Alexandra Magalhães Zeiner é escritora, curadora e Embaixadora da Paz, residente na Baviera, sul da Alemanha.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente levanto cedo com uma prece e um mantra de agradecimento abre meu dia. Uma herança dos meus Mestres de Yoga, que acordavam todos os dias às 4h da manhã.
Confesso ser viciada em meu café matinal e desde que conheci a qualidade do café das Matas de Minas, não existe outro tonificante igual, fica a dica para amantes de um café especial.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Como aprendiz das letras, notei ao longo dos anos que, durante a noite, sempre tive as melhores visualizações. Explicando melhor, escrevo baseada “em quadros” que vejo, tipo um sonho acordado, o que eu aprendi ainda na infância.
Acredito que rituais de preparação são essencialmente uma opção que cada um pode desenvolver ao longo dos anos. No meu caso particular amo a natureza, minha fonte de inspiração, e por isso preciso de longas horas ao ar livre, independente da estação do ano, caminho horas no final do dia. Depois sento e escrevo. Talvez este seja meu ritual, pois minhas obras estão intimamente ligadas à natureza.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quando os sentimentos invadem a alma, maneira única de traduzir e entender emoções. Sinto-me guiada desde a publicação do meu primeiro livro em 2011. O processo vivido durante o primeiro e segundo livro bilíngue (O filho do boto cor-de-rosa e A menina e a onça pintada) foram semelhantes. Páginas fluiram durante dias e semanas(em dois idiomas simultaneamente). Mas também existiram dias quando nada parecia fazer sentido!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é intuitivo, por isso penso que estabelecer metas nunca funcionaria comigo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Caminho até um lugar calmo e isolado do rio e lá fico observando a água correr entre as pedras… A água corre infinitamente nesse lugar, durante secas e enchentes, algumas vezes forte e outras fracamente… A mente trava, enquanto a escrita flui. Aprendi que acalmando a mente enxergamos claramente as expectativas como armadilhas e dessa forma conseguimos conviver melhor com medos, travas e procrastinação. Enfim, o processo de transformação é menos doloroso quando aceito com naturalidade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sinceramente, o que eu faria sem essas pessoas mágicas que revisam / revisaram meus livros? Primeiro porque eu era inexperiente no campo literário, escrevia sobre minhas pesquisas e a literatura infantil, assim como a poesia, requerem uma outra linguagem.
Considero-me uma aprendiz, atrevi-me a publicar meu primeiro poemário (SobreVivente) porque minha revisora, Clevane Pessoa, me encorajou e incentivou durante anos. Uma editora alemã-brasileira chamada Gira Brasil aceitou meu projeto e uma um segundo poemário (Incondicionalmente Eu) será lançado em breve por uma editora brasileira, a Sangre Editora.
Gostaria de agradecer de coração aos revisores de português dos meus livros, os quais também escrevem maravilhosamente bem: Alaercio Zamuner, Clevane Pessoa, Luiz Carlos Amorim e Sonia Palma.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou muito grata por todos os recursos que a tecnologia oferece atualmente. Por exemplo, levo meu celular durante minhas longas caminhadas e declamo poemas no bosque ou no rio, recantos naturais próximos de onde resido. Passado alguns dias escrevo em um papel ou direto no computador. Ou acontece tudo ao contrário! No fim o poder da mente é maior.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sem a convivência diária com a natureza eu jamais criaria e/ou escreveria. Os hábitos ou rituais repetem-se, ou melhor fluem, mantendo vivo o processo criativo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudamos constantemente ou eu sou assim, um ser mutante por natureza. Olhando por esse lado acho que não posso analisar criticamente o que já publiquei. Cada livro, cada poema, cada artigo teve uma motivação e mesmo duvidando de mim mesma tive coragem o suficiente para submeter o projeto para meus editores, que aceitaram o desafio de publicar. Sou grata principalmente ao meu editor americano, Fequiere Vilsaint e a Educa Brazil & Educa Vision.
Voltando ao passado eu repetiria novamente o que ouvi em épocas de dúvida: tenha fé no que escreve, coragem, continue!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos os quais esperam o momento certo para serem submetidos e apreciados, pois são bem diferentes dos modelos atuais, por isso prefiro aguardar a hora certa.
Gostaria de ler mais publicações sobre mulheres que marcaram a história do Brasil e da América Latina, na maioria desconhecidas que muitas vezes abriram mão de sua vida para dedicarem-se à causas sociais. Nossas ancestrais, heroínas de diferentes raças e raízes, a quem devemos toda grandeza desse país chamado Brasil.