Alexandre Morais da Rosa é professor de Processo Penal na Universidade Federal de Santa Catarina e na Universidade do Vale do Itajaí.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Depende dos dias. Em regra, tenho aulas pela manhã segunda, terça e quinta. Nos demais dias vou ao Tribunal de Justiça. Começo cedo as atividades.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho rituais, nem horário. As ideias surgem e vou anotado, gravando, enfim, aproveitando as oportunidades durante o dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho qualquer método. Escrevo quando há tempo, vontade e algum argumento.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo é caótico. Escrevo fragmentos, ideias soltas, tudo meio desarticulado. Depois procuro dar forma e articulação. Movimento-me pela lógica da bricolagem de significantes, sem verdades duras, à procura de uma narrativa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrever é prazer. Procurar ser inteligível e coerente. Os projetos se renovam e tenho alguns de curso prazo (escrevo semanalmente nos sites do Emporio do Direito e no Conjur), artigos acadêmicos e livros novos e atualizações. Pego os projetos conforme o desejo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não tenho paciência em revisar. Trabalho com alguns amigos e colegas que revisam e trocam ideias. Considero que o trabalho nunca está pronto. Poderia ser melhor. Sempre. Abandono os trabalhos quando digo: chega.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador em arquivos articulados para resgate facilitado. Em árvores de arquivos. A leitura dos livros e textos sempre é arquivada.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Gosto muito de ler matemática, física e lógica. Buscar horizontes diferentes para ler o contexto jurídico, deslocando o objeto. Algo que Zizek se apropriou da física, ou seja, em paralaxe.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
A preocupação acadêmica torna o discurso produzido em uma tese muito hermético e cheio de citações. Hoje procuro ser mais assertivo e com notas de rodapé para que o leitor possa se situar e ir atrás. Evito textos longos e repetitivos. Em geral, os pressupostos dos textos esbarram em um paradoxo: se busco explicar os fundamentos para quem nunca leu nada, sou complexo; para quem sabe, sou banal. Indico em nota de rodapé os trilhamentos dos pressupostos. Escrever na academia é jogar o jogo da academia. A depender do contexto, será preciso conhecer as regras de validação.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos em andamento e ando feliz com eles. Queria ler o livro do Juarez Tavares novo. Ando curioso com o que há de novidade. Logo teremos mais perspectivas interessantes em um direito penal tão maltratado.