Alexandre Azevedo é escritor, autor de 125 obras.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo cedo, mas não para escrever, e sim para dar aulas. Além de escritor, sou professor de literatura brasileira e portuguesa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumo escrever à noite, sem nenhum ritual, sem nenhuma disciplina. Sento e escrevo, simples assim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Há períodos em que escrevo mais, há outros em que escrevo menos. Acho interessante isso, é necessário subir à tona, tomar um fôlego.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No começo de minha carreira, isso há trinta anos, era um tanto quanto complicado. Hoje me vem a ideia, sem compilar nada, sem estruturar nada, sem esquematizar nada, escrevo. É assim que a história vai nascendo, no ato. Se vejo que não está do meu agrado, paro. Engaveto-a em meu pen drive e parto para outra. E aquela que foi engavetada poderá ser retomada algum dia, ou não.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Felizmente não lido com nada disso. Isso não passa pela minha cabeça. A primeira coisa que digo a quem quer se aventurar na arte da escrita é não ter medo. Se tiver, procure fazer outra coisa, é o que eu penso. Escrevo, inicialmente, para mim e para mais ninguém. Depois de pronto o texto e publicado, aí sim, aí não pertence mais a mim e sim a quem vai comprá-lo e, possivelmente, lê-lo. Portanto, não tenho mais nenhuma responsabilidade sobre ele, quem tem que corresponder às expectativas não sou eu mais, que já conheço muito bem o texto, e sim o leitor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quantas vezes forem necessárias. Não tenho um número exato para isso. Os meus primeiros leitores (e também revisores) são a minha mulher e os meus três filhos. Às vezes, minha mãe, que é uma leitora compulsiva.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A melhor possível. Quando comecei a escrever usava papel e caneta e a velha máquina de escrever, que guardo ainda hoje, mas como relíquia. Hoje, não, escrevo direto no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias surgem, na maioria das vezes, do nada. Mas também de outras obras que leio, do dia a dia, de conversas corriqueiras, descompromissadas. Como disse anteriormente, não sou adepto a esquemas, estruturas, muito menos hábitos. Sou escritor e professor de literatura, se não fosse ela, a literatura, não sei o que seria de mim. E para não pensar nisso, escrevo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Um amadurecimento? Não sei. Se essa pergunta fosse dada aos poetas românticos, como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves (que morreram jovens com vinte, vinte e poucos anos), caso tivessem envelhecidos? A imaturidade fez dessa gente grandes poetas, incontestáveis. Portanto, tudo isso é relativo. Já publiquei 125 obras, entre romances, contos, crônicas, poesias líricas e satíricas, poemas épicos, ensaios, peças de teatro, biografias e, principalmente, literatura infanto-juvenil e, raramente, releio o que já foi editado para evitar esse tipo de comparação. Por incrível que pareça, o meu primeiro livro, publicado em 1989, quando tinha vinte e três anos, está na ativa, com mais de 30 edições…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Isso é segredo. Um escritor jamais deve alardear aos quatro ventos as suas ideias futuras, os seus projetos de escrita. Isso é confidencial, extremamente confidencial. Quanto à segunda pergunta, só gostaria de ler aquilo que já existe e ainda não li. Aliás, certa vez João Cabral de Melo Neto, em uma entrevista declarou que, a partir de certa idade, é mais importante reler certas obras do que ler as inéditas. Procuro fazer isso também, há uma grande quantidade de obras que precisam de várias releituras, que pensar no que ainda não foi escrito é algo irrelevante.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Não planejo nada. A escrita passou a ser um exercício. Escrevo da mesma maneira que leio, uma questão de hábito. Desde que comecei a escrever, profissionalmente, não parei mais. Isso há três décadas, um pouquinho mais. Por isso, não sinto, hoje, dificuldade em escrever.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Sou desorganizado, e me orgulho muito disso. Da mesma forma que leio vários livros ao mesmo tempo, também escrevo vários ao mesmo tempo. Se estou escrevendo uma peça de teatro e me vem a ideia de um livro infantil, passo, então, a escrever os dois. E se me vem a ideia de um romance, começo a escrevê-lo junto com os outros dois e assim vou nesse caminho de rato.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Escrevo porque gosto, mas também porque necessito. Eu dependo da literatura para sobreviver. Tenho duas profissões, a de professor (de literatura) e a de escritor. Uma renda complementa a outra. Quanto à segunda pergunta, a leitura fez com que eu me tornasse um escritor. Comecei escrevendo crônicas, influenciado pelos grandes cronistas brasileiros que os lia compulsivamente, como Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Leon Eliachar, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos, (José Carlos) Carlinhos de Oliveira.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Não tenho um estilo próprio. Nesses trinta e tantos anos de literatura, já escrevi quase de tudo: poemas épicos (ao estilo camoniano, com os seus decassílabos em oitava-rima), poemas satíricos e epigramáticos, peças de teatro (comédias, autos e dramas); romances (adultos e juvenis); novelas, contos, crônicas, livros infantis; biografias, ensaios, obras didáticas, adaptações (de fábulas, de lendas africanas e folclóricas, de parábolas bíblicas, de peças de teatro, como 14 peças de Gil Vicente, um autor que admiro muito) etc.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Já publiquei 137 obras, por isso acho um tanto difícil recomendar livros meus, mas vamos lá: “Dez Fábulas Fabulosas” (uma adaptação de dez fábulas de Esopo, escritas em verso. O interessante das fábulas é que elas servem para leitores de todas as idades – Editora Mais que Palavra); “A Cama em que Morreu Tiradentes” (uma novela em que história, humor e ficção se misturam – Editora Penalux); “Deu a Louca no Pepê” (uma bela obra infantil, publicada pela editora Coralina).