André Nóbrega é poeta, autor de “A nossa gramática”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Com uma meditação de quinze, vinte minutos. Excelente para prover um senso de ordenamento. Organizar ideias e começar o dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Duas horas em específico, por motivações contrárias: pela manhã, quando o corpo, a mente se encontram ‘’frescas’’, prontas para absorverem experimentações poéticas, ou de madrugada. Quando volto de uma festa, uma noite no bar, e, por influência de alguma experiência presenciada. E cujo registro, acontecimento precise passar por uma forma imediata, instantânea de registro.
Uma escrita que pulsa, urgente. Se eu não der força, voz e forma a essa voz, naquela exata hora e momento, com certeza ela perderá sentido, quando eu acordar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não todos os dias. Porém, tento escrever um poema a cada dois, três dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É uma carpintaria quando escrevo pelas manhãs. Um senso de liberdade, capaz de permitir a concatenação com sons, palavras, até conseguir ajustar num tema. Depois disso, fazer o poema.
Já quando escrevo à noite tudo flui, se fixa, com muito mais espontaneidade. Como se transcrevesse emoções, sem preocupação de filtrá-las.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Saber que vão ter poemas bons, ruins e razoáveis. Faz parte do processo. O essencial é manter a escrita em movimento contínuo. E alimentar essa roda, através da leitura, a prática de exercícios, música.
Poesia é uma escrita de tiro curto, movida por emoções efêmeras, em registro. Por isso, essencial exercitar o olhar, sempre. Manter a rotina, a disciplina de escrever um poema a cada dois, três dias. Com isso, em um, dois anos, haverá material, repertório, para lançar um livro novo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Duas ou três, no máximo. Uma revisão gramatical, sobretudo. Importante ficar, me manter fiel ao espírito original, existente no poema, durante sua concepção primeira, inicial. Revisões constantes, trocas de metáforas, por outras, não é saudável. Aos poucos o sentido primitivo, contido no verso, vai sendo enfraquecido. Até perder o tom.
Mostro alguns poemas, para interlocutores com quem tenho amplo diálogo, para receber e ouvir críticas. Porem, confesso: nunca mudo a estrutura, concepção contida no poema. Essa ideia de fidelidade ao conceito é muito importante para mim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no computador, sempre.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sempre escrevo enquanto ouço música. Porém, a playlist é sempre variada.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Tentar dizer mais, com menos. Atenção maior as formas, aos tipos de versificação.
Eu diria a mim mesmo: ‘’não tenha tanto pudor em mostrar os seus versos. Pecado maior é confinar a poesia a um estado eterno de gaveta’’.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um livro sobre a história da luta da pessoa com deficiência, no Brasil.
Livro que gostaria de ler: a biografia do Carlos Drummond de Andrade.