Abili Lázaro Castro de Lima é Professor de Sociologia do Direito nas turmas de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Paraná.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho um “ritual” especial: nos dias em que leciono pela manhã, acordo por volta das 7h, tomo o café da manhã, reviso o conteúdo das aulas e vou para a Universidade. Nos demais dias, acordo por volta das 8h, tomo café da manhã e confiro e respondo os e-mails recebidos. Tudo isso acompanhado do olhar diligente da minha gata persa chamada Fauve.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Entre 8h e 17h são os horários em que produzo melhor, quando as “baterias estão totalmente carregadas”. Antes de começar a escrever, procuro resolver todas as pendências de compromissos, para que não haja interrupção. A única exceção são as interrupções aleatórias de todos aqueles que têm gatos em casa, mas estas (pular sobre o teclado do computador, deitar sobre o livro que se está lendo, etc.) são vistas como estímulos de inspiração para os amantes dos felinos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Prefiro escrever em períodos concentrados, porque nem sempre se tem inspiração e ânimo para redigir. Para mim, escrever é uma atitude prazerosa e seria incompatível com uma meta de produtividade diária. Em períodos concentrados a produtividade é muito maior e contribui para a melhora da qualidade da redação do texto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Primeiramente, realizo toda a leitura necessária e, concomitantemente, registro os pontos mais significativos. Em segundo lugar, estabeleço uma estratégia de aspectos a serem tratados, de tal forma que se produza um roteiro da escrita, no qual anoto as particularidades mais importantes da leitura. Por último, começo a redação. Para mim este processo contribui para estimular o ritmo da escrita, eis que antes de iniciá-la, se tem uma ideia do começo, meio e fim. Neste sentido, vale lembrar o diálogo de Alice e do gato (sagaz como sempre ele é) de Lewis Caroll:
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir – respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir – disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas – replicou o gato”.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu enfrento estes problemas com naturalidade porque a experiência da vida nos ensina que há momentos propícios e outros nem tanto para fazermos certas coisas, inclusive escrever, cuja atitude envolve, como já disse, o prazer de dizer algo. Todavia, o mundo em que vivemos têm muitas “distrações” que podem desviar nossa atenção e, portanto, devemos ficar atentos para não ficarmos perdidos, o que é muito fácil. A procrastinação deve ser combatida com a consciência diária da necessidade do cumprimento das metas (que envolve uma certa determinação, disciplina e paciência), evitando-se buscar desculpas ou subterfúgios.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ao final da redação, faço a releitura do texto e me pergunto se está bom e se fiz o melhor possível. Porém, se a resposta for negativa, reviso toda a redação até convencer-me que atingi aquele objetivo. Algumas vezes, dependendo do tema, submeto a redação final a um(a) professor(a) que dialoga com o assunto para ter um feedback.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia é positiva e procuro ficar sempre atualizado porque é uma ferramenta de grande utilidade para a redação e, por este motivo, todo o processo de produção escrita é feito com o computador, desde as anotações das leituras até a redação do artigo. Porém, por cautela, faço vários backups para garantir que os textos não sejam perdidos por alguma falha técnica.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Normalmente, começo a fazer leituras sobre um tema que tenho predileção e minhas ideias e os “insights” surgem durante este processo. Isso contribuiu para a definição do objeto da escrita, o qual entendo que seja um dos maiores desafios a serem enfrentados quando se escreve algo e, consequentemente, isto contribui para selecionar o que é significativo ou não para constar no artigo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
O que mais mudou na minha escrita ao longo dos anos foi, com muito orgulho, o abandono total e incondicional do “juridiquês”, aquela maneira “barroca” e “empolada” de dizer as coisas (inclusive em latim), usualmente utilizada na produção de escritos jurídicos e que são incompatíveis com a redação científica-acadêmica, ainda mais se considerarmos que estamos no século XXI. Além disso, escrever de forma clara e a busca da concisão na escrita são duas obsessões constantes.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer a revisão do meu livro “Globalização econômica, política e direito: análise das mazelas no plano político-jurídico”. Todavia, considerando todo o material bibliográfico existente, provavelmente, o livro que resultaria da revisão provavelmente se desdobraria em dois volumes e isso me angustia muito, considerando meu apego à concisão. Gostaria muito de ler um livro, no âmbito da Sociologia e da Sociologia do Direito, além das teorias sistêmicas (ex.: Wallerstein, Luhmann), que desse conta de explicar o fenômeno da globalização e sua operacionalização por meio da corrente econômica neoliberal e os desdobramentos no Direito.