Adriana Santiago é jornalista, escritora e poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia, após o café da manhã, olhando a agenda e vendo o que programei para fazer naquele dia. Contas a pagar, tarefas do dia-a-dia para fazer. Conforme o que está programado, parto para a ação. Meu dia se divide em: antes do almoço e depois do almoço. Antes do almoço, como o sol é menos quente e “castiga” menos, realizo as tarefas na rua (pagamentos, compras de supermercado e demais tarefas domésticas). A parte da tarde é reservada para realizar tarefas que gosto mais: escrevo, respondo a entrevistas, divulgo meu livro (recém-publicado “Flores e Borboletas em meio século de Poesia), faço minhas aulas de italiano (pela internet). Acredito que a disciplina é, sem dúvida, fundamental para conseguirmos cumprir as tarefas a que nos dispomos a fazer, além de evitar que a ansiedade tome conta. À noite, avalio o que não deu tempo de realizar, listo as coisas que devo fazer no próximo dia. Assim posso me desligar, pois está tudo ali, anotado.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A escrita é para mim, antes de tudo, um grande prazer. Adoro escrever e o faço desde criança (poesias e pequenas histórias, contos e crônicas). Sendo assim, a produção literária não representa sofrimento para mim. O processo de criação não é o mesmo sempre. Uma coisa tem em comum: uma idéia desponta em minha cabeça. O texto praticamente é feito, quase todo, pelo menos a sua estrutura, os caminhos que irá percorrer, na cabeça. Ou seja, o corpo do texto é estruturado no campo das idéias. Ali ele é gestado. Quando “escorrega” para o papel, é o parto. E como todo parto, é trabalhoso, mas é extremamente prazeroso. Olhar depois para o “filho” é muito gratificante.
Em comum, a gestação no campo das idéias. O que difere é o tempo de gestação. Algumas poesias são quase instantâneas. Fluem e correm para o papel ao mesmo tempo que surgem em mente. Outras requerem alguma pesquisa. Assim também para as crônicas e artigos/ensaios.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Antes não tinha meta. As ideias iam surgindo e eu ia escrevendo. Agora estou tendo que me organizar e fazer um tipo de planejamento da escrita. Isso porque estou com muitas idéias, muitas coisas para escrever. Portanto, se não me organizo, me perco e não consigo concretizar todos os projetos. Agora mesmo criei uma coluna no Facebook, que se intitula Coluna Portuguesa. De três em três dias posto um texto, não muito pequeno mas em uma certa medida que não espante o leitor, na qual conto sobre a viagem que acabo de fazer a Portugal. Estou aproveitando que as histórias estão bem fresquinhas, pipocando na cabeça, para não deixar passar nenhum detalhe importante da viagem. Portugal é lindo e tem muita história para nos contar. Na minha coluna faço um resgate da história e aproveito para salientar nossa forte ligação. Está ficando lindo, o público leitor está seguindo a coluna como se segue uma novela, aguardando o próximo capítulo.
São muitas idéias e muita coisa a ser escrita. Por isso, tem que se organizar muito bem para não se perder no mar de Letras.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como disse, para cada estilo de texto o processo criativo se difere. Por exemplo: na maioria das vezes, o poema “brota” em mim. Eu sinto a necessidade de escrever. Corro para o papel e a caneta (tenho sempre, sempre perto de mim, em toda bolsa minha tem um caderninho e caneta). Às vezes estou no meio da rua e não dá para escrever. Fico “martelando” aquela idéia até chegar em casa. Nesses casos, o poema flui inteiro, de uma só vez. Depois volto a ele trabalhando, trocando palavras, melhorando isso e aquilo, ajustando os versos, etc. Com as crônicas do dia-a-dia também é assim. Vejo uma cena. Esta cena me chama a atenção e dispara o gatilho da ideia. Chego em casa e escrevo de uma só vez e depois lapido.
Outros textos que preciso consultar datas, verdades históricas e nomes, aí sim preciso da pesquisa e durante esta, o texto se forma em minha mente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca senti que havia uma trava na escrita. Se está demorando a se formar o texto em minha mente, penso que ele ainda está por vir, está em processo de maturação e não chegou ainda a hora dele “nascer”. Dou tempo ao tempo. Deixo o texto livre para que ele apareça quando for a hora dele. Assim não tenho esse sentimento de procrastinação.
