Tere Tavares é escritora e artista plástica.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia inicia antes das 8h com o café da manhã. Depois, diversas providências e orientações na organização da casa, escolha do cardápio para o almoço, não necessariamente nessa ordem. Tenho demandas das mais variadas e diversas áreas. Não há rigidez de horários nem ditaduras de tarefas. Adapto-me às necessidades mais prementes, faço recuos e investidas de acordo com o que se apresenta. Sou economista de formação. Atualmente divido-me entre escrita e pintura. Essa maleabilidade de trafegar no tempo, a plasticidade entre uma e outra área de conhecimento me agrada muito. Gosto de me exercitar ao ar livre, em contato com a Natureza: mãe primeira de todas as Artes.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não escolho hora. Talvez a hora me escolha. Não me fixo em rituais. Sempre que surge uma oportunidade cometo textos, poemas, contos, prosas dúbias, ou pinto aquarelas, óleo sobre tela e sobre papelão; sempre me voltando ao prazer da feitura, à satisfação que os trabalhos me proporcionam.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Nem todos os dias eu escrevo. Deixo que os dias me escrevam e à medida do possível anoto-os na agenda, no celular, no computador, e, por vezes, em pequenos bilhetes que guardo para horas futuras. São encaixes que vão se coadunando, sem imposição de tempos ou cronômetros. Não sigo metas que fujam da espontaneidade e do exercício da criação pura e continuada, da convocação libertária da inspiração, tanto na escrita quando na pintura.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é sedutor. Vai me inebriando sem que eu perceba. Quando dou por mim lá está o poema, a narrativa, o ensaio. Muitos textos ou poemas mais encorpados resultam de anotações, frases soltas que vou costurando como se num imenso patchwork. Não há facilidades para quem escreve. É ilusão imaginar que seja, embora possa ser, uma fascinação romantizada. E haja leitura e exercício – não há escrita sem essas ações basilares.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procuro não criar expectativas. Tudo acontece naturalmente, desde à criação dos textos à publicação. O compromisso maior, para mim, será sempre a não imposição. Exploro temáticas diversas, observo – as fontes literárias são imensas, as possibilidades infinitas e inusitadas – crio com liberdade e com prazer. Há os momentos de ansiedade sim, mas isso é natural e não é nenhum monstro. Conto atualmente com oito livros publicados, entre poesia, contos e ensaios: “Flor Essência” (poesia 2004), “Meus Outros” (poesia 2007), “Entre as Águas” (contos 2011), “A linguagem dos Pássaros” (poesia Editora Patuá 2014), “Vozes & Recortes” (contos Editora Penalux 2015), “A licitude dos olhos” (contos Editora Penalux 2016), “Na ternura das horas” (ensaios Editora Assoeste 2017), “Campos errantes” (contos Editora Penalux 2018). Integro várias Antologias e Coletâneas, no Brasil e no Exterior. Também há farto material de minhas obras literárias e de pintura na Internet, portais do Brasil e do Exterior. Desde 2007, edito meu blog: “M-eus Outros”. Os espaços entre um e outro livro são imersões que me foram compostas pelo contínuo aprendizado do meu ser no Mundo e da visão do outro nesse mesmo Mundo. Minha escrita tem sido bem recepcionada, com muita alegria minha, para além-fronteiras.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
As revisões são inevitáveis. Raramente ocorre de não mudar nenhuma vírgula ou palavra em algum texto. Isso permeia minhas obras. As coisas brotam meio brutas e necessitam maturar, como os bons vinhos. A priori só mostro meus trabalhos às pessoas e leitores quando os considero prontos para não arriscar-me às influências que não sinta minhas na obra.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Utilizo ambos. Respeitando meu tempo e meu espaço. Mas a maior parte nasce no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O ser humano é em si mesmo criação. Não me vejo sem a ação de criar. Ou crio ou não existo. Minhas ideias aparecem das experiências, das percepções, e até das intuições a respeito da vida, do mundo, do conhecido e do desconhecido. Leio autores e autoras de várias nacionalidades e vertentes literárias cujas significâncias ampliam meus horizontes na escrita. Não citarei nomes, a lista é grande, inclusive de autores vivos que, na atualidade, possuem uma poética própria e instigante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Amplitude no senso estrito. Sinto-me em constante processo de aperfeiçoamento e experimentação. Tenho leitores em cada canto do Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, etc. Intercâmbios enriquecedores e incentivadores. Quando volto aos primeiros textos eu percebo que nada há para dizer. Foram ditos no que os contém. E para mim estão prontos. Entretanto, as possibilidades de releituras não se esgotam, principalmente quando vêm dos leitores.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Penso em finalizar um romance já iniciado. Não tenho prazo. Outra ambição seria publicar um volume que contivesse minhas pinturas em diálogo com meus textos. É um sonho. Espero que me seja real.
Todos os livros existem e todos eles eu gostaria de ler. Os livros que não existem são escritos de forma anônima todos os dias e certamente chegarão a tocar os olhos e a alma do mundo.
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Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Tenho por hábito escrever sempre que possível, com alguns intervalos necessários. Desse material formam-se, aos poucos, os textos, poesia, prosa ou ensaio. Não tenho preocupação com o início ou com o final, essas frases vão surgindo naturalmente durante o processo. Por vezes acontece de usar o final como início e vice-versa. Reviso, faço recortes, ajustes. Sem pressão ou pressa.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não há um planejamento rígido. Tenho muitas outras demandas que me exigem dedicação e tempo. Dentro dessa perspectiva vou encadeando a escrita e também a pintura. Às vezes, fica difícil decidir-me entre pintar ou escrever, mas há uma harmonia no exercício de ambas as artes.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Escrevo, antes de tudo, por amor. Escrevo como uma forma de ressignificação da realidade. Creio que não há uma cronologia exata nesse aspecto. Ouso dizer que não decidi dedicar-me à escrita; a escrita encontrou-me, conquistou-me e, reciprocamente, nos apaixonamos para sempre.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Nunca me preocupei ou pensei em um estilo. Segui o meu coração, a minha alma, os meus sentidos, as vicissitudes, resiliências. Creio que isso tudo culminou na minha assinatura literária.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Vou declinar de indicar livros. Explico: Eu li muitos autores e autoras. Obra inteira, fragmentada, algumas linhas. Todo livro está aí para ser lido. Cada um encontra o que lhe agrada ou lhe desperta aquela magia que compele à leitura. E é diferente a cada momento da vida, da sociedade, do mundo. Mas há algo indispensável e se chama leitura, leitura, leitura. Sempre leitura!