Alexandra Vieira de Almeida é escritora, doutora em Literatura Comparada pela UERJ.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim. Acordo cedo porque tenho muitas obrigações a cumprir, como ir ao correio e interagir com outros amigos escritores. Quase diariamente vou ao correio para postar coisas relativas à literatura, como a participação em um concurso literário, uma troca de livros entre autores e cartas para escritores que não utilizam a internet, como, por exemplo, Olga Savary, que prefere se comunicar à moda antiga através de cartas e não por e-mail. No nosso universo literário, há uma mistura de gerações e isso é encantador. Comunico-me com muitas pessoas e minha rotina matinal tem a ver com a literatura, é claro. Só trabalho à tarde e à noite em uma escola de Ensino Médio, fazendo trabalhos burocráticos, o que gosto de fazer. Além disso, sou tutora de ensino superior à distância na Faculdade de Letras da UFF, pelo consórcio CEDERJ. De manhã, também costumo corrigir provas dos alunos e responder às dúvidas deles na plataforma online. Tenho uma rotina muito atarefada na parte da manhã, pois neste horário não trabalho na escola e isto me dá espaço para realizar tarefas na área da literatura. Também nesse horário, ajudo minha mãe idosa com os trabalhos domésticos, como ida ao mercado ou ajuda em casa mesmo. Minha mãe é muito comunicativa e uma grande amiga. É nesse horário matinal que tenho mais contato com ela, pois quando chego do trabalho, ela já está dormindo. Agora, nos finais de semana, minha rotina matinal é alterada, pois procuro descansar mais das tarefas de toda semana. Dessa forma, acordo mais tarde, por volta do horário do almoço e procuro me divertir, indo ao cinema, ao teatro ou lendo um bom livro. No momento, estou lendo “Outros cantos”, da premiada e aplaudida Maria Valéria Rezende e estou adorando. Sua escrita é muito bela e impactante. Na minha rotina não tem espaço para a escrita, pois é durante à noite e de madrugada que minhas ideias fluem melhor neste campo do poético. Minha rotina matinal é muito interessante. Reservo para os momentos de muito trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
É durante a noite e de madrugada que minhas ideias surgem com mais ímpeto. Sou notívaga. Fiz uma crônica sobre isto, que está publicada no meu site de literatura. Acredito que neste horário surgem os fantasmas dos nossos escritos, suas sobrevidas. É nele que o tempo corre de outra maneira no silêncio e murmúrio das nossas vozes internas. É muito bom escrever nesse momento em que nada nos atrapalha. Não há interferências, só podendo ser possível ouvir as vozes de dentro, acorrentadas pelos dias de fúria. Não tenho ritual de preparação para a escrita. Costumo pesquisar dicionários para que alguma palavra desperte o encontro dessas vozes. Mas nem sempre faço isso. Deixo o momento absoluto da escrita ganhar corpo quando olho para a tela branca do computador, como se aquele espaço virgem me convidasse para o entreolhar dos versos ou das frases. Aliás, o momento da escrita desta entrevista se deu justamente nesse momento. Tanto que não escrevo só poemas nesse tempo. As resenhas críticas que faço sobre outros autores se densificam melhor nestas paragens da noite e da madrugada, quando os apelos desta voz, que não quer calar, explodem em significados. Não sei explicar qual a armadilha que nos prende nestes momentos da escuridão. Mas a densidade noturna me afeta profundamente, fazendo-me crescer como escritora. Algumas vezes, produzi textos durante a tarde, mas isto é raro. De manhã, não tenho esta rotina, que reservo para outros afazeres, como disse anteriormente. O trabalho do escritor é satisfazer o apelo do inaudível que o silêncio deste momento nos traz. Acredito que esta seria uma explicação plausível, mas é no mistério das palavras que as coisas se dão. Portanto, divago tranquilamente nas noites e madrugadas neste oceano obscuro das letras.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária. Escrevo em períodos concentrados, quando penso em produzir uma nova obra ou texto. Acredito que a rotina diária me afugente de escrever com mais ânimo. Tem momentos que minha escrita flui com mais facilidade. Sou uma atenta observadora da realidade. Quando algo me encanta profundamente, isso serve de matéria para meus escritos. É preciso que algo impactante surja na minha vida para me mover à escrita. Quando escrevi o meu mais recente livro de poesia, “A serenidade do zero”, publicado pela editora Penalux, em 2017, algo muito forte sobressaltou minha vida para que tal livro surgisse. Foi um momento de muita concentração de forças que me fez expelir de dentro tal criação nova. Algo novo se deu que não consigo explicar com maiores detalhes. As relações humanas nos ensinam