Há tempos passei por isso. Foi uma fase de vida. Fiquei longo tempo sem escrever poesia. Pensei que ela tivesse me abandonado. Fiquei triste. Mas esperei. Pensei: hora dessas ela volta. E assim aconteceu. Temos que ter um pouco de compreensão e paciência conosco, pois há momentos em nossa vida em que estamos mesmo improdutivos. Não somos máquinas. Por um motivo ou outro, tristeza, insatisfação ou qualquer outro sentimento que nos jogue na prostração, nos roube a inquietação e o prazer de viver, sucumbimos temporariamente e não escrevemos. Temos que ter paciência e cobrar menos de nós.
Quanto à corresponder às expectativas, sempre que lanço um livro me sinto nua no meio da rua. É normal. Mas se não passarmos por isso, não faremos nada. Portanto, arranquemos a roupa! As críticas construtivas e os elogios sinceros tratam de nos vestir novamente.
Ansiedade, projetos longos: uma certa ansiedade é normal. Temos que controlá-la, não deixar que tome conta de nós a ponto de nos deixar impassíveis e prostrados.
Além disso, tudo é aprendizagem diária, com o fazer, em cada texto ou poema.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso milhares de vezes. Sei lá quantas. Muitas! Não mostro meus trabalhos para niguém especialista. Mas mostro para minha irmã, um amigo… não com função de revisá-lo, mais com orgulho e alegria, como se dissesse: olha que bacana o que escrevi! O que você acha?
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo à mão por gosto. Mas se for para escrever direto no computador escrevo também. Já fiz isso várias vezes.
Minha relação com a tecnologia não é de amor, mas também não é de ódio. Sei o quanto preciso/precisamos dela e o quanto melhorou e facilitou a escrita. Portanto, uso como todo mundo usa: na medida do necessário. E à medida que vão evoluindo e aparecendo novas tecnologias, vou correndo atrás, me atualizando. Agora mesmo estou fazendo um curso de atualização em informática. Aprendendo a lidar melhor com as redes sociais, como me utilizar desses recursos tão ricos para divulgar meus livros… afinal, eu vivo nesse mundo e esse mundo é assim. Não adianta ser nostálgico, saudosista, ficar lembrando e querendo trabalhar de novo em máquina de escrever! Eu utilizei sim! E muito e foi muito útil naquele tempo. Agora são outros tempos. Temos que evoluir, andar para frente, acompanhar as evoluções tecnológicas, viver!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas idéias vêm do mundo em que vivemos. Um escritor precisa estar atento, antenado com o mundo em que vive. Escrevemos dentro de uma realidade histórica. Percebemos os problemas vividos neste momento pela sociedade e escrevemos sobre esses problemas. Escrevemos para alertar, para chamar a atenção para uma coisa ruim, ou simplesmente escrevemos para dar leveza aos dias. De qualquer forma escrevemos sobre o mundo em que vivemos. É daí que vêm as ideias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou muito o conteúdo da escrita, tanto porque o mundo mudou quanto porque eu amadureci, não sou mais adolescente, graças a Deus, e a maturidade e minha vivência, obviamente, me fizeram escrever de forma diferente. Mas o processo criativo é basicamente o mesmo, com um pouco mais de organização e disciplina – pelo menos tento isso.
Eu diria a mim mesma: parabéns! Você começou bem, com as limitações próprias daquela fase da vida, se aperfeiçoou com o tempo e as vivências, continua tentando melhorar cada dia mais. O melhor de tudo: você persistiu na busca da concretização do seu sonho: escrever, ser escritora. Continue…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto que gostaria de fazer é o que estou fazendo agora. O livro que estou escrevendo agora. Depois desse virá outro e mais outro. Cada um a seu tempo. Estou satisfeita assim. Mas uma história que não sai da minha cabeça é a da minha avó materna e a da minha mãe. Gosto muito da história de vida, da força feminina e do que essas guerreiras passaram para nós (eu e minhas irmãs). Quero conseguir concretizar a idéia da vida delas se tornar um livro.
Um livro que gostaria de ler e ainda não existe… não sei.