Telma Guimarães é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
De manhã costumo cuidar da empresa. Antigamente eu escrevia de manhã também. Mas como passei a publicar mais títulos, abri uma empresa e preciso lidar com essa parte burocrática também, lendo contratos, imprimindo, concedendo cessões de textos para livros didáticos, enviando notas fiscais, etc. Também respondo emails dos leitores, professores e coordenadores. Só começo a escrever após as 13h00.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Após o almoço e no começo da noite me sinto melhor. Até esse horário também já li alguns textos interessantes, fiz pesquisas…Normalmente só começo a escrever depois de pesquisar sobre o tema que escolhi.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quase todos os dias. Mas já percebi que preciso de alguns “silêncios literários” entre um texto e outro. É quando começo a comprar livros diferentes, pesquiso temas pouco trabalhados. Passo alguns dias assim, comprando livros, lendo, pesquisando. Não tenho metas de escrita diária. Se começo, preciso terminar. Não sou lá muito organizada, mas gosto de escrever vários textos ao mesmo tempo. Sempre há uma adaptação bilíngüe ocorrendo junto a um texto infantil também sendo criado.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Às vezes, a idéia vem a galope e mal tenho tempo para seguir o seu curso. Escrevo muitas vezes a mão mesmo, e depois passo para o computador. Mas não é uma regra. Nunca é. De outras , a idéia nasce, mas não vinga, indo parar em algum lugar do computador, à espera de ser “reavivada” um dia. Nem sempre também o que pesquisei vira texto para livro. Mas fico feliz por ter aprendido algo e o ter acrescentado em minha vida.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Todo mundo trava. Os autores também. Mas acho mais fácil errar a mão num texto, fazer algo que não goste muito de que “travar” propriamente dito. É muito chato ter de retomar algo escrito há muitos anos. Tenho uma preguiça enorme de refazer. Ninguém gosta de refazer, mas muitas vezes achei que o texto merecia um cuidado redobrado e não me arrependi de voltar para ele com outros olhos e recomeçar.
Já fui bem mais ansiosa em relação a trabalhos longos. Livro didático requer muito tempo. Os bilíngües também. Se começo, sei que um dia vou terminar, então procuro fazer o melhor dentro do cronograma colocado pela editora. Se nada está acontecendo, as idéias não vem e estou meio perdida, nada como sair de casa, passear pelas livrarias e arejar a cabeça com outras informações.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes. Em outras oportunidades, quando acredito que o texto está “no ponto”, eu faço um teste aqui em casa mesmo, junto aos netos (de idades variadas!). Quando acho que a história deu liga, me emocionei com o texto, ou dei risada, enfim, percebo que ele pode ser publicado, agradeço. Deus nos concede dons, e sou grata pelo dom da criatividade que Ele me dá, sabendo que eu também tenho de fazer a minha parte.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Ainda faço alguns rascunhos à mão, principalmente os infantis, mas não é uma regra. Muitos já foram diretamente para o word. Na maioria das vezes, se infantil, com a prática dos anos, já vou dividindo em páginas: se infantil, para os bem pequenos, três, quatro linhas por página. Se juvenil, sem preocupação com o número de laudas escritas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Observo bastante. Tudo ao meu redor pode virar história. Por exemplo, uma vez, ao passear pelo condomínio onde moro, vi um poste de luz com cinco casas de João de Barro. Um condomínio dentro de outro! Voltei para casa e fui pesquisar sobre o João de Barro e descobri que ele é considerado o “arquiteto da natureza”. Num contraponto, o Pardal não é nem um pouco organizado e faz um ninho bem bagunçado. Pronto. A partir daí, metade da história já estava na minha cabeça! Assim sigo entrelaçando conversas, assuntos, observações. Esses recortes ajudam muito na construção de histórias!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Amadurecemos com o tempo. Acabo me tornando minha maior crítica. Acho que a literatura foi mudando, os assuntos, temas, também. Alguns textos eram simples demais. Eu os faria de novo, se valesse a pena.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Algo que fosse desafiador. Em inglês, por exemplo! Certa vez li um livro de crianças canadenses falando sobre o Canadá. Gostaria de ler um livro parecido escrito por crianças brasileiras. Achei tão criativo!
* Entrevista publicada em 10 de julho de 2022.