muito e nos impactam de tal maneira que fazem aflorar novos sentidos na nossa busca pela palavra. Ninguém sai ileso desta guerra diária que é a nossa vida em todos os momentos. Meus livros são muito diferentes um do outro. Há várias formas de escrita que refletem diferentes momentos na minha vida. Meus primeiros livros de poesia são mais oníricos e herméticos, mais ligados ao inconsciente. Meu novo livro de poesia reflete mais a nossa realidade, pois algo impactante se deu na minha relação com outros seres no dia a dia. Eu levei dois anos para escrever tal obra. Mas isso não se deu de forma contínua. Trabalhei nele arduamente, é verdade, mas tal fluxo de ideias surgiram em períodos concentrados, que me fizeram lembrar desses momentos grávidos de silêncio e temor ao mesmo tempo. Senti-me invadida por memórias destes fatos que me impactaram profundamente e que me transformaram hoje nesta pessoa que sou, mais madura e autoconsciente de meu processo literário.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita tem vários momentos. Primeiramente leio muitos livros para ter uma excelente bagagem literária. Por exemplo, em “A serenidade do zero”, tive influência de vários autores e da meditação oriental, principalmente através do escritor Manoel de Barros, que falava de um “antesmente verbal”, de uma “despalavra”. Tento desconstruir a divisão binária construída pela tradição ocidental nesse livro. O livro surgiu de uma maneira, mas foi reescrito, tanto formalmente como no aspecto do conteúdo. Fiz duas versões do livro e escolhi a última, que apresenta mais leveza, como o título requer. Não tenho dificuldade de começar a escrita, o difícil é terminá-la, fechá-la com chave de ouro. Costumo reescrever o que flui no início mais naturalmente, pois o trabalho do escritor é lapidar seu texto com esmero e dedicação. O ofício do escritor não é fácil. Platão dizia que o poeta é tomado por um deus. Acredito mais na concepção do poeta Paul Valéry que dizia que o trabalho da escrita é difícil e requer muito esforço. A criação é algo fabuloso que requer muita pesquisa e elaboração mental. Não pode ser jogada de qualquer jeito. É preciso que um trabalho meticuloso se faça com grande atenção e cuidado. Meu trabalho segue à risca este dom de trabalhar a palavra com retoques sempre renovados, como se o texto esperasse um expandir-se para outros planos mentais. É preciso sim mexer no texto, tirar a sua placidez de estátua e dar-lhe movimentos sempre renovados.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Há momentos em que não consigo produzir um bom texto. E olho para ele e vejo que falta alguma coisa. Estes momentos de “não-criação”, e não digo falta de inspiração para não soar esotérico ou algo parecido, deixam qualquer escritor desanimado. Mas tento lidar com isto da melhor maneira possível, lendo mais para meu próprio enriquecimento literário ou me envolvendo com outros projetos para que a criação seja possível. Às vezes nos desertificamos e não vejo isto como inteiramente negativo. Pois é nestes momentos de vazios que, talvez, surja aquela grande ideia que estava guardada às sete chaves. Acredito que todo escritor passe por momentos de esvaziamento e plenitude, aliados e não inimigos mortais.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso meus textos várias vezes antes de mostrar para alguém. Geralmente mostro para familiares e amigos mais próximos, num primeiro momento para que eu me sinta mais segura para continuar. Minha mãe é uma leitora atenta e eficaz que sempre está me dando conselhos. Luiz Otávio Oliani, meu grande amigo e excepcional poeta me dá várias dicas e lê meus poemas com bastante cuidado. Ele até mesmo vibra com minhas resenhas sobre outros autores. Costumo resenhar diversos autores e isso me dá muito trabalho pela leitura atenta da obra resenhada. Não sou boa revisora gramatical. Já tive excelentes revisoras, como Rose Cléa Costa e Claudia Manzolillo. Inclusive, no meu livro infantil sobre Xandrinha e seus amigos, tive várias dicas de Rose Cléa sobre meu processo de escrita, que me fez crescer muito como escritora de livros infantis. Também produzi juntamente com a ilustradora Giselle Vieira uma série ilustrada “Xandrinha e seus amigos”, em que a personagem sou eu mesma com dez anos. Uma menina que ama a poesia e os livros. Mostrei primeiramente esta nova ideia de produzir livros infantis para algumas pessoas de confiança e o resultado foi maravilhoso. Se não fosse a opinião dessas outras pessoas, minha ideia não teria recebido o relevo que o livro ganhou. Ele teve grande repercussão na mídia e dei algumas entrevistas para rádios sobre o assunto. Acho o trabalho de revisão, tanto nosso como de outras pessoas indispensável.