Vandei Oliveira (Poeta Seu Zé) é poeta, educador e agitador cultural, autor de “Ser casa, ninho, asa, passarinhos”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Na parte da manhã, após um bom café forte, gosto de acessar as redes, verificar as notícias e novidades do dia, isso me atualiza, já que hoje, principalmente no Brasil, a cada hora uma situação inusitada aparece, principalmente no campo político.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que a noite é o melhor horário para me concentrar para a escrita, o silêncio da noite me ajuda, não costumo ter ritual, mas uma boa música brasileira ao fundo, para quebrar meu silêncio e o da noite, me ajuda.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como um bom sagitariano tenho dificuldades com metas, dessa forma não estabeleço o que escrever diariamente, deixo fluir.
A cada dia escrevo um pouco, gosto desse descompromisso, me ajuda na criatividade, toda obrigatoriedade me trava.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu exercício é de frente para trás, começo pela escrita e depois vou para a pesquisa, gosto de rascunhar as ideias principais e depois pesquiso as palavras que se encaixam nas ideias para aquele texto.
Anoto as minhas intuições, inspirações, muitas vezes vem em versos inteiros, as vezes em palavras, anoto, leio, releio, experimento rimas, concordâncias, sonoridades.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu prezo sempre pela liberdade, a escrita é livre e toma suas rédeas, quando percebo que me esgoto em ideias não me forço, vou reler poemas antigos, ouvir música e deixar a criatividade retomar o seu lugar.
É a poesia que manda em mim, ela é aliada da criatividade e inspiração, elas ditam as regras e não eu, dessa forma, apenas tento encaixar meu tempo e prazos no tempo delas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Gosto de reler e revisar muitas vezes, mando as vezes para algumas amigas professoras de literatura, o olhar do outro sempre é um norte, mas não determina.
Depois do texto pronto gosto de ler em voz alta, minha experiência com a poesia veio da oralidade, do movimento de sarau de periferia, assim, quando leio em voz alta e me escuto penso como as pessoas irão ouvir o texto e isso define sua conclusão na escrita.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu comecei a escrever no Instagram para me desafiar no exercício da escrita de textos diários e depois textos imagéticos e sintéticos.
Criei uma relação boa com a tecnologia, ultimamente tenho escrito muito no computador e no bloco de notas do celular, mas não dispenso meus bloquinhos de papel e caderninhos, sempre tem algo a anotar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Costumo dizer que o Brasil me obriga a escrever, como faço poesia crítica, poesia de resistência, as minhas vivências como homem gay, nordestino, periférico, educador me inspira diariamente.
Procuro estar com o olhar bem apurado para o meu entorno, para a minha subjetividade e para o coletivo que me alinho nas lutas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
“Experimente mais”, isso é o que eu diria ao olhar a escrita dos meus primeiros textos, acredito que a experimentação de novas técnicas, novos estilos, novas formas de escrever e pensar a poesia é o que renova a escrita.
Tenho experimentado muito, gosto da mistura, das novidades, dos clássicos, isso ajuda a minha escrita respirar e mudar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Escrever sobre o amor é um projeto, creio que em tudo o que escrevo o amor está implícito, mas penso no desafio de fazer poesia sobre o amor, pra tirá-lo do lugar comum, sair da zona de conforto e desmistificar a ideia de amor clichê.
Gosto de ler livros que me espantam, no sentido filosófico do espanto como desvelamento do olhar, esses livros estão sempre por escrever, estão no vir a ser dos poetas e são eles que aguardamos ansiosamente.