Andreas W. Daniel (David Cesario) é cosplayer, graduando em direito pela Faculdade de Diadema.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu costumo levantar, e ir até o PC que muitas das vezes fica ligado, pois eu durmo assistindo Doctor Who ou alguma outra série.
Minha rotina matinal é escovar os dentes e sentar na frente do computador a procura de alguma novidade, seja ela no youtube, no facebook ou coisas do tipo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Bem, arrisco dizer que trabalho melhor a noite, devido ao silêncio na vizinhança.
Ritual para escrita? Bem, eu geralmente só abro o word, ligo alguma música (de preferência internacional) e vou escrevendo alguma ideia que me vier a mente, caso ela seja boa, se mantem para a revisão, caso contrário é descartado.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu costumo escrever todos os dias (nem sempre consigo essa proeza), mas se não estou em casa digitando alguma coisa nas páginas do Word, eu estou na faculdade com um caderninho anotando algumas situações que eu imagino cair bem no livro, depois é só encaixar e ir fazendo as alterações que eu considere necessárias, na transcrição de papel para digital.
Sobre meta diária, eu não possuo nenhuma, pois eu acredito não ter inspiração o suficiente para isso, e estaria me forçando a escrever qualquer coisa aleatória só para poder bater a meta (o que ocasiona em retrabalho coisa que eu nunca fui muito fã de fazer).
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita ultimamente tem sido o descarrego.
Vou jogando nas páginas o que me vier a mente, e em um momento que eu sentir que empaquei eu passo o pente fino, por assim dizer e vejo o que sai, as vezes até eu me surpreendo com as cenas que faço, mas por conta de demorar um pouco demais para escrever acabo retrabalhando muita coisa, e retirando muitas ideias, como recentemente, eu retirei 6 páginas do livro, removendo parágrafos inteiros sobre uma personagem da qual eu não estava sentindo muita química, devido ao excesso de informações na história.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Certo, como diria Jack o estripador, iremos por partes:
As travas de escrita são um problema recorrente na minha “jornada de letras” por assim dizer, eu leio, releio e fico agoniado por sentir que aquele pedaço em específico não está batendo, e isso me dá uma gastura que você nem faz ideia.
Já sobre procrastinação, eu admito que procuro motivos para ficar parado quando estou em casa, pois absolutamente tudo me incomoda e eu sinto a necessidade absurda de deixar tudo nos conformes para poder sentar e escrever em paz, como se fosse uma sessão de terapia, então se o quarto está muito bagunçado, está tocando música alta e ruim na casa do vizinho, o celular não para de vibrar ou coisa do tipo, já é motivo para eu acabar largando tudo e indo buscar inspiração em algum alternativo para ver se o tédio passa. (vídeo games, animes, livros).
Sobre o medo, eu sentia isso antes de lançar meu primeiro livro, e as vezes sinto que a continuação talvez não atenda as expectativas, ou fique problemática, fique muito repetitiva e tudo mais, mas sempre posso contar com o feedback sincero de muitos dos meus leitores (sim, todos os 5 me ajudam kkkk), mas piadas a parte, quando isso acontece eu costumo pedir a opinião de algum leitor da série ou algum amigo de confiança, e com base no que eles acharam eu sigo. (pode parecer que estou querendo inflar o ego, mas não, eu odeio isso).
E por fim, a ansiedade: eu não ligo de trabalhar em projetos longos, para ser bem sincero eu me dou melhor com projetos de mais de 100 páginas do que com projetos curtos como contos e outras coisas, sei lá, eu fico com medo de não conseguir preencher todos os pontos que gostaria nas poucas páginas, pode-se dizer que eu não sou nada econômico quando se trata de escrever. (em compensação, na hora de revisar eu sou pior que o Julius quando se trata de dinheiro).
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei dizer exatamente, mas eu gosto de ver e rever até sentir que tudo está nos conformes, e pode-se dizer que muitas das vezes, isso acaba atrasando um pouco as coisas, por exemplo:
Até chegar ao meu atual resultado de publicação, eu arrisco dizer que reescrevi o original do livro pelo menos umas 30 vezes, por diversos motivos (perda de arquivo, em 29 delas) e isso mudou e muito o resultado final do primeiro rascunho em papel que eu fiz do livro quando tinha por volta de 13 anos de idade, hoje aos 22 anos, eu consegui não só finalizar da maneira que gostaria, como também lançar o livro por uma editora independente e tudo mais.
