Andréa Freitas é professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia respondendo e-mails. Procuro separar o que é mais urgente, menos e o que não é possível responder rapidamente. Após a resposta dos e-mails e encaminhamentos que surjam com eles, procuro resolver as questões mais burocráticas pela manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor pela manhã e pela tarde, não gosto de trabalhar depois das 20h. Não tenho propriamente um ritual, mas quando estou escrevendo gosto de ter à mão os artigos ou livros que estou utilizando para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Infelizmente as outras obrigações com a universidade não permitem que eu escreva todos os dias. Sempre que posso escrevo, mas reservo um dia por semana só para trabalhar com pesquisa, isto envolve ler, escrever, trabalhar os dados. Não trabalho com metas de páginas, mas com ideias, não gosto de interromper no meio uma ideia, então procuro começar e terminar o que estiver desenvolvendo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho certa dificuldade com a escrita, em geral é difícil começar. Mas quando escrevo faço várias tentativas de entrada, sempre escrevendo no computador. Às vezes saio da frente do computador e fico elaborando mentalmente a ordem em que o argumento vai ser construído. Se isto é insuficiente, volto aos livros e artigos que estão servindo de base para o que estou escrevendo. Às vezes leio centenas de vezes o mesmo parágrafo do texto do autor com o qual estou discutindo. Até que o argumento vai se elaborando, primeiro na minha cabeça, depois passo pro papel.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho uma técnica, mas uma das coisas que me auxiliam é ter uma rotina de trabalho e trabalhar no meu escritório na universidade todos os dias. Assim, defino claramente o que é o ambiente de trabalho e o que não é. As angústias estão sempre presentes, eventualmente elas tornam bem sofrido o processo de iniciar o texto. Mas normalmente depois de começar elas vão embora ou se tornam menos presentes.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o texto infinitamente. Todo dia antes de recomeçar a escrever leio todo o texto, ou o capítulo quando o texto é maior. E sempre faço alterações. Em geral, quando termino a conclusão, já revisei o texto tantas vezes que só volto à conclusão uma única vez sempre no dia seguinte.
Mostro o meu trabalho para várias pessoas antes de publicá-los. Mas além de mostrar o texto propriamente dito, quando estou imersa no projeto de escrita, também converso muito com as pessoas sobre o texto, os argumentos, testo um pouco as ideias que estou desenvolvendo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Só escrevo no computador. Adoro tecnologia e uso inclusive o celular quando o computador não está à mão. Dificilmente escrevo algo em papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vêm de vários lugares, artigos e livros que li, conversas com colegas e amigos, notícias de jornal. Como a minha escrita é mais científica do que propriamente criativa, leio muito o que os outros escrevem. Acho que é isto que fornece as ferramentas que preciso para o meu trabalho.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Acho que fiquei mais segura, já foi mais difícil escrever no passado. Não sei se mudaria alguma coisa, terminei minha tese a pouco tempo e acho que foi um processo bem interessante. Embora não tenha sido nada fácil, tenho uma certa saudade de poder ficar dedicada exclusivamente à pesquisa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho várias ideias que queria desenvolver, uma que anda se tornando mais concreta é uma análise comparada dos presidencialismos de coalizão na América Latina. Entre as ideias que tenho carinho, mas que está longe de ser concreta, é escrever um livro para crianças sobre democracia.
Sobre o livro, tem tantos que gostaria de ler que existem e ainda não li. Tenho uma fila de livros, que vou lendo conforme sobra tempo. Assim, o que eu gostaria de ler é sempre o próximo.