Vini Willyan é escritor e produtor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quando posso, gosto de começar o dia vagarosamente. Sou o primeiro a acordar em minha casa, então me levanto, abro as janelas, dou comida aos pets e preparo um café. Mas isso é somente quando posso. Na maior parte dos dias, acordo na urgência de resolver algum trabalho, responder mensagens, me aprontar e sair. É difícil eu conseguir manter uma rotina, porque desenvolvo trabalhos periódicos que sempre modificam meus hábitos. Vivo mudando.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que madrugadas e manhãs são mais confortáveis para escrever. Talvez porque nessas horas estou sozinho, então consigo manter um nível maior de concentração. Não tenho nenhum rito, tento me manter produtivo para não enferrujar. Minha tendência é escrever por extrema necessidade. Hoje entendo o exercício de escrita como um meio de pesquisa e descoberta, em que após muita repetição começo a ganhar domínios. Mas já passei longos períodos sem escrever. Foram terríveis.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias, mesmo que pequenas notas ou frases. Estou sempre elaborando algo. Não tenho metas, às vezes me faço alguns desafios, como escrever sobre determinados temas ou dentro de alguma forma, mas costumo perder. (risos)
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Acredito que pesquisa e produção se movem juntas. Hoje eu compreendo que um texto nunca está pronto, que não importa o quão bem eu discorra sobre aquilo que quero tratar, sempre haverá o que revisar e repensar. Principalmente porque os temas pelos quais sou afetado são vida humana, relações e amor. Quando tenho um volume considerável de textos, começo a pensar de que forma eles se relacionam e como posso levá-los ao leitor. É sempre difícil começar, continuar e entregar a produção. E é por tamanha dificuldade, que talvez sinta tanto gozo e prazer. Quando está fácil, sinto que algo está errado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Encaro com prazer. Tenho amor pelo caminho que escolhi e aceito os conflitos porque através deles eu me modifico. Também me torno mais forte, aceito mais contradição. É intrigante, durante o processo de escrita estou mais forte, curioso e animado. Mas compartilhar um resultado ainda é amedrontador. Sinto-me vulnerável, vaidoso e sempre sobra uma descrença da devolutiva. Quando gostam de algo que fiz, me questiono se é realmente é bom. Quando não gostam, meu instinto é defender, argumentar que é bom sim. Um bom meio termo é estar insensível o máximo possível às criticas e elogios. Possuir uma autocrítica e também elogiar-me. Desse modo as expectativas e ansiedade ficam um pouco de lado e posso me dedicar com mais entrega à produção.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei, sempre surgem caminhos diferentes. Alguns textos parecem que precisam ser mais revisados, outros nascem mais consistentes. Tenho alguns poucos amigos com quem compartilho coisas, amigos escritores. É interessante porque conseguimos ser objetivos uns com os outros e sempre focamos naquilo que de fato deve ser revisto com maior atenção. Mas há casos em que não funciona. Você espera algum apontamento mais crítico e recebe elogios. É um tanto perigoso esperar na fala do outro, autorização para a sua produção. Acho interessante defender-se na escrita.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo rascunhos em objetos próximos, geralmente no celular. Minha relação com a tecnologia é meia boca. Não domino muitas ferramentas nem tenho grande audiência nas mídias sociais. Sempre estou ali pelas bordas descobrindo meios de conseguir passagem. De certa forma isso me deprime, principalmente porque minha produção é poesia e vejo muitos textos mercadológicos, que apesar de serem positivos no processo de expansão, também são muito negativos por darem a poesia função de autoajuda. Amor e ódio, assim tem sido minha relação com a tecnologia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Tudo para mim nasce de um não saber, de uma curiosidade, de dúvidas, de pesquisa. Para me manter potente como criador, estou sempre procurando meios de me enfrentar, de me modificar, de me conhecer e de mover o cansaço para o desejo de produção.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A maior modificação foi no olhar. No início eu olhava para o eu, e procurava dar forma ao que experimentava na vida. Depois comecei a olhar o mundo e dar significado para o que via fora. Curiosamente, descobri cedo que o eu também estava no externo, mas me sentia menos egoísta quando quem carregava os meus atravessamentos, era o outro. Desse encontro com o mundo, comecei a me sentir em constante modificação. Se pudesse me dizer algo, me pediria mais paciência e disciplina. Creio que a energia dos primeiros anos de escrita era muita volumosa e conturbada, caminhava com pouca concretude, não que eu tenha encontrado alguma fórmula mágica agora, mas tenho mais força para lidar com as minhas pulsões.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos projetos que gostaria de iniciar, mas vou manter em segredo porque sou um pouco supersticioso. O livro que gostaria de ler e ainda não existe é o meu próximo lançamento.