Ana Paula Olivier é atriz e escritora, autora de “Infinito sobre o peito” (Penalux, 2017) e “A Escritura desejante de Hilda Hilst” (Penalux, 2021).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Dependendo do dia, se tenho aula, acordo por volta das 6h, depois do café, tenho lives com os alunos de Literatura. Então, o meu dia já começa voltado para a Literatura. Caso eu não tenha aula, acordo mais tarde e estou mais voltada para as tarefas práticas cotidianas e também para as leituras acadêmicas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Prefiro trabalhar a tarde, noite e madrugada. Passei quase 20 anos, trabalhando à noite, sempre preferi. Não tenho ritual de preparação, mas gosto de estar com a mesa arrumada e tudo o que tenho que fazer, ler, gosto que estejam próximos e que eu possa visualizar. Também gosto de visualizar a agenda mensal, mais de uma agenda, assim me organizo melhor.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo mais em períodos concentrados, quando são ensaios, trabalhos acadêmicos e pedagógicos. Quando são textos poéticos, escrevo aos poucos. Mas, os poemas vêm quase sempre, prontos. Embora, eu trabalhe tanto com eles oralmente que memorizo. Trabalho muito antes de escrever, alimentando a pesquisa artística, lendo, vendo filmes, teatro, escutando muitas músicas, fazendo análise, conversando com amigos, dando aulas de Literatura, fazendo sarau, relendo meus poetas preferidos, dirigindo, apreciando a possível natureza que ainda se tem em São Paulo, escutando os pássaros, olhando para o céu e sobretudo, “sobrevivendo”, como a maioria de nós, nesse momento pandêmico. A minha meta é publicar um livro, entre 03 a 05 anos, mas não me preocupo tanto com isso, demorei muito a publicar, de propósito, pois comecei minha vida artística aos 15 anos no teatro e publicando em jornais aos 17 anos. Então, prorroguei bem a minha primeira publicação. E também, as publicações são praticamente, inéditas, poucos leitores, ainda.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Trabalho muito movida pelos prazos, preciso deles para me organizar e focar na produção. Como faço muitas coisas, preciso dar conta das urgências dos prazos: as prioridades são a vida profissional de professora (aulas, lives, provas, planilhas, reuniões, e.mail, formação continuada, planejamento etc) e a formação acadêmica: Mestrado e Doutorado. Então, a Literatura que eu produzo, é encontrada nesses intervalos, entre acordar, comer, guiar, tomar banho e dormir. Ir inserindo o meu fazer poético nesses intervalos, é a “cereja” do cotidiano, o amanhecer, a minha relação mais urgente com o pulsar da vida.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Na poesia, não tenho travas, pois sei esperar o momento e não forço esse encontro por nada. O poema tem que vir com verdade e sei que se forçar, ele não virá intenso. Apenas, a-guardo. E de repente, vem pronto ou quase pronto. Sei que deve ser um tanto romântico, mas faço questão que seja assim, total liberdade e “ama-dorismo”, daquele que ama.
Nos ensaios, trabalhos acadêmicos, a procrastinação é parte da criação, a escrita tem o seu tempo de amadurecimento, vou trabalhando mais nas leituras e buscando a escrita. Para mim, esse percurso é angustiante e ansioso. Não vem “pronto” como a poesia, é muito árduo para mim e preciso de muito silêncio, solidão e não estar tão envolvida com o cotidiano.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sim, poesia, memorizo, envio logo para vários amigos e muitas vezes, posto nas redes sociais. Vibro muito com a recepção e depois, esqueço-os. Tanto que quando vou reunir, tenho que procurar pelos poemas nas redes. Alguns amigos mais íntimos, algumas vezes, me sugerem títulos e curto muito essas trocas criativas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Costumo dizer que gosto mais de tecnologias do que de viajar. Adoro tecnologias, todas, do papel à caneta até a última geração de celulares e computadores. Sou muito estimulada pelas tecnologias, no entanto, não gosto de ser escravizada nem manipulada por elas. Claro que isso, é quase impossível, nesses dias pandêmicos, mas fico atenta para que ela não me roube o essencial. Por exemplo, uma época, eu estava escrevendo os meus poemas direto nas anotações do celular. O celular caiu na água e perdi uns 10 poemas. A partir daquele momento, evito ter meus poemas registrado só nas plataformas digitais. Atualmente, estou voltando também para os caderninhos manuscritos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do que eu leio, assisto, escuto, das minhas vivências e das minhas memórias. Como respondi acima, também venho do teatro e da música, então, vou muito ao teatro, ao cinema, concertos, shows, livrarias, leituras, trabalho com Literatura e estudo Literatura, então estou sempre rodeada das artes e sempre busco a natureza também. Adoro passear, conhecer lugares diferentes na cidade, “con-versar” e sair da rotina.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu ainda digo: como eu escrevia aqueles poemas com apenas 17, 18, 19, 20, 22, 24, 25 anos? Acho-os impressionantes. Não tenho falsa modéstia. Escreveria exatamente como foram escritos. Eu não tinha a bagagem de leituras que tenho hoje (quase 50 anos) e lá estão os poemas! Eu não tinha nem mesmo a Graduação nem a vivência que eu tenho hoje, então, eu leio meus próprios poemas e fico abismada.
Ah, com o tempo, considerando umas críticas de pessoas muito íntimas, passei a escrever poemas mais longos, caudalosos até, para mim. Hoje não estou muito ligada nas críticas, não, pois quase não há, como eu disse, poucas pessoas leram o que eu escrevi, então escrevo de maneira mais “amadora” ainda. Gosto assim: liberdade e poesia.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Irei publicar a minha dissertação de mestrado nesse ano e gostaria de publicar a minha tese de doutorado, mas começo a pesquisa nesse ano de 2021. Só devo publicar daqui a 03 ou 04 anos.
Também quero publicar outros livros de poemas.
Gostaria de ler muitos livros de poesias escritos pelas poetas contemporâneas brasileiras e portuguesas.