Aicha Eroud é associada do International Center for Criminal Studies, colunista do site Sala de Aula Criminal.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu sempre tive o hábito de acordar cedo. Gosto da vida matinal, bem como penso que é muito prazeroso aproveitar as manhãs para meditar acerca de vários temas. Sempre busco, por meio das indagações, as respostas e soluções para as problemáticas em estudo. Assim, considero o começo do dia o momento mais propício para refletir. Gosto de acordar com calma, tomar um bom café acompanhado de uma ótima conversa. Penso que iniciar a rotina matinal com uma boa dose de gratidão por mais um dia é o grande passo para almejarmos valorosas conquistas ao longo da vida. Atualmente, durante a semana, sempre sigo a mesma rotina, de manhã faço estágio e de noite vou à faculdade. Os meus dias costumam ser bem agitados.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não costumo ter o melhor horário para trabalhar. Desempenhar as atividades cotidianas sempre foi algo muito prazeroso. Para evitar o excesso de trabalho, haja vista que exerço várias atividades – sempre estou escrevendo, pesquisando, participando de eventos e palestras, faculdade, estágio, família e vida social –, faço um gerenciamento de tempo com o intuito de aperfeiçoar o desempenho das atividades, conciliando-as com a boa qualidade de vida. Afinal, não há de se falar em bom desempenho se a vida estiver conturbada pelo excesso. No tocante ao ritual de escrita, escrevo a qualquer momento do dia. Já tive ideias geniais em conversas simples. Anoto tudo!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrever todos os dias faz parte da minha rotina, assim como respirar faz parte da minha existência. A minha principal meta estabelecida é sempre aprender com o passado, dedicar no presente para me aprimorar no futuro. Estamos em constante evolução. Não costumo estabelecer metas no tocante à quantidade de escritas que devem ser produzidas ao longo de um determinado período. Trabalho conforme vem a inspiração.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente, os temas que escrevo sempre nascem de conversas, reflexões ou da leitura. Assim que tenho definido um tema, eu pesquiso sobre durante o tempo que for necessário, dependendo da complexidade. Somente depois de muitos estudos eu parto para a escrita. Aí tudo flui com muita naturalidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não costumo postergar os meus afazeres, inclusive penso que a procrastinação encontra-se interligada à falta de estabelecimento de metas definidas com maturidade, ao ponto de compreendermos que o pretendido a ser alcançado demanda uma longa jornada percorrida e muita abdicação. É uma escolha. Não existe caminho fácil, e deixar o que necessita ser feito hoje para fazer amanhã é uma das formas de não progredir, ao mesmo tempo em que a mente se ocupa daquilo que precisa ser feito, e não o é. Outra barreira que muitas vezes é imposta por nós mesmos é a criação de expectativas, principalmente as que são condizentes aos pensamentos e opiniões dos próximos. É impossível agradar a todos, haja vista que cada ser é um universo em si. Sempre haverá opiniões contrárias, e é exatamente nessa colisão de considerações divergentes que crescemos e evoluímos como seres humanos. Escreva, sem medo. Mas na escrita jurídica é recomendável o embasamento com doutrinas, leis e jurisprudências. Desse modo, por mais extensa que seja a escrita, não haverá maiores problemas com o desenvolvimento textual e com as ideias que forem surgindo, haja vista que estarão todas fundamentadas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depois de pronto, costumo ler duas ou três vezes, efetuando assim, uma revisão cautelosa da minha escrita. Quando escrevo com outros autores, revisamos o texto em conjunto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
É inegável que a tecnologia facilita a vida dos escritores e pesquisadores. Hodiernamente, dispomos de uma comunicação facilitada. Eu, por exemplo, utilizo vários aplicativos de comunicação, por meio dos quais sempre recebo e compartilho ideias e informações, agregando dessa forma, imprescindíveis auxílios e conteúdos importantíssimos para o meu desenvolvimento enquanto acadêmica, pesquisadora e escritora. No tocante ao rascunho, eu o faço de várias formas, o qual varia de acordo com o momento que surge a ideia. Recordo-me de uma conversa entre eu e minha mãe, a qual versava sobre o tempo. Nisso me veio vários questionamentos relativos ao tempo, mas voltados para a área jurídica. Parei o carro e gravei minhas indagações e ideias acerca do tema no próprio gravador do celular. Também utilizo cadernos, notebook e tantos outros dispositivos e métodos que possa registrar os conteúdos necessários. Todo o auxílio é bem-vindo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
No tocante ao surgimento das minhas ideias, não tenho como responder de forma precisa. Somos uma infinidade complexa de pensamentos. Eu, particularmente, sou uma pessoa muito curiosa e ávida em buscar as respostas. Entro na faculdade com uma dúvida e costumo sair com outras dez. Por inúmeras vezes questionava meus saudosos professores após a finalização das aulas. Eles, pacientemente, me sanavam as dúvidas. E, no meio dessas conversas, sempre acabávamos escrevendo artigos, os quais estão publicados em diversos sites jurídicos. O apoio deles sempre foi de grande valia. O maior hábito que podemos cultivar para mantermos a criatividade sempre ativa é a curiosidade e a incessante busca pelas respostas. É isso que alimenta a minha alma e nutre o meu ser.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
É incontestável que estamos constantemente expostos às mudanças. Por esse motivo, a cada escrita, me aprimoro. A cada leitura, cresço. A escrita é algo que sempre me acompanhou desde muito cedo. É um pouco complexo apontar com precisão quais foram as mudanças nesse processo evolutivo. Todavia, sempre busco me aperfeiçoar. Gosto que a minha escrita seja compreensível e acessível a todos, inclusive aos que não são da área jurídica. Tento evitar terminologias complexas ou próprias do Direito quando se trata de publicações em sites jurídicos. Afinal, todos somos destinatários desses direitos e, por isso, penso que é pertinente a utilização de uma linguagem inteligível. Gosto que todos leiam e compreendam. Se eu pudesse me reencontrar quando criança – época que iniciei as minhas primeiras escritas – diria a mim mesma: “Que orgulho de você garota. O céu é o limite! Não será fácil, mas valerá cada segundo dedicado. Siga assim”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um dos projetos em análise é a escrita de um livro. Penso em iniciá-lo após o término da graduação. Seria uma imensa alegria ler um livro escrito só por mim.