André Giusti é escritor e jornalista, autor de “Voando pela noite (até de manhã)”.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não há de minha parte uma organização muito engenhosa não. Procuro apenas ter um horário do dia, nem que seja meia hora, para trabalhar no livro que escrevo. Dependendo do momento, esse horário pode ser de manhã, depois do almoço, meio da tarde ou início da noite. Trabalho em apenas um livro, o que já me parece bastante.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Há uma mistura de planejamento e de fluição. Não há como prever exatamente tudo o que você colocará em um livro, mas também não há como fazer tudo ao sabor do vento. O mais difícil é entreter o leitor, seja no início, no meio ou no fim.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Preciso de um local em que eu possa me concentrar. Já escrevi até em praça de alimentação de shopping (claro que em um horário mais vazio). Antes da pandemia eu fazia isso. Punha fones com música de relaxamento e mandava ver, nem via o que estava a minha volta. O silêncio, ou essa condição da música que me levava à concentração, são importantes, bem como um local em que eu fique em uma postura adequada e confortável em relação ao computador.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Quando você adquire a disciplina de escrever todos os dias, raramente você “trava”. Pode não haver uma fluição 100% em todos os dias, mas algo, nem que seja um parágrafo, sairá.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Os contos deram sempre mais trabalho dos que os poemas, e agora o romance, o meu primeiro, está me exigindo muito, há alguns anos, inclusive (estou na 3ª e última versão, pois escrever é reescrever). Gosto muito de três livros meus, de contos, que em minha opinião formam uma trilogia: A Solidão do Livro Emprestado (que está n 2ª edição, pela Penalux), A Liberdade é Amarela e Conversível (que ganhará por agora uma 2ª edição da 7Letras) e A Maturidade Angustiada (Penalux, 2017). Acho que neles obtive um bom resultado.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Escolho para escrever o que vivo diariamente, esse é o tema da minha literatura: homens de cidades grandes, acuados entre a rotina e o sonho, entre a necessidade de lutar e a vontade de fugir. Quem se identificar com isso, será meu leitor.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Me sinto à vontade para mostrar quando eu gostei do que escrevi. Geralmente quem lê primeiro minhas coisas são pessoas do meu círculo íntimo.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Não houve um momento. Quando vi, estava me dedicando. Gostaria de ter ouvido “Olha, vai ter um bando de mala dizendo que não vale a pena escrever porque ninguém lê nesse país. Cague solenemente para eles. Escreva se achar que é o que você precisa fazer na vida”.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Vários autores me influenciaram e influenciam até hoje. Tenho relido muito Bukowski para escrever meu romance. Essa coisa de estilo próprio… um bom batedor de falta só será um bom batedor de falta se ele treinar bater falta todos os dias. Sem trabalho você não encontra nada, nem seu estilo.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Os meus (rs). Há muita coisa boa para recomendar (muita coisa também que dizem ser espetacular, mas que, em minha opinião, deixa um gosto de ‘ué, era isso?’). Como estou fazendo uma releitura da obra dele, recomendo O Amor é um Cão dos Diabos, de Charles Bukowski. Poesia cortante, como deve ser.