Alexandre Kovacs é engenheiro, editor do blog de resenhas literárias Mundo de K.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quando penso em como eu escrevo, me ocorre uma outra pergunta, talvez mais difícil: Afinal, por que eu escrevo? Uma boa resposta poderia ser a que formulou Orhan Pamuk em seu discurso de agradecimento ao Nobel de Literatura de 2006: “Escrevo porque eu nunca consegui ser feliz. Eu escrevo para ser feliz”; sem dúvida essa ideia expressa de forma muito poética o sentimento contraditório que todo escritor conhece bem, o de perseguir um objetivo importante e improvável e, mesmo assim, continuar tentando. Respondendo ao questionamento original, o meu dia sempre começa com a rotina sagrada de preparar o café, puro e forte.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Neste ponto é importante destacar que não sou um escritor profissional e, portanto, o tempo disponível é limitado e precioso, dependente de outras tarefas que exigem um tipo de concentração conflitante com o fazer literário. Contudo, aprendi que o melhor momento para escrever é o período matinal, de preferência desconectado da internet, sempre que isso é possível – quase nunca, infelizmente.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Dentro das limitações de tempo, procuro escrever diariamente, apesar de raramente conseguir manter esta meta. Lembrando que, tão importante quanto escrever é o hábito da leitura e ocorre um fenômeno curioso em nossos dias, encontramos mais escritores do que leitores. Partindo dessa premissa, a prática de escrever resenhas literárias pode ser um ótimo exercício de leitura e também de escrita, sabendo respeitar os limites da resenha.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A resenha literária, por definição, é um resumo crítico, mas é preciso situar o leitor com relação à época e contexto histórico no qual o livro foi escrito, as motivações, biografia e bibliografia do autor, além obviamente de emitir algum tipo de opinião pessoal, positiva ou negativa, caso contrário seria mais prático que o leitor consultasse diretamente, e tão somente, a sinopse das editoras.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrever é um ato de solidão e também de coragem em expor as próprias verdades, sejam elas quais forem. Neste momento é que surgem as travas e a procrastinação, decorrente do medo do fracasso. Aqui me ocorre uma citação de Alain de Botton que resume bem o problema: “O trabalho finalmente começa quando o medo de não fazer nada supera o medo de fazê-lo mal” ou essa outra de Maya Angelou: “Não há maior agonia do que guardar uma história não contada dentro de você”. De qualquer forma, a conclusão em qualquer caso é óbvia, só há uma forma de vencer o bloqueio interno: escrevendo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso os textos muitas vezes, mas é preciso saber a hora certa de parar, o que é muito difícil porque não existe garantia sobre a qualidade do trabalho. O ideal de perfeição é mesmo incompreensível e depende da sensibilidade individual, contexto social e histórico, herança cultural, entre outros. Enfim, nunca sabemos se o texto está pronto para ser publicado.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O computador é imbatível pela facilidade de edição, mas o tradicional caderno de notas ou até mesmo o celular funcionam muito bem para registrar ideias que podem surgir nos momentos mais inadequados. Independente da ferramenta, o importante é criar o hábito de registrar essas ideias para desenvolvimento posterior.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
O que eu mais gosto na literatura contemporânea é a capacidade dos autores de criarem novas formas de contar histórias, por isso estou sempre acompanhando os lançamentos e os prêmios literários nacionais e internacionais e, obviamente, lendo muito, sempre.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Um ótimo conselho que eu gostaria de ter recebido quando mais jovem: cuidado com a autocensura, pode acabar com o seu trabalho antes mesmo que você consiga iniciar. E aqui fica outra citação excelente neste sentido de Nora Roberts: “Você pode corrigir qualquer coisa, menos uma página em branco”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
No meu caso, esta pergunta é a mais fácil de responder. Gostaria de escrever um bom romance e este livro, sem dúvida, eu queria muito ler um dia.