Outra coisa também, é que as vezes de tanto revisar eu acabo tirando ou colocando personagens, e criando novos nomes aqui e ali, por exemplo, os nomes do primeiro manuscrito em papel do meu livro eram Adam, Jill e Dante, depois o casal principal passou a se chamar Adam e Ailyn (por conta dos vocalistas Adam Gontier e Ailyn Giménez) e o Dante, passou a se chamar Logan, nome que se mantem no personagem até hoje, e então um belo dia, estou eu lá jogando Metal Gear Solid 2, quando paro e penso: “O livro já tem 6 personagens cujo o nome começa com A (Adam, Ailyn, Asmodeus, Abaddon, Alex e Alissa) acho melhor eu mudar isso” e dito e feito, por conta do casal do jogo, que por sua vez se inspirou em Titanic (meu filme favorito, diga-se de passagem) eu os batizei de Jack e Rose, e particularmente, eu prefiro assim.
Só um adentro: o personagem Corey, antigamente não tinha nome e apenas era citado no primeiro manuscrito, então com a transcrição do material para o digital, ele passou a se chamar Jake e o nome se manteve até ocorrer a mudança do casal principal, quando passou a se chamar Corey (Por conta do Corey Taylor) já a Alissa, seu visual e nome vem da cantora Alissa White.
E sim, eu mostro bastante para alguns amigos, mostro algumas demos aqui e ali, mas o material completo ficará a cargo de alguns leitores beta e principalmente do meu revisor (quando eu lembrar de pagar o coitado), caso contrário toda e qualquer informação fica guardada a 7 chaves, até eu sentir a necessidade de divulgar o material (hoje no caso, vou divulgar o material do segundo quando tiver certeza de que o original está fazendo jus ao original do primeiro, o que me conhecendo, pode levar alguns aninhos ainda). Contanto que saia, não me importaria de demorar um pouco.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O meu primeiro rascunho de todos, foi feito a mão, em uma madrugada de tédio, hoje com o segundo manuscrito eu escrevo no computador e antigamente no celular, mas quando estou por exemplo na sala de aula da Faculdade, eu costumo escrever em um caderninho, ouvindo música no fone de ouvido, particularmente eu prefiro trabalhar em uma biblioteca ou na sala de aula, pois as distrações e os desconfortos são menores e eu consigo de fato fazer alguma coisa que exija muito menos dias de retrabalho, por exaustão mental.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As minhas principais influências vêm de lugares como quadrinhos, filmes, livros e principalmente vídeo games, tento buscar como inspiração grandes nomes como Neil Gaiman, Alan Moore, Frank Muller, Hideo Kojima, J. R Ward e até mesmo do escritor fictício Alan Wake, e atualmente tenho tirado como inspiração alguns amigos e autores nacionais como Gabriela Flumignan e Diego Calvo.
Os únicos hábitos que cultivo quando se trata de escrever é deixar todo o ambiente ao meu redor o mais confortável possível, sem muita bagunça ou distração visual, o que acaba me incomodando e muito as vezes.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acredito que minha escrita com o passar dos anos foi se tornando algo mais maduro e profissional, e não apenas rascunhos feitos por um garoto amalucado, antes eu protegia demais alguns personagens e não dava espaço para eles se desenvolverem, e ao longo desses 9 anos de escrita, eu fui aprendendo que não é errado você se inspirar em algo que você gosta, com medo de acharem que você está copiando tal mídia ou tal obra, seja ela de onde for.
E que quanto mais enriquecida for a sua escrita, melhor, não precisa fazer algo exageradamente detalhado ou até mesmo correr o risco de fazer algo pobre de detalhes como a maioria dos meus trabalhos era, e principalmente, não se deve ficar muito tempo afastado da obra, pois isso só dificultará o andamento do trabalho e quando sair, você vai olhar para aquilo e pensar: Mas que porcaria eu fiz aqui? E vão ter sido horas jogadas fora.
E se eu pudesse voltar a encontrar aquele garoto que se arriscou a escrever, porque tinha uma história feita em um RPG de MSN, e que meteu as caras por causa de um jogo de vídeo game (Alan Wake para Xbox 360) eu diria: Cara… Faça backups, e por mais que demore ou pareça que está sendo um inferno, continue a trabalhar nessa obra, que uma hora sai, não tenha receio de por algo ou de se inspirar em algum lugar, a obra é sua e você pode moldá-la ao seu gosto.
Tire da cabeça que em algum lugar vai ter alguém falando que não tem nada a ver, que isso não é assim, e que é de outro jeito, ou que vão dizer que você não entende nada e por ai vai, ah é, e seja menos pervertido na hora de escrever algumas coisas, pois fica infantil e fora de hora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de fazer um projeto crossover com uma amiga de infância, além de fazer os livros seguintes da minha saga principal (que ainda estou tendo dificuldades para decidir se serão 3 ou 4 livros, vai depender do tanto de informação que eu estou disposto a colocar).
