Ana Filomena Amaral é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Depende de dia para dia, se durante a noite algumas ideias nasceram, começo logo a escrever a partir das notas que tirei, quase ainda durante o sono, senão começo quando tenho disponibilidade e o que vai surgindo rascunho no papel até poder sentar-me e começar a escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu estou quase sempre a escrever mentalmente, então quando tenho um livro em curso ele não me sai do pensamento, então as palavras vão surgindo, as ideias e eu vou anotando até ter a oportunidade de me sentar ao computador.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo normalmente todos os dias, mas não tenho metas nem objetivos, o certo é que se tivesse disponibilidade poderia passar o dia inteiro a escrever, mas como isso não é possível, faço o que consigo em termos de tempo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando começo a escrever um livro ele costuma já estar desenhado na minha mente, porque já fiz muita pesquisa antes de o começar, depois à medida que vou escrevendo vão surgindo novas ideias para pesquisa e o trabalho vai evoluindo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não sinto isso, felizmente, não tenho nenhum constrangimento, nem ansiedades em relação à escrita, escrevo antes de tudo porque necessito, porque é tão essencial à vida como respirar, escrevo antes de todos para mim, se eu estiver bem com o que escrevo continuo e publico, se não fica pelo caminho.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes, com intervalos longos, às vezes podem passar meses que eu não revisito o texto, para poder ganhar distância em relação a ele. Dou o livro a ler a algumas pessoas para ouvir a sua opinião, sobretudo como bons leitores, não tenho pressa de publicar, em média sai um livro meu de 3 em 3 anos, não sofro pressão de nenhum género.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quando começo a escrever é no computador, mas vou sempre fazendo rascunhos e escrevinhando no que me aparece à mão, quando estou em viagem, ou a realizar qualquer tipo de trabalhos, no meio de uma conversa, de um filme, de uma música, em sonhos, em sonos, enfim, sempre!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu sou uma pessoa muito extrovertida, falo com toda a gente, sou curiosa em relação a tudo e faço sempre muitas perguntas. A minha vida decorre em contextos muito diversos, porque desenvolvo atividades muito diversas também e, portanto, estou sempre a encher o poço, como costumo dizer, quando sinto que ele está a transbordar é chegada a hora de escrever e verter na página tudo o que me vai em mim.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou não foi a escrita, fui eu antes da escrita e ela acompanhou-me, o tempo, a vida vai-nos moldando e tudo o que decorre de nós vai sofrendo novas nuances, mas acho que algo permaneceu imutável na minha prosa, que é a poesia, a magia, o maravilhoso, o êxtase, porque eu continuo a encerrar tudo isso, desde que eu tenho sentimento de mim.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sempre quis escrever uma trilogia, neste momento o primeiro romance já foi publicado, o ano passado no Brasil e este ano em Portugal, com o título “O Diretor”, estou a escrever o segundo “Gelos”, e o terceiro será “Desertos”. A trilogia chama-se “Mãe Nossa” e é dedicada à Terra e aos problemas ambientais.
Escrevo os livros que não existem para que os meus filhos os possam ler e lembrar de mim.