Sueli Lazari é escritora, autora de “Aconteça o que Acontecer” (Novo Século, 2017) e de “Aconteceu com um Amigo meu” (Hibis Editora, 2021).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia com a rotina de quase todas as brasileiras: um café pra despertar, levar filhos na escola, banho e correr para o trabalho (já que, infelizmente, não posso viver apenas da escrita – quem me dera!).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo sempre pela manhã, quando a mente ainda está tranquila. Sem ritual algum, tento não criar rituais pra nada e evito manias. Escrevo entre um paciente e outro (sou farmacêutica). É na correria mesmo!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não consigo escrever todos os dias, ou por falta de inspiração ou de tempo. Sem metas. Sou pouco disciplinada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Ainda que eu tente me organizar com roteiros de escrita, rendo mais quando escrevo de forma livre, sob o comando da inspiração. Microsoft Word e Google abertos, vou pulando de um para o outro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acredito que essas sejam a questões que realmente pesam na vida de um escritor. Passo semanas sem escrever um parágrafo, em outras consigo vários capítulos ou contos novos. Já escrevi uma coletânea com dezesseis contos em 60 dias (que já foi até publicada).
Quando a procrastinação me incomoda muito, aproveito para colocar as leituras em dias.
A ansiedade, a grande inimiga: ainda que eu seja uma pessoa muito tranquila, do tipo “zen”, preciso às vezes de um pouco de relaxamento, música, inspirar e expirar pra controlar a maldita. O segredo é não pensar muito no amanhã e se acontecer, repetir o mantra: vai ser lindo, vai dar tudo certo… Vai ser lindo, vai dar tudo certo. Como agora, enquanto espero o lançamento do próximo livro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Estipulei a meta de revisá-los de 4 a 6 vezes, não mais que isso. Tenho uma tendência a revisar meus textos pra sempre. Tenho 2 ou 3 leitores betas apenas para projetos maiores (romances e novela), já os contos eu posto direto no Wattpad.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não sou íntima da tecnologia, estou sempre aprendendo algo novo. Uso o Word. Eu não entenderia um rascunho meu à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Observo tudo a minha volta. Como trabalho com pessoas tenho muito material. O ser humano e seu comportamento são minhas inspirações. De uma idosa que desabafa suas saudades no balcão a um homem que tem medo de injeção. De uma mãe de primeira viagem, cheia de dúvidas e insegurança a uma criança desobediente que mexe sem parar nas prateleiras da farmácia. Um escritor precisa enxergar além do que os outros enxergam e adquirir certa sensibilidade no olhar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu Deus! Como eu queria voltar e dizer “Calma, isso não! Menos. Corta, corta, corta também!”. Desde minha primeira publicação estudei bastante, aprendi muito. Descobri que a ordem é “omita as palavras desnecessárias”. O termo encher linguiça não funciona na literatura. Só este conhecimento já me fez evoluir grandemente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda quero escrever drama, uma coletânea sobre a vivência humana, mais especificamente sobre família: divórcio, maternidade, falecimento (perda), infidelidade, reconciliação, reencontros… Temas que fazem parte de nós.
Também gosto muito de comédia. É sempre melhor rir de quase tudo, eu acho. Já me arrisquei no cômico e gostei muito (conto Zig, no Wattpad).
Não diria que não exista, apenas não o encontrei ainda. Gostaria de ler um livro que tratasse com assertividade (será que é possível acertar?) da criação de adolescentes. Já que os filhos não veem com manuais de instruções. Uma pena.