Ana Claudia Farranha é doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho. No geral, acordo muito cedo. Quando tenho muito trabalho acordo às 04:00, tomo meu café, trabalho até 06:00, depois saio para algum exercício físico. Volto, tomo banho e vou para a universidade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto de trabalhar de 04:00 às 08:00 da manhã. Mas acho que não tenho um ritual para a escrita. No geral, gosto de ter perguntas que penso que o texto deve responder. Às vezes, quando estou muito inspirada, uso um verso, um poema ou uma música. Ah…sim, ouvir música me ajuda a destravar as ideias. Ouço de tudo. Na época da escrita da minha tese ouvia trance alto às 04:00 da manhã.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todo dia. Me cansa escrever concentrado. Sou dispersa, e ainda tenho uma filha pequena (quase adolescente), que vez por outra tenho que responder às demandas dela. Então, naquele horário “revolucionário” que mencionei, escrevo quatro parágrafos. Duas ou três páginas. Depende do tipo de texto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No geral, leio o texto pensando em quê ele me ajuda na escrita. Sempre fichei fazendo perguntas que poderiam me ajudar na escrita. Meus fichamentos são assim, cheios de perguntas, pois, com isso, eu sei mais ou menos que referências podem ajudar nos meus argumentos. No geral, coloco as questões do texto e divido os autores/notas a partir destas questões.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Então, eu sou dispersa, por isso preciso fazer um pouquinho todo dia. Música me ajuda, pois parece que me acalma e vou me concentrando no trabalho e no que tenho de fazer. Também sou ansiosa, mas como sei de tudo isso, lá vou fazendo. Sempre falo para mim: “puxa, você já fez isso, pode fazer mais… e lá vou…”
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Então, tenho muitas dificuldades com revisão. Prefiro pedir para alguém ler. Mas nem sempre isso é fácil. Então, o que faço: como escrevo todo dia um pouquinho, sempre inicio a escrita pelo texto que já está pronto, então, às vezes leio muitas vezes a parte inicial e o que ficou pronto primeiro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador. Uma ou outra ideia anoto na agendinha. Mas é coisa pouca.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Então, eu caminho e corro (mais caminho que corro), ou ando de bike, então se eu estiver envolvida em algum projeto que demande uma escrita, eu vou pensando nas ideias. Posso parecer longe do mundo, mas tô sempre ligada no que tô fazendo e exercitando a memória. Isso faz com que uma ideia chame outra ideia. A turma diz que eu não desligo. E é verdade, minha cabeça só pensa naquilo: “o texto ou o trabalho que estou envolvida…” (risos)
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Comecei a escrever por volta dos 20 anos, putz, tô quase na casa dos 50 (4.8 – em setembro). Às vezes escrever para mim é uma brincadeira. Sempre gostei muito. Quando era mais nova, era muito acusada de ter um texto coloquial, quase como jornalista (aliás, meu sonho era ser jornalista). Me arrumar na escrita acadêmica foi um parto. Bem de fórceps… Ouvi muita crítica dura e outras bem mal-educadas, mas fui me enquadrando. Hoje também escuto umas bobagens sobre o meu trabalho (a acusação de escrever uma crônica e não uma nota científica), mas tento sempre organizar a produção, usando os fundamentos técnicos e teóricos e não perdendo uma certa intrepidez em questionar como aqueles fundamentos respondem às minhas questões e, claro, sempre tenho uma pitada de ironia, humor ou uma triste (e dramática) constatação.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu projeto é ter um blog com todas as minha notas de filmes e outros escritos (pequenos poemas e crônicas). Esse ano até estou catando tudo que publico no Facebook. Bora ver se dou conta… E o que eu gostaria de ler… eu gostaria de voltar a ler biografias. Adoro as histórias das pessoas. Quem sabe um dia começo a escrever com esse estilo.