E um livro que eu gostaria de ler? Olha, tem tantos, mas eu ficaria com algumas continuações de livros de amigos, e quem sabe, algumas adaptações de filmes e jogos para livros, como por exemplo a franquia Devil May Cry (que eu acredito que daria uma excelente saga de livros de ação) e quem sabe por que não, transcrever o clássico Titanic para o mundo dos livros? Seria fantástico ver o casal Jack e Rose que inspiraram-me a criar o casal do meu livro.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Quando decido iniciar um novo projeto, é quando tenho um pequeno surto de criatividade, então jogo toda a ideia em um bloco de notas e o deixo lá, é difícil para mim, desenvolver um novo projeto enquanto outro está em andamento, então posso dizer que eu demoro e muito para criar projetos novos, mas quando os crio, eu deixo fluir livremente e caso tome outro rumo no meio do caminho, eu respeito e deixo seguir.
É mais difícil para mim, desenvolver as primeiras frases, pois sempre fico pensando se aquilo está ou não bom, e quando vou ver, o projeto acaba empacando e sendo jogado fora, pois a inspiração momentânea acabou.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu geralmente me sento, e vou desenvolvendo as ideias aos poucos, coloco uma música aleatória no youtube, e deixo as ideias virem, geralmente para o meu projeto principal.
Eu prefiro ter apenas um projeto, pois assim posso me dedicar completamente a ele, mesmo que eu tenha várias ideias que sirvam para mais de um projeto, gosto de focar em apenas um de cada vez, para que eu não fique empacando ou acabe escrevendo qualquer coisa, o que acarreta em mais retrabalho e atraso nas histórias, e na maioria das vezes, descarte.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
O que me motiva a ser escritor, é a vontade que sempre tive de fazer arte, desde pequeno sempre fui uma pessoa inspirada, gostava de coreografar as brincadeiras e até mesmo roteirizar, mas nunca conseguia dar continuidade ao que fazia, isso quando conseguia alguém que entrasse nessa comigo, o que era quase sempre impossível.
Eu não me lembro a data exata, mas me lembro da época, eu tinha por volta de 13 anos, namorava virtualmente uma moça de Santa Catarina, e sempre criávamos histórias de interpretação como em um RPG de rede social, via texto, era bem divertido, e um belo dia, eu tive a ideia de criar uma pequena história, onde a parceira do protagonista, seria na verdade um anjo, em contra parte ele era um demônio, e seriam forçados a se casar para que houvesse uma aliança entre o céu e o inferno, porém no dia seguinte a história tomou outro rumo e virou um clássico Romeu e Julieta com essa temática, porém a história, como sempre não foi para frente, mas algo naquela história me chamava muito a atenção, e eu não descansaria enquanto não a concluísse.
Foi então que, em uma madrugada, eu estava entediado assistindo algum seriado na televisão no SBT, eu apanhei um caderno e comecei a escrever nas folhas algumas coisas, primeiro dando um porque resumido daquele universo, antes de cair finalmente para a vida dos personagens, e seus problemas familiares, e desde então não parei mais, foram longos 8 anos entre reescritas e perdas de documentos, até finalmente chegar ao resultado final, e em uma ideia brilhante, eu peguei meu cartão de crédito, mesmo estando desempregado e encomendei as primeiras 10 cópias do meu primeiro livro.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
A dificuldade que eu encontrava era de me organizar e aceitar que eu poderia tirar ideias de outros lugares, e não simplesmente puxar algo do nada toda vez, além da procrastinação e o fato de eu me distrair com muita facilidade dentro de casa, eu tinha um estilo maçante e tedioso de escrever, e então, um belo dia rascunhando a história de um vampiro mafioso, eu dei os primeiros passos para desenvolver melhor o que hoje é o meu estilo de escrita.
De longe as minhas maiores influências como escritor, partiram primeiro, da autora J. R. Ward com a franquia irmandade da adaga negra, e mais para frente, eu passei a complementar o meu estilo de narrativa, com a obra Clube da Luta do autor Chuck Palahniuk, além de diálogos e um pouco da narrativa das HQ’s Sin City, escrita por Frank Muller.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Amante Sombrio – J. R. Ward: – Gosto da narrativa, das cenas de ação e principalmente da interação dos irmãos entre si, cada um com uma personalidade distinta, e um gosto específico para companheiras (ou companheiros, no caso de alguns deles).
Vicarius – Diego Calvo: – A narrativa é bem tranquila de acompanhar, e os diferentes pontos de vista que se complementam é uma boa jogada do autor, além das cenas mais fortes e da forma com que você consegue sentir como cada personagem, cada um deles, te passa um sentimento único.
Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban – J. K. Rowling: – As aventuras magnificas e o humor sutil do livro, complementado pelo ar sombrio e às vezes até adulto, que acompanham as páginas da aventura, tornam tudo bem divertido, admito que me tornei fã do bruxinho a pouco mais de 2 anos, e me arrependo apenas de não ter dado uma chance aos livros antes, são fantásticos. (Os filmes eu particularmente nunca gostei, e depois de ler os livros, passei a detestá-los ainda mais)