Valéria Gravino é advogada e escritora, autora de Enquanto Espero, Segredos Reveladose a A responsabilidade do sócio na execução fiscal.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo com meu trabalho profissional formal como advogada. Acordo, me arrumo e já parto ansiosa para resolução das questões que me são apresentadas. Não possuo uma rotina matinal comum, pois a minha agenda depende muito do Judiciário.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor na escrita à noite, é quando tenho menos demandas para atender e procuro não ter hora para acabar. Se for preciso passar a noite em claro, eu passo. Interrupções de um dia para o outro não são bem-vindas para mim, escrevo até esgotar o que tiver dentro da mente.
Procuro me isolar quando me encontro inspirada, respiro fundo, me acomodo de forma confortável e procuro me concentrar totalmente no que estou escrevendo. Se tiver questões pendentes para resolver e que possam ser resolvidas de pronto, eu faço tudo para solucionar, juntamente para que não tenha que interromper o que estou escrevendo para intervir em qualquer situação.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não sou disciplinada a esse ponto, como a escrita é algo muito prazeroso para mim, eu sempre escrevo quando estou inspirada. Se for algo que se torne compulsório, rotineiro e desgastante, acaba suprimindo o brilho do produto final, para mim.
Portanto, metas diárias só as estabeleço (baseada na quantidade de capítulos), quando surgem prazos para um determinado trabalho. Sem contar que já escrevo bastante por dia, para fins jurídicos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente pesquiso enquanto estou escrevendo. Não tem sido comum, para mim, passar de notas para a escrita.
Tenho ideias, faço rascunhos e vou aperfeiçoando, pesquisando, alterando, gosto de transpor as ideias e ir alimentando com pesquisas, gradativamente até o fim do trabalho.
Procedendo desta forma, se torna algo muito prazeroso, para mim.
Passo muito tempo amadurecendo ideias mentalmente e quando chego a um final plausível da minha história (que até então só existe em minha mente), tomando notas de algumas observações para que não sejam esquecidas, parto para o rascunho e é quando na maioria das vezes, já vem pronta toda a história escrita, ou a estrutura dela, e começo a alimentar com pesquisas.
Sigo aperfeiçoando de todas as formas, seja do ponto de vista literário ou gramatical, passo a ouvir opiniões, pesquiso ainda mais e por fim, quando creio que se tornou algo que alguém possa ler e compreender a ponto de captar as mensagens que pretendo transmitir, submeto à apreciação de algumas pessoas que considero como “chave”: leitores com habituais, leitores “sazonais” e profissionais da área.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando sofro bloqueios dessa natureza, procuro me desligar totalmente até que a inspiração volte, seja fazendo passeios, assistindo filmes e séries, lendo livros, conversando com pessoas, ouvindo músicas, ainda que isto demore um bom tempo. Tem funcionado bem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Mostro para poucas pessoas e apesar de revisar umas duas vezes, antes de sentir que estão prontos, mas não tem sido suficiente, a questão do “olho viciado”, é recorrente: depois de algum tempo é que vejo a quantidade de correções a serem feitas mesmo já tendo feito revisões. E durante a preparação do texto, sinto que tenho que revisar mais umas cinco vezes, antes da publicação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Geralmente, são escritos à mão, mas já comecei alguns trabalhos no computador, no tablet e no celular.
Uso o que estiver à mão, quando surge a ideia, mas se puder escolher escrever à mão, eu prefiro, pois sinto que transcrevo as ideias de forma mais rápida desta forma.
Comecei meu primeiro livro escrevendo no notebook. Já o segundo, comecei escrevendo ada mesma forma e não fui bem, então resolvi recomeçar à mão e fluiu totalmente. Já o terceiro, comecei à mão e finalizei no notebook.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não possuo hábitos ordenados para esse fim, mas percebo que tudo o que leio, ouço e assisto são fomentos para a escrita.
Como assisto a muitos filmes e séries, estes são os que mais têm me inspirado ultimamente. Tento escrever histórias bem diferentes do que as que costumo assistir, então, é desta forma que os filmes e séries me auxiliam.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ainda estou em minha fase inicial, possuo dois livros publicados: um jurídico e um ficcional, e estou caminhando para a publicação do terceiro, que também é ficção. Participei também de mais de dez antologias, portanto ainda há muito o que aperfeiçoar. Mas diria e digo ainda para mim mesma, para ser menos ansiosa e aprofundar sempre mais. Sempre oscilo entre o medo de ser prolixa ou superficial.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um livro de suspense arrebatador, que um dia figurasse na lista de preferidos da maioria dos leitores (um dos sonhos).
Acho que tudo o que li até hoje foi sempre muito satisfatório. A cada centena de livros lidos, uns cinco no máximo, não me agradaram, de forma que ainda não encontrei algo que tivesse vontade de ler e não existiu.
Eu queria muito ter lido um livro que tivesse dois finais, e não era de meu conhecimento que existisse um, portanto escrevi o meu primeiro livro de ficção com dois finais, mas eles só apareceram reunidos na segunda edição. Agora esse livro existe, e o resultado entre os leitores me deixou muito satisfeita, pois eles se dividem quanto à opinião de qual final preferiram.
Agradeço pela oportunidade de falar sobre a minha escrita e parabenizo pela iniciativa deste site em nos mostrar o processo de criação de tantos escritores, promovendo inspiração a tantos outros que pretendem enveredar ou continuar enveredando por esse maravilhoso mundo literário.