Ana Luiza Libânio é escritora, autora de História de Carmen Rodrigues.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo bem cedo todos os dias. A primeira coisa que faço é sentar na beirada da cama com os dois pés bem apoiados no chão, a coluna reta, e os olhos fechados. Agradeço pela noite e me concentro na meta que estabeleço para o dia, em seguida elimino qualquer pensamento negativo, se houver algum. Então me levanto, alongo os músculos, bebo água – não durmo sem uma garrafa na mesa de cabeceira – e cumprimento as três gatas que já aprenderam: é hora de sachê! Depois sento e tomo café da manhã enquanto assisto a um episódio de alguma série e faço minhas reflexões sobre temas diversos. Nessa hora escrevo minha #ElucubraçãoLibânica que, algumas vezes, publico nas redes sociais. Depois disso, o foco é aquela meta na qual me concentrei e aí pode ser escrever o dia todo ou dividir a escrita com o trabalho de tradução.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto muito de escrever de manhã cedo, antes de o sol esquentar. Mas também me dou bem com a noite. Se escrevo de dia, bebo água, café, suco ou chá. Se escrevo à noite, uísque ou vinho. À tarde só consigo escrever quando vou a algum café. Mas se tenho algum trabalho agendado, aí não tem dessa de melhor horário. O foco é cumprir o prazo combinado!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
“Tem que escrever um pouco todos os dias” foi um conselho que recebi há um par de décadas e nunca esqueci. Escrevo todos os dias, não importa a quantidade de palavras. É exercício, mas é também um alimento para a alma. Algo diferente acontece: não dá para chegar no final do dia me sentindo bem sem ter pelo menos rascunhado algumas ideias, até por isso aproveito o horário do café da manhã para minhas elucubrações. A meta varia conforme a carga de trabalho, porque preciso dividir o tempo com as traduções. Mas sempre tenho comigo uma caderneta, então quando almoço sozinha ou na sala de espera de um médico, por exemplo, escrevo, se não estiver lendo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu penso muito sobre as coisas que escrevo – é uma gravidez. Por algum tempo alimento a ideia e depois escrevo. Para histórias longas faço um esquema, planejo a ordem dos fatos, listo personagens, anoto características e elementos peculiares para me tornar íntima da história. Quando o trabalho exige muita pesquisa, leio o material e anoto em um caderno exclusivo para aquele projeto; uso cores diferentes para destacar e organizar informações. Não é difícil, mas eu também não diria que é “mamão com açúcar”! Escrever exige dedicação, entrega.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Faço cronogramas mensais de trabalho e, ao longo do mês, organizo as semanas. Além disso, como disse, de manhã mentalizo o dia, metas etc. Isso para mim é remédio para o que você citou, porque sei que tenho um plano e que se eu me dedicar a ele, alcançarei meu objetivo. Mas também tenho consciência de que imprevistos acontecem, e aí basta refazer o plano. Não tenho pressa, porque quero fazer da melhor forma que sei fazer, ou seja, com dedicação. Gosto de me entregar aos projetos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Meu instinto me diz quantas vezes preciso revisar um trabalho. O fato é: não entrego sem revisar. Com todos os textos que escrevo, incluindo traduções, faço a mesma coisa: finalizo o trabalho, imprimo e me afasto por algum tempo (que varia conforme o tempo disponível, prazo de entrega etc.). Volto ao texto com caneta verde e rabisco, corto, acrescento, altero… Escrever é reescrever. Não dá para entregar um texto sem revisão. Quantas vezes releio e reescrevo depende da voz aqui dentro. Se ela diz “pronto!”, vai. Se não, outra leitura será necessária. Quando é possível, peço a alguém de confiança para ler o que escrevi. Isso faz toda diferença.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Varia. Uso computador, celular, tablet, mas também uso cadernetas, pedaços de papel. Uma vez experimentei gravar um áudio. Eu estava caminhando, comecei a pensar em uma história e resolvi narrar para mim mesma. Mas não deu certo. Nunca transcrevi e nem me lembro o que era!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vem do mundo, das pessoas, das leituras, de filmes, teatro, séries, exposições de arte. Consumo tudo isso, sem moderação! E gosto de conversar. O convívio com pessoas diferentes é muito rico, então não perco oportunidade de ouvi-las; todo mundo tem algo a nos ensinar – mesmo quando não concordamos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Hoje não tenho a ansiedade que já tive e tenho muito mais disciplina, coisas que ganhei com a maturidade – além dos cabelos brancos! Acho que não diria nada, porque o que não fiz naquela época, posso fazer agora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não gosto de falar de meus projetos antes de realizá-los. Mas depois vou te procurar e dizer: “este livro é um daqueles projetos de que não falei na entrevista!”