Sidney Guerra é professor associado da Faculdade Nacional de Direito (UFRJ).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Iniciar bem o dia é fundamental para mim. O café da manhã é indispensável. Nada muito sofisticado e em quantidade. O suficiente para mim é uma boa xícara de café com um pão com queijo. Na sequência, realizar atividades físicas. Dependendo de onde esteja, da disponibilidade de tempo para realização da atividade ou até mesmo das condições climáticas, é que escolho o que farei: correr, bicicleta, judô, um pouco de musculação ou natação. Para mim é muito importante realizar atividades físicas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou um homem do dia. Meus resultados são mais satisfatórios pela manhã, pois após uma noite de sono e realização de atividades físicas me sinto bastante disposto.
Outro ponto que destaco é o foco. Trabalhar com resultado é sempre muito importante para mim. Existem artigos ou projetos que escrevo para atender chamadas públicas, como congressos ou editais. A necessidade de cumprir os prazos que são estabelecidos não se apresenta como uma dificuldade para mim. Ao contrário, é extremamente positivo. Prazos muito largos acabam por gerar certa acomodação, de modo que produzo bastante em razão de concorrer em vários editais.
Há também trabalhos que necessitam de mais tempo, como na produção de um livro. Obviamente que para obter resultados satisfatórios, especialmente na escrita jurídica, é necessário que a pessoa tenha uma carga de leitura grande, que se adquire ao longo de anos.
Organizar o material, sistematizar o sumário, com a indicação clara dos capítulos e tópicos a serem desenvolvidos, é sempre um ritual que precisa ser observado.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias. Escrevo quando estou inspirado para fazê-lo. Não dá para escrever quando estou indisposto, cansado ou sem inspiração. Fazer qualquer coisa assim é perda de tempo. Os resultados, se chegarem, serão insatisfatórios. Assim, nos momentos que tenho maior interesse é que procuro aproveitar para obter os resultados. Embora tenha mencionado que funciono melhor de dia, já produzi bastante também de noite. Tudo vai depender da inspiração.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O primeiro passo, como disse, é organizar o sumário. Identificar os capítulos e tópicos a serem desenvolvidos. As partes do trabalho que está sendo produzido precisam ter conexões. Em alguns casos, o pesquisador se perde exatamente ao terminar um tópico/capítulo para o seguinte. Amadurecer a ideia e colocá-la no papel. É importante construir uma parte por vez.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como dizia um sobrinho amado que já encontra-se em outro plano “no importa lo que passe, hay que seguir caminando siempre”. Sinceramente, não tenho medo em não cumprir prazos ou conseguir alcançar. De um modo ou outro o importante é cumprir. As críticas (positivas e negativas) sempre virão e faz parte do negócio.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sim, costumo revisar os textos algumas vezes (não tenho um número determinado para isso) e muito raramente peço para alguém revisá-los.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Acho que é bastante satisfatória. Apesar de gostar de escrever à mão, meus trabalhos são realizados sempre no computador. Facilita muito porque você pode alterar, corrigir, apagar, mudar de lugar, aproveitar o texto produzido em outro local que seja mais adequado etc.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Procurei priorizar minha formação em algumas áreas específicas e fui direcionando minhas pesquisas no mestrado, no doutorado e nos programas de pós-doutoramento que realizei. Desde então tenho procurado me manter atualizado nas áreas que escolhi e oferecer contribuições novas em razão das necessidades e mudanças que se apresentam na sociedade. Acho importante ser ousado, no bom sentido.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Com o passar do tempo você acaba aprimorando a técnica. O volume de leitura e também a bagagem cultural que se adquire também auxiliam bastante.
Diria “você cumpriu bem o seu papel”. O momento da realização da tese de doutorado foi uma fase da vida, como várias outras.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Pretendo escrever algo não jurídico no futuro. Ideias e assuntos tenho vários, mas tenho priorizado ainda meu compromisso com o direito.