Tácio Mendes é romancista baiano, professor de inglês e entusiasta estético, autor de “A substituta perfeita” (2020).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia geralmente começa do mesmo jeito, há alguns anos. A pandemia não alterou muita coisa nesse sentido. Realizo o desjejum, arrumo a casa; cuido das coisas relacionadas ao meu gato de estimação (Jim). Depois, faço o que tiver de trabalho para ser feito—escrevo algum projeto, dou aula de inglês online.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Olha, para escrever, eu prefiro a manhã, no entanto, dependendo da minha disposição, entusiasmo, comprometimento e foco, eu escrevo em qualquer turno.
Na maioria das vezes, eu começo escrevendo o romance, só pela manhã—um capítulo por dia. Depois, passo a escrever em dois turnos por dia, mais de um capítulo. Já notei esse padrão no meu comportamento, em relação ao meu processo de escrita.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como disse acima, eu geralmente escrevo um ou dois capítulos por dia. Corrijo-os no dia seguinte, e escrevo mais um ou dois. Mas acontece de eu chegar a escrever um capítulo de manhã e revisá-lo à tarde—e aí, então escrever ou não, outro capítulo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu costumo criar uma escaleta antes. Tipo um roteiro, para saber aonde quero chegar com a história, e, como vou chegar. E o que me move, é o entusiasmo de conta àquela estória—criar os diálogos, os ápices do romance; as reviravoltas.
Faço as pesquisas, de acordo com as necessidades da narrativa— a internet é uma grande aliada, nesse momento, rs.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Bem, eu tento ter confiança e acreditar na história que estou contando. É inevitável, as dúvidas e o medo, sempre vão surgir no processo criativo, mas, eu tento focar em coisas positivas e evito ao máximo, a famigerada procrastinação.
Sou daquele que não começa um projeto, se não for para termina-lo. Porque do contrário, eu me sinto cobrado pelos meus personagens— é como se eles dissessem: Ei, Tácio, estamos aqui esperando você terminar de contar as nossas histórias! (Sic).
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Cara, eu confesso que sofro um pouco com isso. Não sou um bom revisor. Eu reviso umas duas ou três vezes, antes de enviar para a publicação, porém, não há nada melhor, do que um especialista em gramatica, para deixar o texto enxuto e sem erros.
Sou minucioso com o conteúdo e, com as minhas ideias, mas sou meio desatento, em relação aos detalhes gramaticais—mas juro que estou trabalhando nisso, rs.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como eu disse antes, eu crio um esqueleto; uma espécie de roteiro à mão. Organizo a trama, os principais acontecimentos e marcadores de caráter dos personagens, aí, depois, eu parto direto para um famoso editor de textos.
Faço mudanças no meio do caminho, acrescendo ou corto momentos e capítulos da trama, mas isso tudo, acontece mais na minha cabeça, do que no papel do roteiro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu tento sempre me manter em contato com outras obras de ficção, arte e cultura, que me inspiram. Livros, filmes, discos, obras de arte e raramente séries. Leio alguns artigos e analiso o processo criativo de pessoas interessantes, através de entrevista e documentários.
Gosto muito de assistir os filmes do Hitchcock, do Brian de Palmas e muitos dramas independentes. Gosto também de ler romances clássicos e contemporâneos e assistir vídeo clipes—todo esse material, me mantém bastante fértil—, me mantém sempre prestes a eclodir em ideias criativas, que respeitem meu estilo de contar estórias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria para mim mesmo: leia, estude e pesquise mais! (Sic) Claro que eu respeito o meu processo de escrita criativa inicial, que foi, digamos, mais instintivo que técnico—eu deveria ter estudado mais antes de publicar o meu primeiro livro (O caso atlântico, 2015, Multifoco) —, mas entendo, que eu estava em outro momento.
Em relação ao meu processo no decorrer dos anos, acho que evolui bastante. Aumentei meu vocabulário, aprendi a desenvolver meus personagens e a ter mais cuidado com o estilo e a estética na escrita.
Além disso, eu descobri que só temos um único jeito de escrever: com o nosso estilo individual. Faço questão de manter “o meu jeitinho único” de contar estórias, desde o primeiro livro. Como diria Wilde: Se acredita intuitivamente, e tem certeza, sobre o que escreve, então continue escrevendo— foi algo mais ou menos assim, que ele disse, rs.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vontade de escrever um livro mais voltado para o drama; algo mais existencialista e profundo. E também, um roteiro para o cinema. E o livro que quero ler, mas ainda não existe é o próximo Thriller de Gillian Flynn.