Valesca de Assis é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia bem cedo, com café, caminhada e afazeres domésticos. Trabalho na escrita ou preparação de aulas pelas 9. Escrevo, pesquiso o preparo atividades até 10:45.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto-me melhor pela manhã, mas não consigo mudar minhas rotinas domésticas…
Não tenho rituais, mas gosto do silêncio e ter a minha gata Bemol por perto. À tarde, trabalho, em geral, das 2 às 4. Isso não ocorre todos os dias, infelizmente, pois tenho responsabilidades familiares, e muitos médicos, dentistas, fisioterapeutas, devido à faixa etária, 75 anos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro ler ou escrever todos os dias, mas nem sempre consigo. Preciso manter contato estreito com o que estou escrevendo, para que tenha unidade, ao final. Atualmente estou tentando escrever de meia a uma página por dia. Tornei-me muito exigente com meu texto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como escrevo narrativas longas, planejo. Primeiro – tendo o tema – faço pesquisas e leio bastante sobre o assunto. Das pesquisas, faço anotações à mão. Pressinto qual a voz narrativa, descubro o protagonista, faço um esquema muito breve dos capítulos. Em geral, vou para um hotel que tenha refeições e fico ali uns três dias, sem sair a não ser para caminhadas matinais. Ali, em tempo integral, elaboro o esquema da novela ou do romance. Isso vai me proporcionar poder escrever sobre diferentes capítulos, sem ordem, pois terei “dominado” a situação. Leia-se: tudo isso antes da Pandemia.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como ministro, há muito tempo, uma Oficina para desbloqueio da escrita, não posso me dar muitas desculpas… Mas a procrastinação é uma tentação permanente. Quanto ao leitor, escrevo para mim e para ele, com respeito e consciência profissional. Também com muito amor, pois sei que minha escrita terá influência sobre ele, e espero ajudá-lo a compor-se como ser humano.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas. Quando quase já sei o livro de cor, quando dei o melhor de mim, encaminho-o para uma leitora especial que tenho, uma especialista em leitura crítica. Se o livro tem detalhes de profissões que não domino, contrato um especialista (ou dois, três) para conferir. Errar em coisas importantes e essenciais à trama, quebra a confiança.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Se as anotações de pesquisas são feitas à mão, toda escrita é realizada no computador. Doeu, mas consegui me adaptar. E facilita muito, em especial quanto às possibilidades de revisão e melhorias.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias me vêm muito da observação da vida e de notícias de jornais, casos que me contam. Minhas oficinas me lembram sempre de exercícios de criatividade, e, também, estou sempre pesquisando sobre o tema.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudei bastante, dentro de uma certa constância. Melhorei a escrita, a construção dos personagens, aprendi a entender e sentir os movimentos internos do(s) protagonista(s) e da narrativa.
Há mais de 30 anos perguntei a um grande escritor quando eu deveria enviar um trabalho para editar, pois tinha dúvidas horríveis e o tempo todo. Ele me disse: quando tiveres feito o melhor possível, naquela época da tua vida literária! Se estiver ruim, vais saber pelo editor. Claro que, quando há nova edição de uma obra, reviso com o saber de agora. E o livro sempre encolhe um pouco.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Já tive muitos projetos a longo prazo. Isso me atrapalhou bastante. Agora, o dia de hoje é precioso e o que eu conseguir fazer também é.