Ana Lúcia Lana Nemi é professora de História Contemporânea da Universidade Federal de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo com bastante café, organizo o escritório, sempre tem alguma coisa para arrumar: livros soltos na mesa, demandas de leitura de projetos, artigos para dar parecer ou outras coisas. Leio notícias na internet, abro e-mail, respondo quando possível… E assim vou aquecendo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã cedo, entre 6h e 10h, ou no final do dia, entre 17h e 21h. Meu ritual de escrita: um rascunho que vou montando enquanto estudo e penso os fluxos de argumentos. Esse primeiro rascunho se transforma num organograma/projeto de escrita que, mesmo sendo um conjunto proposto a partir da pesquisa, sempre se modifica na trajetória da escrita, que é sempre uma trilha que se desenha no próprio curso, mesmo com esses “rascunhos” anteriores.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende da época do ano, em época de aulas tento concentrar a escrita em um ou dois dias da semana (o segundo é sempre um sonho) que reservo para estudar e escrever. Mas quando estou sem aulas tenho sim metas que tento cumprir, elas funcionam por páginas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É difícil começar dependendo de como está meu cotidiano de trabalho fora de casa, se estiver muito complexo, com atribuições distintas, é sim bastante difícil começar, isso porque invariavelmente aparecem demandas que não se relacionam com a escrita. Mas é bom dizer que a pesquisa e a escrita, muitas vezes, andam juntas, na escrita é fácil encontrar “furos” não previstos na pesquisa original, diálogos com a literatura que a documentação sozinha nem sempre nos mostra.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Leio muita literatura e biografias de escritores, assim me sinto mais tranquila porque descubro que todos temos que enfrentar dialeticamente o desejo da escrita com a frustração cotidiana que nos sufoca, e as frustrações são as mais diversas, cada um tem as suas…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A revisão se faz em meio à escrita, há um cainho da escrita que exige retorno aos começos do texto ou a partes específicas, e aqui já há uma revisão. Pronto o texto, é sempre bom ler tudo e deixar dormir uns dias, mas isso a rotina de cumprimento de datas nem sempre permite.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meus primeiros rascunhos são sempre à mão, muitos e muitos cadernos, adoro!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias acho que surgem do cotidiano de leituras, filmes, imagens, conversas, que encontro e procuro em meu cotidiano. Acho que a dinâmica da boa pesquisa está sempre em diálogo com a experiência de vida, e isso aparece na escrita sob diferentes formas, especialmente quando se coloca fontes de natureza distinta em diálogo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Aprendi a respeitar os tempos de maturação das ideias e da escrita, são diversos e dependem dos conteúdos, por isso tenho aprendido a desrespeitar exigências de produtividade sem relevância.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Queria escrever para crianças, com mais tempo… Eu gostaria de ler um monte de coisas, elas já existem, não dá tempo… mas não sei dizer sobre algo que não foi escrito… acho que não tem não…