Sybylla é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não! Pra falar a verdade odeio acordar cedo. Prefiro acordar mais tarde e trabalhar noite a dentro. A noite é melhor, pois a casa está mais sossegada, os gatos estão dormindo, não tem campainha tocando, nem outras interrupções. Eu acordo, tomo café, cuido das obrigações de trabalho ou com a casa e no final do dia sento na frente do computador. Dependendo do que estou fazendo vou até altas horas, naquele momento em que é tão tarde que já está cedo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Prefiro fazer isso à noite, madrugada a dentro, com música nos fontes de ouvido que me impeçam de ouvir o teclado e o mouse. Prefiro ficar de porta fechada, só eu e a tela. Odeio trabalhar com computador sujo. Pois é! Limpo o computador antes de trabalhar para não ficar com a sensação de mão suja e grudenta. Estou sempre bebendo algo, água em geral ou chá. Se por ventura estiver escrevendo de dia, café com leite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo todo dia por causa do meu blog, mas ficção é algo que eu tenho que sentar e fazer de uma vez. Acho que a velha dica de “escreva todo dia” é um pouco subjetiva. Escrever o que todos os dias? O blog melhorou muito minha escrita ao longo dos anos e serve ainda como um local de experimentação e prática. Mas quando o assunto é ficção, escrever todo dia, para mim, não funciona. Espero a ideia amadurecer um pouco, sento e faço de uma vez, talvez parando em alguns momentos para pensar e depois continuo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começar é muito fácil. Fácil até demais, o problema é sempre terminar! Às vezes só tenho o título. Às vezes tenho um cenário e construo o enredo por cima. Às vezes tenho só uma personagem e crio o enredo ao longo da escrita. A pesquisa eu faço conforme vou escrevendo. Não crio tudo antes, para depois escrever, porque a tendência de mudar tudo é muito grande. Se estou concentrada naquele enredo e vou criando ao longo da escrita é mais fácil do que criar tudo antes e depois encaixar o enredo em cima. Pra mim funciona assim.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A mente precisa de pausas e descansos. Leonardo da Vinci, quando tomou um toco de Ludovico Sforza por nunca terminar A última ceia, rebateu dizendo que os artistas sempre precisam de pausas sem trabalhar para dar espaço para as ideias. Não tenho mais neuras de pensar “nossa, estou aqui vendo Star Trek quando poderia estar escrevendo”. Para mim, tudo é pesquisa, tudo é fonte de inspiração, tudo é útil. Se travei em algum momento, mas tenho conteúdo adiante, eu anoto que preciso voltar para aquele ponto e continuo. A resolução costuma sair ao longo do processo. E sobre projetos longos, nenhum problema. Tenho uma saga de ficção científica que escrevo desde 1999!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Em geral umas três vezes, amarrando pontas que posso ter esquecido de amarrar. Depois de revisar uma vez, gosto de passar para um leitor beta de confiança e a partir de suas percepções trabalhar nos problemas apontados. Agora que tenho o trabalho da Agência Magh ao meu lado, sinto que meus textos são melhor lapidados do que antes, onde as partes mais fracas são apontadas para que eu possa melhorar, onde elas veem coisas que eu mesma não via antes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevi muito à mão no passado. No colégio eu escrevia no final dos cadernos minhas ideias mirabolantes e eles se tornaram meus primeiros “livros”, pois minhas colegas liam as minhas bobajadas. Quando compramos nosso primeiros computador, comecei a escrever lá, mas a tecnologia ainda era muito ruim e era comum eu perder muitas coisa. Então eu sempre tinha a cópia analógica. Depois fiquei um tempo sem PC em casa e usava os da sala de informática da faculdade para poder escrever quando tinha tempo. Hoje eu anoto das duas maneiras. Sempre tenho material de escrita à mão. E uso muito o gravador de voz do celular quando não dá para anotar nada rapidamente. É uma dica muito útil pra quem precisar gravar logo uma ideia e não quer correr o risco de esquecer.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu leio muito e de tudo um pouco. Desde ficção científica hard até biografias, de fantasia a livros de ciência, de quadrinhos de horror a romances históricos. Assisto minhas séries de ficção científica favoritas, vejo documentários sobre o Antigo Egito, assisto filmes de ação e revejo séries dos anos 90 que eu curtia. Tudo é fonte, tudo é inspiração. Nunca se sabe quando uma grande cena, um grande enredo, uma grande personagem pode surgir.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Queria dizer para mim mesma, vinte anos atrás, para não ter medo de mostrar o que escreve para o mundo e que a chacota por gostar de ficção científica não era sobre mim, mas sobre as pessoas que as faziam. Foram muitos anos escondendo o que eu gostava de escrever, de ler, de assistir por causa da incompreensão das pessoas. Pessoas próximas dizendo que escrita não me levaria a lugar nenhum, que eu tinha que focar em conseguir um bom emprego e fazer faculdade. A escrita me manteve sã e criativa em momentos muito ruins, onde tudo o que eu tinha era um caderninho e uma caneta. O medo da chacota, do deboche, me paralisou por muito tempo e me impedia de escrever. Hoje não mais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muita coisa escrita e que ainda não foi publicada. Quem sabe uma grande space opera escrita por uma brasileira publicada em uma grande casa editorial, recebendo a mesma atenção e tratamento que autores gringos recebem? Isso é algo que eu queria que acontecesse.