Aguinaldo Tadeu é escritor, autor de 32 cartas (7 Letras).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho muita rotina, mas costumo começar cedo, por volta das 6h30. Faço meu café e vou para a academia ou para o curso de inglês. Quando consigo, tento escrever pela manhã, antes de ir para o trabalho por volta de meio dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu prefiro escrever pela manhã, quando a cabeça está descansada. Nem sempre consigo, mas acredito que pela manhã as ideias rendem mais. Não tenho ritual de preparação. Apenas costumo fazer uma oração e vou direto para frente do computador escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Infelizmente, não tenho conseguido escrever todos os dias, como gostaria e deveria. Acho que minha meta diária é conseguir escrever um pouco todos os dias. Escrever todos os dias me deixaria bastante feliz e realizado no meu trabalho de escritor.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não tenho um processo disciplinado de escrita. Quando as ideias aparecem, eu pego um pedaço de papel e escrevo alguma coisa para não esquecer. Depois, com mais tempo, desenvolvo a ideia no computador.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que a minha maior dificuldade é mesmo a falta de disciplina, ou seja, fazer um monte de coisas e ir deixando a escrita para depois. Isso me incomoda muito. Mas quando me sento para escrever não costumo ter travas. Normalmente, as ideias aparecem e vou escrevendo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso até achar que está bom. Normalmente escrevo um texto e deixo-o guardado por alguns dias. Depois, com a cabeça fria, volto no texto e reviso. Isso pode ser feito algumas vezes até eu achar que está bom. Quanto a mostrar meus textos antes de publicá-los, isso depende, se for um texto curto, uma poesia, por exemplo, nem sempre mostro. Quando o texto é maior, como um conto, costumo mostrar sim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Normalmente escrevo no computador. Mas às vezes as ideias aparecem e estou longe do computador. Nessas horas, escrevo num papel mesmo, para não perder a ideia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Costumo dizer que o ofício de escritor é parecido com o ofício de minha mãe, que é costureira e faz aquelas colchas de retalhos coloridos. Como faz minha mãe, eu também saio recolhendo meus retalhos coloridos em várias fontes, como nos livros que leio, filmes que vejo, pessoas que converso, músicas que ouço, na observação do mundo e das pessoas à minha volta. O mundo está repleto de personagens. Cabe ao escritor ser um bom observador do cotidiano.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou foi a experiência com a escrita e com a leitura. Quanto mais a gente lê e escreve, mais a gente aprende, melhor a gente fica. Se pudesse voltar aos meus primeiros textos, seria mais disciplinado, para poder ler e escrever mais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou começando um romance histórico ambientado no Rio de Janeiro do Século XIX. Nesse momento, é o projeto que eu quero fazer e é o meu sonho atual.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Eu deixo fluir. Não tenho disciplina para muito planejamento. O mais difícil para mim vem depois da escrita, é a busca por uma editora. Infelizmente, num país que lê pouco e tão carente de incentivos à leitura, o mercado editorial está cada vez mais restrito.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não organizo muito. Eu tento reservar um tempo e sentar para escrever. Para mim, o mais importante é conseguir botar para fora aquilo que está em mim, querendo sair.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Eu acho que o mundo seria absurdamente insuportável sem a presença das histórias. Nós precisamos ter histórias para contar e histórias para ler ou ouvir. Sempre li muito e acho que começar a escrever veio naturalmente do bom leitor que sou.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Eu acho que o meu estilo está em permanente construção. Todos os dias, em todos os livros, com todos os autores que leio, estou sempre aprendendo. Estou sempre buscando aprender e melhor o meu estilo. Carlos Drummond de Andrade é um autor que estou sempre lendo e aprendendo. Drummond é inesgotável.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Eu poderia recomendar 30! Mas vou tentar ficar em três livros que gosto muito:
Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Marquez – gosto do ritmo desse livro. Cem anos é um livro acelerado, com muita coisa acontecendo, fascinante e incrível.
Gabriela, cravo e canela – Jorge Amado – é um clássico do autor baiano que também gosto muito. Ele nos traz a vida numa cidade do interior com toda a sua riqueza, seus contrastes e suas alegrias.
Ópera dos mortos – Autran Dourado – é um romance psicológico, enigmático e denso. Além disso, traz as coisas de cidade do interior mineiro, que tanto me identifica.
Alguma poesia – Carlos Drummond de Andrade – livro de estreia de Drummond. Maravilhoso, surpreendente e inesgotável.