Alberto Mussa é escritor, autor de A Hipótese Humana.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo cedo, 5h30, e começo a ler ou a escrever enquanto faço café.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho de manhã, até mais ou menos 12h30. Não tenho rituais.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em períodos concentrados. Planejo e leio muito antes de começar a escrever. Não tenho metas fixas, só a de escrever todos os dias da semana. Por isso, detesto feriados.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começo lendo. Livros de mitologia. Até que surge uma questão que considero relevante. Penso em como usar essa questão num romance. E escrevo o título, que resume a ideia. Sem título, não escrevo. Nunca modifiquei um título. O título é tudo, o resumo de tudo nos meus livros. Então, começo a pensar, a escrever fichas das personagens, a montar o roteiro da história, a súmula de cada capítulo. Quando a estrutura está toda pronta, começo a escrever. Pode mudar uma ou outra coisa, mas a base está sólida. O livro nasce disso. Planejo por dois anos, em média. Escrevo em um.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho esse medo. Escrever é uma técnica, é um trabalho como outro qualquer. A trava surge se a técnica não foi bem empregada ou bem escolhida. Ou se você comete erros. Mas tudo se corrige.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso infinitas vezes. Leio tudo do começo sempre que vou recomeçar. Mostro para vários leitores, e converso sobre o livro antes mesmo de começar a escrever.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meus primeiros livros foram escritos à mão, depois datilografados no computador. Agora, de uns três livros pra cá, já datilografo direto.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Dos livros que leio. Dos problemas que percebo lendo. Minha fonte é sempre a mitologia. De preferência, ameríndia e africana. Mas entra muito da cultura árabe clássica e pré-islâmica. Mitos gregos e bíblicos também têm alguma participação.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Amadureci, ganhei experiência, passei a dominar de forma mais consciente o meu processo. Só isso. Mas não diria nada sobre mim, acharia inverossímil.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vários projetos rascunhados: romances sobre o jogo do bicho, macumbas e escolas de samba; sobre as bandeiras; sobre piratas. E alguns ensaios: sobre os mitos do fogo, sobre a mitologia brasílica. Além de um Atlas histórico do romance brasileiro. Vou escrever todos, se não morrer antes. Mas um livro que não existe ainda não me interessa.