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Os meus primeiros escritos foram rascunhados à mão, mas com o avanço da tecnologia, não consigo escrever no papel aquilo que o computador me facilitou. Atualmente todos os meus escritos são lançados diretamente no computador. A tecnologia me ganhou. É muito difícil eu rascunhar algo à mão. Acredito que há vários tipos de escritores na sua relação com a escrita. Ainda há aqueles que preferem escrever à mão, o que não é meu caso. A tecnologia tem me servido como suporte para a escrita. Vejo na tecnologia não algo que vá atrapalhar o escritor na sua caminhada, mas como grande aliada. Uma ferramenta imprescindível para qualquer escritor. Há muitos concursos de poesia que pedem para o autor imprimir seu texto para envio pelo correio, mas acredito que isto vai mudar e as inscrições vão ser cada vez mais online para facilitar a vida do autor. Quando eu era pequena, a partir dos dez anos, comecei a escrever meus primeiros poemas à mão e com a “tecnologia” da época, as máquinas de escrever, datilografei meus versos na fase mais adolescente e hoje os tenho guardados. Foi a partir deles que surgiu a ideia de produzir livros infantis. A tecnologia tem auxiliado muito na divulgação de meu trabalho a partir de sites, revistas e jornais virtuais. Quanta beleza a tecnologia produz, não vivo sem ela.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Procuro a originalidade acima de tudo nos meus escritos. Tenho uma escrita própria nas minhas páginas. Mas se não fosse a intensa leitura que tenho, nada disso teria surgido. Para sermos escritores antes temos que ser leitores das grandes obras para que elas sirvam de referência e apelo para nossos sentidos mais apurados. Para ser criativa, sou devoradora de livros. Outra coisa criativa são as nossas relações humanas, pois são delas as criações mais lindas. Não só nossa relação com o outro, mas com a natureza, com o cosmos, com todo esse mundo maravilhoso em que vivemos, mas que também tem seus espinhos. Outro fato que me dá impulso ao processo criativo é a leitura atenta dos meus amigos que me dão forças para eu continuar acreditando. As escritoras Astrid Cabral, Lina Tâmega Peixoto e Raquel Naveira são outras grandes incentivadoras. Elas me dão suporte e opiniões valiosas para meu próprio crescimento. Penso que essas são as coisas fundamentais para nosso processo criativo: a leitura árdua, a nossa relação com a realidade e as pessoas e o feedback dos nossos pares escritores.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Meu processo de escrita está mais amadurecido. Ganhei experiência ao longo dos anos. Estou mais autocrítica e autoconsciente. O prefaciador de meu livro “A serenidade do zero”, Marcos Pasche, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, me disse que tive um amadurecimento maior nesse novo livro. Acredito que o tempo seja o maior medidor de nossa experiência literária, pois é ele que nos conduz a novas vivências e leituras. Igor Fagundes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, amigo, poeta, ensaísta excepcional, me relatou que antes eu só tinha o voo na minha escrita, mais ligado ao lado imaginário. Hoje ele me disse que consegui alçar o voo, mas agora tenho o pouso, para que o contato com a realidade não se perca. É preciso que o espelho seja o outro e não apenas nossa face narcísica. Ao nos olharmos com os olhos dos outros, crescemos e amadurecemos, para que o espelho não se quebre apenas com nossa autocontemplação. É indispensável o olhar maduro do outro para que nossa criação não se perca num divagar no oceano do delírio. Cresci bastante nestes últimos anos e penso que daqui por diante a raiz vai fincar suas partes em outras paragens mais ricas e fecundas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um grande projeto que é construir uma novela e um romance. Para isso estou estudando bastante. Vamos ver se vai dar certo. Já escrevi alguns contos e crônicas como aperitivos para textos mais longos. Gostaria de escrever um romance futurista. Tenho o objetivo de ler alguns textos científicos para expandir minha mente para outras paragens. Acho difícil a técnica da escrita de romances. A poesia me dá uma liberdade maior. Quem sabe neste ano inicio a escrita de um romance. Estou pesquisando a fundo a técnica do romance. Tenho muita leitura teórica sobre o assunto, pois fiz doutorado em Literatura Comparada. Falta a experiência de ler cada vez mais romances para que o intento se realize. É um grande projeto e tenho grandes expectativas em realizar tal experiência. Tomara que eu não me desaponte, pois a frustração seria terrível, algo difícil de contornar.
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Atualização publicada em 5 de junho de 2020.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Depende.
