André Simões é jornalista e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre fui uma pessoa muito notívaga, ter uma filha (tem quatro meses, a Marília) mudou um pouco isso. Mas de qualquer modo, meu dia mais frequentemente começa com luta contra a preguiça, porque estou atrasado para alguma coisa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não percebo relação de horário com períodos de melhor rendimento. Há outros fatores que influem. “Ritual” é uma palavra muito forte, não sei se tenho um “ritual” para escrever… Só consigo escrever em fonte Times New Roman 12, com espaço simples. Se necessário, depois de pronto o texto, mudo a formatação. Serve como ritual?
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todo dia como exigência profissional. Se a pergunta é sobre a literatura de intenção artística, não me faço essa exigência. Quando estou dedicado a determinado projeto, porém, costumo ser bem disciplinado e acabo escrevendo, sim, basicamente todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo depende muito do texto em que se está trabalhando. Lido com crônicas, contos, letras de canção, textos de produção jornalística, textos de pesquisa acadêmica, textos de caráter institucional… De maneira geral, quanto maior o fôlego que o texto exige, mas necessária é a preparação prévia. Uma crônica, por sua natureza, não exigirá notas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tendo claro o intuito desejado com seu texto antes de começar a escrever. Estar seguro quanto à própria técnica é um componente facilitador. A romântica inspiração só encontra base adequada para dar resultados satisfatórios quando amparada por estudo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Mais uma vez, depende das proporções do texto. Minha mulher, minha mãe, amigos próximos podem ser primeiros (pacientes) leitores, antes de eu publicar determinado texto. Mesmo assim, sempre quando tenho ao menos uma primeira versão pronta, não ficaria confortável compartilhando trabalhos em construção.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Para meu trabalho com versos (criação de letras de canção e versões para português de letras de canção em inglês), gosto de usar lápis e papel em rascunhos, como forma de estimular ideias. Para todos os textos em prosa, sempre uso o editor de textos do computador, diretamente.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Perguntar de onde vêm minhas ideias me parece um questionamento de teor filosófico superior às minhas possibilidades, mas posso tentar especular alguma coisa… Acho que, novamente, tem a ver com você estar seguro com um bom aparato técnico, que facilite o uso criativo das inspirações surgidas de observações as mais várias e que permita a conexão entre essas inspirações e seu repertório prévio. Os hábitos de criatividade passam por ser curioso, buscar o contato com obras interessantes, conversar com pessoas interessantes, envolver-se em situações interessantes…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Quero crer que, por força do hábito e da ampliação de repertório, estou escrevendo melhor! – um pouco de otimismo. Mas não acho que tenha havido “mudança de processo”, nem repararia algo do meu método de trabalho anterior. Meus conselhos ao meu eu do passado seriam focados mais em outras áreas, tipo jamais peça carneiro picado com natas no Chi Fu.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Em minha faceta jornalística, estou trabalhando, junto com Joana Hime, num livro sobre Francis Hime. Com sorte, quero estender os métodos que estou usando nesse projeto para livros sobre outros compositores consagrados da canção brasileira. Na parte de literatura de ficção, comecei a esboçar um roteiro de romance e uma versão em português para a ópera Porgy & Bess. Gostaria de ler um grande livro de entrevistas com João Gilberto. Melhor: um livro que reproduzisse a conversa gerada de um encontro de João Gilberto com Bob Dylan. No México. Seria genial.