Ana Cecilia Impellizieri Martins é editora, jornalista e historiadora, doutora em Literatura Brasileira e autora de “O homem que aprendeu o Brasil – A vida de Paulo Rónai”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como sou editora, começo o meu dia voltada para o trabalho da Bazar do Tempo. No dia a dia a escrita está, portanto, mais voltada para edição dos livros, redação dos textos editoriais etc.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor à noite, quando as demandas de comunicação diminuem, os emails, as chamadas de telefone e whatsapp. Atualmente tantos meios de conexão são uma dispersão para o momento da escrita.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
O livro que acabo de lançar, O homem que aprendeu o Brasil – A vida de Paulo Rónai (Todavia) foi resultado do meu doutorado em Literatura na PUC-Rio. Foram anos de pesquisa, viagens, entrevistas, leituras. Assim, após reunir um grande material passei a me dedicar à escrita. E aí foi um mergulho: dias inteiros em frente ao computador, finais de semana em casa em que não sentia o tempo passar, escrevia, relia, escrevia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começo após sentir que já domino o assunto, que estou preparada. Mas, é claro, que durante a redação surgem dúvidas, novas perguntas, e por isso novas pesquisas atravessam o momento da escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como tenho uma primeira formação em jornalismo, nunca lidei com bloqueio de escrita. Até porque jornalista não pode se dar a esse luxo, digamos.
Houve uma época em que trabalhava no Jornal do Brasil que escrevia uma matéria por dia, muitas vezes matérias longas, de capa. Essa prática e exigência é um grande aprendizado. Por isso acho que o jornalismo é uma das melhores escolas para a escrita. É um treino sem igual.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu releio algumas vezes e mexo bastante. A leitura de outras pessoas ajuda muito também. No caso deste livro, o escritor e filósofo Eduardo Jardim, meu grande amigo, leu algumas vezes e foi de uma ajuda fundamental.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador, sempre.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De livros, da leitura de jornais, filmes, documentários. Enfim, do mundo. Sou mais relacionada àquilo que existe e que pode ser melhor conhecido, experimentado, apresentado. Por isso caminhei nessa direção: jornalista, historiadora, biógrafa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que com o tempo o texto vai ficando mais limpo, essencial. São as propostas de Ítalo Calvino (Seis propostas para o próximo milênio), que adoro e que acho essenciais.
Acho que cada texto reflete um tempo, e gosto de todos eles: os textos, os tempos. É a nossa história.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Comecei vários! Falta agora continuar.
Acho que existem muitos livros lindos para ler. Já não vai dar tempo de ler todos que estão aí. Por isso não penso naqueles que não existem.