Andréia Janecek é beletrista pela Universidade de São Paulo.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Logo ao acordar, café preto em mãos, começo ou continuo alguma leitura.
Não tenho o hábito de escrever pela manhã. Prefiro usar este horário do dia para organizar as coisas e absorver conteúdo – que, claro, pode me ser uma fonte de inspiração para mais tarde – em vez de produzir algo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em geral, prefiro fazer todos os meus trabalhos, como produção de vídeos, pela tarde.
Mas a escrita, especificamente, é algo que me é muito mais fácil de acontecer à noite.
A noite me traz uma inspiração muito forte e, o que eu levaria horas se decidisse escrever durante o dia, flui tão bem nesse período que, em pouco tempo, tenho um conto pronto, por exemplo.
O meu ritual é muito simples, mas funciona bem demais: coloco uma música, de preferência trilha sonora de algum filme, e me sento em frente ao computador para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Minha única meta é escrever algo – qualquer coisa – todos os dias. Pode ser uma reflexão, um conto ou até mesmo uma postagem para o instagram. Fico feliz até em escrever um único parágrafo do meu livro ou uma simples frase que, futuramente, pode virar uma história.
Entendo que há dias em que eu esteja mais ou menos inspirada e respeito isso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depois de ter as principais ideias anotadas, escolho uma música, fecho os olhos e começo a imaginar a história na minha cabeça como um filme. Até por isso, talvez, eu sempre escolha ouvir trilhas sonoras de filmes: me ajudam demais a visualizar o enredo.
Vou, então, escrevendo tudo aquilo que me veio à mente. Nesse primeiro momento, não me preocupo com gramática, com a beleza da escrita. Não me preocupo nem se estou, de fato, usando as notas iniciais ou não.
E só depois desse processo, que vem muito da inspiração do momento, releio o que foi escrito, faço as correções, deleto trechos, incluo frases…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Puxa, eu sou muito tranquila em relação às travas e bloqueios da escrita. Tento respeitar ao máximo o meu tempo e, caso não seja um texto que eu realmente tenha um prazo para entregar, procuro não me forçar demais a escrever.
Claro, por vezes é necessário dar aquele empurrãozinho para a escrita fluir melhor. Nesses casos, sempre acho legal criar algum ritual de escrita. Como eu disse anteriormente, para mim, o que funciona muito bem é algo bem simples: colocar a trilha sonora de um filme e “viajar”. As ideias surgem, e a vontade de escrever volta!
Não sou uma pessoa ansiosa, portanto projetos longos e que podem demorar até se concretizar, como é o caso do livro que estou escrevendo junto com a minha mãe, são apenas fontes de prazer e alegria. Não me sinto sob pressão ou querendo logo chegar ao resultado final. Acho que consigo curtir o processo.
E, por fim, o medo de não corresponder às expectativas é algo de que consigo fugir graças ao incentivo dos meus pais e marido. Sempre mostro meus textos a eles, escuto suas opiniões e me sinto bem e segura escrevendo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
No caso de textos curtos como contos, reviso uma ou duas vezes. Amo, nessas revisões, usar um dicionário de sinônimos para ir substituindo algumas palavras e expressões por outras que caiam melhor no texto.
E sempre gosto de mostrar os contos para meus pais e marido antes de publicá-los. A opinião deles me deixa confiante em publicar o que escrevi.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Costumo usar o caderno apenas para notas e ideias gerais sobre uma história. Na hora de escrever o texto de fato, sempre acho mais prático no computador. Ali tenho acesso ao dicionário, músicas, enfim, coisas que me ajudam na hora da escrita.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do cotidiano, dos detalhes, dos momentos simples.
Aquela manhã preguiçosa de domingo em que acordamos sem pressa e tomamos um café no jardim, um almoço em família regado a risadas e conversas acaloradas, o aconchego de uma tarde chuvosa que passamos reassistindo àquele filme que amamos…tudo isso me serve de inspiração.
São hábitos que fazem parte do meu dia a dia e que me ajudam a manter a criatividade fluindo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que o que mais mudou foi que, há alguns anos, eu me forçava a criar histórias com um conflito bem marcante, clímax e desfecho. Achava que deveria sempre incluir esses elementos no meu texto, por mais que sentisse que a escrita não fluía tão bem quando o fazia.
Ao perceber que meu estilo de escrita não era esse e que diversas vezes as minhas histórias não têm essa estrutura bem demarcada, senti que escrever se tornou algo muito mais fácil e prazeroso para mim.
Provavelmente daria essa dica à minha “eu” do passado: “siga a sua intuição e não as regras”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Puxa, eu amo projetos! E estou num momento em que me sinto radiante, pois todos os projetos em que pensei nos últimos tempos estão tomando forma: desde escrever um livro junto da minha mãe, começar um podcast, produzir book trailers…
Mas, por enquanto (e isso provavelmente não irá durar muito tempo) não tenho nenhum outro projeto em mente!
Sobre um livro que eu gostaria de ler, mas ainda não existe: todos os futuros livros da minha autora preferida, Elena Ferrante!