André Abujamra é músico, compositor e ator.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo cedo. Banho, café e num dia normal começo logo trabalhando em alguma nova música ou trilha. Mas não posso dizer que tenho uma rotina. Muitos dias tenho ensaios, viagens, filmagens ou algo parecido e não ter rotina me parece uma coisa muito boa. Isso sempre me motiva a pensar mais no meu trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Melhor hora para trabalhar é quando você está com a cabeça focada naquilo que você quer fazer. Pode ser de madrugada, de manhã ou de tarde. Não sou escritor, sou músico e compositor e meu trabalho com a escrita não vem de um processo de construção. Vem de alguma ideia, sonho, inspiração sobre um assunto. De repente vai brotando e vou escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta diária de nada, a não ser dormir, me alimentar bem e tocar. Não acredito que se deva pensar em metas a serem atingidas num trabalho criativo. Isso torna o trabalho burocrático e contraproducente. Por outro lado, sentar a bunda na cadeira, trabalhar muito quando você está focado e com inspiração para tanto é maravilhoso. Eu tenho sempre vários projetos musicais em mente, faço trilhas para cinema, dirijo teatro, edito clipes, toco em várias bandas e sempre acho que o meu melhor disco será o próximo. Então talvez eu tenha uma meta, a de sempre estar envolvido com algo que eu gosto muito que é a música.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como já comentei, não me considero um escritor. Sou músico e compositor. Às vezes é difícil começar a compor, outras vezes você tem uma percepção de um assunto, algo ocorre com você, sua vida passa por um período conturbado, isso tudo vira assunto. Isso tudo vira letra e música.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes bate a preguiça e, quando bate, ligo o botão do f…-se. Passando o tempo do ócio (e o ócio faz muito bem quando desfrutado) volto ao normal e, pensando no próximo passo, logo volto ao ritmo normal. Quem me conhece, sabe que não desisto facilmente de uma ideia.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quanto às composições não penso em ficar revisando. Primeiro escrevo, depois ajusto o que precisar. Não me considero um intelectual, um cara da escrita formal. Escrevo o que sinto no coração e na mente. Mostro sempre para alguns amigos mais próximos, mas dificilmente isso interfere na criação original da letra.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia é ótima. Me sinto muito confortável para trabalhar usando computadores, smartphones ou qualquer coisa com um circuito eletrônico, mas às vezes pode rolar um papel e caneta durante uma viagem ou numa manhã na praia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de todos os lugares. Dentro do metrô, andando na rua, jogando videogame, viajando no deserto, ouvindo notícias no rádio, sonhando, na terapia, conversando com amigos, sozinho trancado no meu estúdio, tocando um atabaque no terreiro, fazendo uma trilha para um longa metragem. Nunca pensei sobre esse ângulo, mas acho que minha estratégia para me manter criativo é estar vivendo e prestando atenção nas coisas que me cercam.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou durante esses anos é que amadureci e passei a me entender melhor. Você briga menos e compreende mais. A experiência faz muita diferença e o senso de realização também. O que eu diria para mim mesmo mais jovem? O que meu pai (Antonio Abujamra) sempre me disse: “a vida é sua, estrague-a como quiser”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acabei de lançar meu disco solo, OMINDÁ, que fala sobre a união das almas do mundo pelas águas. Já estou trabalhando no Emidoynã, sobre o poder transformador do fogo. Quero completar esses projetos com discos sobre Ar, Terra e quem sabe um quinto elemento.
Um livro que não existe aqui na terra já deve estar escrito em algum lugar do universo. Basta que um dia ele se materialize na sua frente e mude a sua vida. Esse é o livro que gostaria de ler um dia.