Vinicius Galera é escritor e jornalista, autor de “Plano piloto para a destruição de Brasília” (2020) e “Galera” (2020).

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não me importo em reservar um horário, mas acredito que rendo mais se puder começar cedo. Antes de iniciar, procuro organizar ou tentar organizar outros afazeres de modo a não ter de me preocupar com eles quando estou escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever diariamente, principalmente quando estou avançado em algum projeto. Minha única meta é a de fazer algo que me agrade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não compilo notas. Lembro de García Márquez ao dizer que,“quando se toma notas, a gente acaba pensando para as notas e não para o livro”. Procuro ter consciência do que desejo quando me sento para escrever, mas não me agrada planejar tudo previamente. Para lembrar outro mestre, há uma frase de James Joyce citada por seu biógrafo Richard Ellmann: “Não planeje tudo com antecedência. Quando for escrever virão coisas boas”.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Demorei muito para concluir meu primeiro livro [Linha verde, Editora Pasavento, 2015] por achar que nunca estava bom o suficiente. Uma hora percebi que sua força, se é que tinha alguma, estava em suas próprias limitações e me dei por satisfeito. Ao longo daqueles anos entendi que não há caminho fora da escrita. Não me aferro muito às dificuldades que possam surgir, procuro apenas não me dispersar e escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso até sentir que não precisam mais de revisão. Claro que é um sentimento e, como tal, não é exato, mas é importante confiar na intuição. Depois de prontos, costumo mostrar os textos a pessoas próximas e colegas escritores. Apesar do orgulho, procuro me abrir às críticas e recomendações.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já escrevi muito à mão e, por influência do meu pai e de sua Olivetti Lettera 22, aprendi a datilografar ainda na adolescência. Era uma época em que computadores eram inacessíveis para mim. Produzi rascunhos em máquinas de escrever até mesmo depois de ter um deles. Como trabalho como jornalista, eventualmente ainda escrevo à mão como um contraponto à rotina de trabalho, mas nada se compara às facilidades do computador. Além do mais, para o leitor isso não faz a menor diferença.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias estão em toda parte, não acredito que seja possível precisar um lugar exato de onde elas saem. Por isso muitos artistas parecem incoerentes ao falar sobre elas. Não sou disciplinado a ponto de manter hábitos para encontrá-las, procuro me manter atento às suas aparições observando, lendo e escrevendo. Podem surgir inesperadamente ou irem ganhando corpo conforme penso nelas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa mudou, principalmente em relação à técnica, que confere segurança, mas não me parece justo mover minha consciência para julgar ou orientar o meu passado. Acho importante viver o agora, normalmente não há nada lá atrás.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O livro que eu gostaria de ler e não existe é o meu próximo romance, no qual estou trabalhando. Tenho outros projetos, mas estou bastante concentrado nesse no momento.