Adriana Aneli é escritora da Editora Scenarium.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Trabalho em home office, atualmente, o que me permite maior comunhão com as necessidades do meu corpo: acordo quando o cansaço não pesa nas pálpebras, o que acontece, normalmente, às 8h. Banhos e escovações… Meu dia realmente começa com a trituração dos grãos de café… Café moído e feito na Mokinha… Uma xícara bem grande enquanto verifico notícias e mensagens e estou pronta para começar o dia!
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho hora ou ritual. Trabalho com leitura e escrita a maior parte do meu dia. Para escrever literatura dependo daquele “click”, que normalmente acontece na fronteira dos prazos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Meu trabalho profissional depende de interpretação de texto e redação; muito embora seja relativo a assunto técnico (Direito) é um laboratório constante de escrita. Uso muitas das técnicas de redação forense para depurar o texto literário: brevidade, poder de síntese, clareza e objetividade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Dependo daquele “click”, como me referi acima, que nada mais é do que o insight do ritmo, o fio de Ariadne que vai costurar todo o material que reuni sobre determinado tema. Nunca escrevo sobre aquilo que desconheço. É preciso ler, estudar, confrontar opiniões para escrever algo novo, com referências e espinha dorsal, para que realmente faça a diferença.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Só há uma maneira: trabalhando. Entre escrever e publicar há um longo caminho. Porém, é preciso aceitar duas premissas: a) existe o tempo de maturação das ideias – daí que não é necessário escrever o tempo todo; antes, vale recolher material e ideias, ler outros autores. Desenvolver um pensamento crítico faz parte do processo criativo; e: b) os livros têm o seu destino – leve o tempo que levar, faça as curvas que fizer, um livro é como a vida, nada e ninguém nasce por acaso.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso inúmeras vezes, leio em voz alta, outras tantas, depois mais um pouco e, sim: divido com algumas vítimas os textos antes de entrega-los à publicação. Aceito críticas e critérios; altero o que tiver que alterar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Normalmente anoto uma frase ou a primeira ideia à mão, no papel mais próximo, ou mando mensagem para mim mesma no celular. Mas redigir é tarefa 100% executada no computador. Perdi a espontaneidade da escrita ligeira. Infelizmente.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias para meus textos são extraídas (dos absurdos) da realidade. A estranheza dos acontecimentos – para o bem ou para o mal – dá vida aos personagens dos meus contos ou poemas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A mudança mais tangível é a busca pela simplicidade. O texto tem que ser leve, não na sua mensagem, mas no seu aspecto formal, como a mão firme que carrega um pássaro até a janela para devolvê-lo ao voo, sem esmaga-lo. Eu diria para aquela menina que começou a escrever aos 14 anos: seja simples e escreva pouco. É o que repito hoje para mim, sempre.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu projeto é para um livro urbano, com matizes da arte de rua. Histórias e personagens que sobrevivem no coletivo, nestes anos de idolatria do ego.