Andres del Rio Roldan é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral, acordamos, tomamos o café da manha, exercício na praia, e só depois começa meu dia de trabalho. Primeiro respondo e-mails e leio notícias, e só depois começo com a escrita.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Antes eu trabalhava à noite. Hoje, prefiro cedo e em geral faço um cronograma. A partir da data limite, estabeleço um cronograma de escrita. Eu tento cumprir, mas a realidade do dia a dia tenta me dissuadir.
O meu ritual: é meu café (de manhã) ou chimarrão (à tarde), e colocar todo o material básico na mesa que preciso para me focalizar. Quando estou já na escrita, coloco um som, como Yann Tiersen ou Tango.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu faço cronogramas, estabeleço datas limite. Não gosto de demorar na entrega. Então o cronograma me permite ordenar todas as atividades, não descumprir compromissos.
A escrita é uma consequência da pesquisa realizada, em geral. Então, no momento de escrever, eu já tenho muitas notas, tabelas, etc. Eu vou escrevendo sempre, sem pressão.
Quando tenho um prazo para capítulo ou artigo, tento aumentar as horas de escrita e baixar as horas de outros compromissos ou atividades. Quando começo, me concentro e vou para frente. Não tenho a disciplina num nível kantiano, mas tento ter uma disciplina honesta.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Durante a pesquisa eu escrevo notas, ideias, nortes. Faço fichamento obrigatoriamente. Trabalho muito com documentos oficiais, legislação nacional e internacional, jornais e revistas, e sentenças nacionais e do sistema internacional. Escrever é uma consequência da pesquisa. É harmonizar teoria e metodologia do texto e sistematizar os dados obtidos. Eu começo a partir de poucos textos, enfim, pela construção de uma coluna, um pilar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu acho o conhecimento coletivo. E não acredito nos imprescindíveis. Acredito, sim, na soma de todos. Pelo tanto, fracasso ou êxito é muito relativo. É uma soma. É um aprendizado. Não sou de expectativas, sou de perspectiva. Consultar e debater com os colegas e amigos é essencial para mim. Você se alimenta constantemente disso, de uma ida e volta.
Travas na escrita às vezes são por falta de conteúdo ou por excesso dele. Colocar em ordem as ideias e estabelecer um norte é fundamental para a escrita.
Não vejo a procrastinação como um problema. Às vezes o cansaço pelas outras atividades docentes nos faz ir adiando a escrita. Mas é um processo natural. Eu, por exemplo, nos períodos que estou submergido na escrita com prazo estabelecido, preciso muito relaxar e descansar durante o processo, sair do texto. E a música é o lugar onde consigo isso de forma plena.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso várias vezes, durante todo o trabalho, nas diferentes fases. Nunca é suficiente, como qualquer obsessivo falaria. Em geral, entrego o texto a duas ou três colegas, e até que elas me retornem com os comentários, eu fico distante do texto. Já com os comentários na mão, faço as últimas revisões. Compreendo a escrita como um artesão, aos poucos, de forma constante e em diferentes camadas que vão fortalecendo o texto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu trabalho com o computador. Minha letra é similar a uns hieróglifos, portanto, quanto mais o tempo passa, menos compreendo o que escrevi. Enfim, minha letra tem uma inclinação à medicina.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu acho que a diversidade nos faz aumentar a visão, quebra nossa área de conforto. Não ficar preso em uma compreensão ou um entendimento. A arte em geral nos outorga essa possibilidade. No meu caso, a música é um lugar que me tira do âmbito acadêmico, e me coloca outros desafios. Compondo todas as semanas, isso me faz praticar. Tento ler, na medida das possibilidades, literatura. Assisto massivamente filmes e documentários, de diferentes países. Ou seja, sair do âmbito e da área do conhecimento própria é fundamental para mim. Estudar outras línguas ajuda. E, claro, é a leitura constante do tema específico que nos dá a densidade necessária para poder observar, pensar e articular novas ideias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Antes a ansiedade e a falta de prática eram os piores conselheiros. Tentava fazer tudo ao mesmo tempo. Aos poucos você vai conseguindo segurança. Eu falei segurança, não certezas. Hoje curto a escrita, o processo.
O processo da escrita da tese foi muito disciplinado. Pensando hoje, eu teria escrito mais calmo, menos pressionado, sofrendo menos da solidão da escrita. Talvez menos adjetivos, menos grandiloquência. Curtir mais o processo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Olha, somos diferentes em cada momento da vida. Com as diferentes fases, nossos gostos e sonhos também mudam. Hoje gostaria de escrever um livro sobre a memória, o tempo e a justiça, desde uma perspectiva filosófica. Nesse desafio estamos.
Acho que todo livro não lido é um livro que para você não existe, porque nunca entramos nesse mundo. Acho que começar um novo autor é começar uma nova existência. O livro que tenho para ler é Zama, de Antonio di Benedetto. Nunca li nada dele. E ele já está na minha mesa pronto para ser aberto.