Alê Motta é escritora e arquiteta, autora de Interrompidos.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Gosto de acordar cedo para aproveitar bem o dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo em qualquer horário, um pouco mais pela manhã, antes de sair de casa, no computador ou no celular. Em cadernos eu anoto detalhes.
Quando termino um texto, envio por e-mail para mim mesma. É uma mania que tenho. Com isso eu não perco as atualizações e posso consultar as modificações. Funciona bem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias. Não tenho meta. Escrevo o que desejo escrever.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nunca sei o que vou escrever. Sento e escrevo. Não faço um esboço ou algo do tipo. O que vem é sempre inesperado para mim.
Funciona assim: escrevo e deixo o texto por um tempo descansando. Preciso desse tempo distante. Depois de alguns dias volto a ler. É importante para mim que o texto descanse. Nessa volta ao texto eu o mantenho como está, modifico ou descarto.
Outra coisa que gosto bastante de fazer é ler o texto em voz alta.
Quando dou os passos iniciais e imagino um pouco o que é o projeto, começo a selecionar leituras, lugares, fotografias – tudo montado em torno do tema.
Gosto de pensar completo – texto e fotos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não penso nessas questões. Escrevo. É gostoso demais escrever. Não consigo evitar. Claro que muita coisa vai para o lixo. Mas isso não me impede de escrever. Escrever para mim é inevitável.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Alguns dos textos do meu livro Interrompidos foram escritos durante a oficina de escrita feita com a Adriana Lisboa. Depois fiz outra oficina com Marcelino Freire. Eles e os colegas destas oficinas viram partes do livro. Na oficina da Adriana fui desafiada a começar o projeto. Na do Marcelino o desafio foi completar. As oficinas são espaços desafiadores. Somos motivados a produzir.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no celular ou computador. Em cadernos escrevo apenas anotações de apoio para os projetos que vou desenvolver.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O dia-a-dia traz ideias. Eu não gosto de estórias perfeitas e óbvias. A vida não é óbvia. A escrita também não deve ser. Gosto da acidez, do humor negro, do susto, do inesperado.
Andar na rua, observar o trânsito louco, a fila do mercado. As pessoas – incríveis, malucas, dóceis e grosseiras.
Ler muito. Contos, romances.
Enfim, a vida!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Acho impossível qualquer pessoa permanecer igual com o passar do tempo. Nossa escrita tem a ver com o que vivemos, reflete nossas lutas, nossos anseios.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou trabalhando em dois projetos no momento. Não sei o que virá. Ainda estão em andamento. Minha intenção sempre é contar muito, escrevendo pouco.
Quero agarrar o leitor, fazê-lo ler e reler. Ficar curioso. Refletir. Para mim as melhores leituras são as que inquietam.