André Sant’Anna é músico e escritor, autor de O Brasil é bom.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
De mau humor, tomando café sem açúcar e assistindo o noticiário da televisão. Depois disso, tomo banho e vou nadar na ACM.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que a melhor hora é de manhã cedo, mas raramente consigo tempo para escrever nesse horário. E não tenho ritual não. Abro o computador e vou escrevendo, com ou sem inspiração.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo sempre que dá. Meu trabalho de ganha-pão é escrever também – roteiros de cinema e televisão, teatro, artigos para jornais e revistas, oficinas literárias, publicidade, marketing político. A maior das batalhas é encontrar tempo para escrever literatura, quando é necessário grande desapego ao dinheiro. Escrever literatura é um terceiro turno, um trabalho não remunerado, depois de um dia de trabalho pago.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vou escrevendo direto, sem notas. E a história vai sendo formulada na cabeça, quando estou andando na rua, tomando banho, nadando. E pesquisa, quando precisa, faço no meio do processo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O mais duro de tudo num romance, principalmente, é que depois de meses, anos de trabalho, aquela empolgação inicial com a ideia que te leva a escrever o livro desaparece e a gente nem sabe mais por quê está escrevendo aquilo. Quanto às expectativas dos outros, senti isso entre o primeiro e o segundo livro. Depois de ser considerado um gênio, a gente é obrigado a se tornar um idiota para agradar aos outros idiotas que são a grande maioria da humanidade. Então, quando eu escrevo, eu escrevo. Quando eu não escrevo, eu não escrevo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Meus três primeiros livros – Amor, Sexo e Amizade – foram escritos à mão, de caneta Bic. Reescrevi duas vezes à mão, depois uma vez no computador e mais a leitura final. A partir de O Paraíso É Bem Bacana, passei a escrever direto no computador, com menos revisões. Antes, eu sempre mostrava os originais para o meu pai – o Sérgio Sant’Anna. Agora não mais. Vai direto para o editor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como eu disse, hoje eu escrevo direto no computador. Sempre fui meio atrasado com tecnologia e fui a última pessoa que eu conheço a ter computador, a ter um e-mail, a ter um celular, um smartphone, Netflix etc. Mas é mais por preguiça mesmo. Quando finalmente adquiro a tecnologia, acabo gostando.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
É um grupo de ideias fixas que vão se desenvolvendo no decorrer dos tempos. No dia-a-dia, no ônibus, na fila do supermercado, estou sempre conversando com as minhas ideias, que creio serem todas de quando eu tinha 17 anos de idade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
No começo, eu escrevia com a leveza de quem não tinha qualquer pretensão de ser escritor. Acho que eu tentava fazer música com as palavras. Depois, quando saiu no jornal que eu era escritor, veio uma certa responsabilidade e perdi um pouco dessa leveza, já passei a escrever pensando na opinião alheia, preocupado em não ficar tempo demais sem publicar nada. Mas, ultimamente, que tenho escrito bastante teatro e roteiros de cinema e televisão, a literatura voltou a ser uma curtição. Estou me cobrando menos “o próximo romance”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Já teve vários nomes: “Deus É Bom – O Engarrafamento”, “O Jogo de todas as Coisas que Há” por exemplo. Já foi escrito na forma de ópera-rock, de ópera erudita contemporânea, história em quadrinhos, teatro e cinema. Vai acabar virando um livro mesmo, que posso fazer sozinho. Mas era pra ser um show multimídia. Ficção Científica filosófica.