Não há uma regra específica. Há momentos em que quero criar um projeto e me disponho a escrever tantas páginas por dia até a finalização do trabalho. Mas há outros momentos em que a escrita flui espontaneamente e que, depois, a partir do burilamento estético, vou limpando as arestas até deixar a obra perfeita. Todas as etapas da escrita são árduas, desde a primeira frase à última, tento me aperfeiçoar o tempo todo. Tanto o início como o fim são cíclicos e demandam o mesmo esforço. Acredito que iniciar algo é difícil assim como fechar o texto com algo inesperado. O desfecho tem de ser algo incomum e inusitado, assim como o começo algo que desperte a atenção do leitor para continuar. O escritor tem de enigmar e prender o seu leitor da primeira até à última linha.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Sim. Tenho muitos projetos e trabalhos o tempo todo. Além de ser professora na Secretaria de Estado de Educação, sou tutora de ensino superior a distância. Além disso, faço resenhas para a Editora Penalux, que sempre reconheceu meu trabalho como escritora e crítica. Faço várias coisas simultaneamente. Posso escrever poemas e contos ao mesmo tempo. Assim como escrever resenhas e me dedicar às obras literárias. Sou camaleônica e me transfiguro a cada trabalho que faço. Por exemplo, estou escrevendo dois livros ao mesmo tempo. Um livro de poemas, cujo objetivo é completar 33 poemas. 23 já estão prontos. E uma novela, na qual já tenho 12 páginas prontas. Pretendo escrever este livro em prosa com cerca de 80 páginas. Ainda tenho um bom caminho pela frente. Mas já criei os títulos antes de as obras ficarem prontas, embora muitos escritores só escolham o título após a finalização do livro. O livro de poemas vai se chamar “O pássaro solitário e outros poemas” E a novela, “O cântico de Medusa”.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Duas coisas me motivam para a escrita. A leitura de grandes obras e a minha reflexão sobre a realidade circundante. A partir da leitura de outros autores, emociono-me a cada nova página lida e isso me incentiva para que novas obras sejam criadas. A leitura sempre foi o motor da minha escritura. Com ela, invado mundos diversos, quero criar mundos possíveis a partir da minha literatura. Também bebo na fonte do real, pois minha escrita se insere profundamente nas vivências que sinto, transformando a partir do papel um universo criado com relação à existência. Como dizia Goethe, “o poeta é poeta por saturação da experiência”. Apesar dos meus primeiros textos serem mais herméticos, oníricos e lidarem com um estágio de maior inconsciência e dar um golpe no real, é por esse mesmo real que eles se movem, distorcendo-o. É preciso de uma matéria-prima para que o trabalho inventivo se torne presente. Por isso digo, a leitura e a realidade são o leitmotivno qual se move a minha criação pelas palavras. Comecei a me dedicar à escrita desde a infância. Desde os 10 anos escrevo poesia. Tenho 30 poemas da infância e da adolescência guardados até hoje. Tanto a escola como minha mãe foram minhas principais incentivadoras. Minha mãe é muito inteligente apesar de não ter tido tanto estudo. Ela desistiu da escola muito cedo, mas sempre gostou de ler e é muito bem informada e culta. Devo o meu gosto pela leitura e pela escrita à minha mãe Clea. Também muitos professores tiveram este incentivo para a literatura.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Os poetas que mais me influenciaram no meu processo de escrita foram Rimbaud e Murilo Mendes. O primeiro, pelo transbordamento de imagens e o segundo, pelo apelo surreal. Consegui criar um estilo próprio sem dificuldades, pois senti que a criatividade jorrou espontaneamente a partir da leitura de outros. Apesar da intertextualidade presente em todo o escritor, não fiquei presa a isso. Soube me libertar da relação fonte-influência e criar uma dicção toda própria. Isso se deu pelo meu poder de imaginação que só pode ter sido realçado com a leitura. Uma vez, a grande escritora Olga Savary me disse que conheceu vários escritores que não tinham estilo próprio, mas que eu tinha uma marca, um carimbo com meu nome Alexandra. Isto me encantou e me deixou muito feliz e honrada.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Posso recomendar um livro de outrem e dois meus. O livro “Repertório selvagem”, de Olga Savary. É uma coletânea reunindo os grandes poemas da autora. É um livro grandioso, pois vemos os temas mais recorrentes da escritora neste livro magistral, como a temática indígena, os haicais, a poesia erótica e imagética, com grande riqueza literária. E meus dois mais recentes livros de poemas, “A serenidade do zero” e “A negra cor das palavras”. O primeiro por ser uma reflexão a partir da tranquilidade, ou seja, pela serenidade eu busco refletir sobre o significado do vazio, da página em branco, um estágio anterior à criação. O segundo, por trazer uma temática social com sutileza, ou seja, a negritude, sem ser panfletária. Procuro revelar a potência de uma raça que foi tão oprimida e mostrar as diferenças e analogias entre as cores negra e branco, fazendo até algo como uma brincadeira, ao apresentar o negro como a tinta preta da criação e o branco como a potência do vazio que se apresenta como novidade.