência, buscar conhecimento, aprender a desenvolver as habilidades da escrita, creio que nenhum escritor nasce pronto, mas ele se molda de acordo com as suas inspirações.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Várias e várias vezes, dificilmente público em algum lugar, pois não vivo muito no mundo das redes sociais, eu tenho um blog onde raramente público algo, por uma insegurança pessoal em achar que pode ter erros grotescos.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

No computador, as vezes no celular quando surge uma inspiração imediata, mas também não deixo de lado o nosso bom e velho caderno.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

O hábito que funciona comigo, é dar voz as minhas profundas ideias, muitas vezes acho bobas e inúteis, mas ao entrelaçar todas elas eu vejo um grande sentido naquilo que eu penso, este pensar vem de observações, eu sou uma mulher muito observadora, curiosa, onde tento descobrir sobre tudo, mesmo sabendo que não há um sentido sobre tudo, sinto que escrever sobre estas relações me deixa mais próxima do que pode ser esse sentido.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Voltaria meu olhar para as oportunidades, quando era mais jovem não costumava dar importância em ler e estudar, hoje percebo a bagagem que essas duas coisas trazem, principalmente dentro da escrita.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Em contato com fatos cotidianos e a experiência que estou vivendo dentro da psicologia, existe um assunto do qual eu gostaria de falar, que é um contexto histórico de o porquê que muitas mulheres permanecem dentro de relações de abusos e agressões, a psicologia me trouxe um olhar profundo sobre as questões, não gostaria de usar sensos comuns para abordar uma questão delicada que tantas mulheres vivem e são incompreendidas, por muitas vezes são até culpadas pelas atrocidades que passaram ou passam, uso como referência o estilo que Foucault usava em sua escrita, abordando as questões históricas, as raízes, eu gostaria muito de fazer um trabalho voltado à isso.

* Entrevista publicada originalmente em 19 de agosto de 2019, no comoeuescrevo.com (@comoeuescrevo).

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@comoeuescrevo) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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