Severino Rodrigues é escritor de literatura infantil e juvenil, doutorando em Letras (UFPB) e professor de Língua Portuguesa (IFPE).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Já tive algumas manias, mas hoje não mais. Costumo tomar um bom café da manhã – e com bastante café – para iniciar o dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever mais pela manhã. É quando funciono melhor. Mas, como sou professor, nem sempre é possível escrever nesse horário. Então, dependendo do período do ano (como finais de semestre com correção de provas e atualização de cadernetas), sou obrigado a me adaptar. Atualmente, não tenho ritual, mas já tive algumas manias, como escrever apenas em casa e deixar tudo na mesa organizado antes. Hoje escrevo até no meio da bagunça mesmo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Por causa da minha atuação como professor há períodos impossíveis de escrever. Mas, quando inicio um livro, vislumbro na rotina um horário diário para a escrita. Isso é fundamental, caso contrário perco o ritmo da narrativa, a voz dos personagens… Então, escrevo um pouco por dia sim. Sobre meta, depende do projeto: tanto pode ser um capítulo, se ele for curto, ou algumas cenas, se o capítulo for longo. Não gosto de deixar uma cena pela metade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Pesquiso inicialmente, mas chamo de pesquisa de inspiração. Nela não estão apenas textos que se relacionam a alguma questão da história, mas que – mesmo indiretamente – podem me estimular no processo criativo. Após a primeira versão do livro, volto às notas e a novas leituras, isso contribui e muito para um resultado bacana. Por exemplo, no meu livro No caminho contaremos nossos sonhos, publicado pela Globo Livros, a leitura e a releitura dos textos de Shakespeare acompanharam todo o processo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como costumo organizar a estrutura e o planejamento em cadernos e planilhas do Excel antes de começar efetivamente o texto, durante a escrita não é comum travar. Mas pode acontecer. Nesse caso, pulo a cena ou o capítulo e sigo em frente, depois volto. O melhor remédio é não se preocupar muito. Muitas vezes, só o ato de se levantar, fazer um lanche ou dar uma volta é suficiente para encontrar a solução.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Outro dia vi um vídeo, desses que as pessoas compartilham nas redes sociais, e associei ao trabalho de escritor. Nele, um rapaz tentava atravessar um canal (ou rio), deslizando sobre uma prancha. Ele tenta várias vezes até conseguir. Escrever é isso. Escrever, ler, reescrever, reler até a história deslizar. Sobre mostrar a outras pessoas, depende do livro. Por exemplo, na série Cabeça Jovem (composta pelos livros Bateria 100% carregada, 10 mil voltas ao meu mundo, Mil pássaros de papel e 1 milhão de mistérios), publicada pela Editora do Brasil, eu corri atrás de leitores betas para os quatro volumes, devido às questões que abordava. Mas como falei, depende.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo quase sempre no meu bom e velho amigo Word. Mas antes disso, muitos rabiscos num caderno, onde organizo as ideais. Depois, as planilhas do Excel que têm me ajudado bastante a estruturar e planejar os livros juvenis, principalmente. A exceção são os minicontos que escrevo no bloco de notas do celular. Boa parte deles saíram no meu livro 88 Histórias: contos e minicontos, publicado pela Cortez Editora, que aproveito para recomendar também.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Talvez o melhor conjunto de hábitos seja ler de tudo, e falo de “ler” numa perspectiva mais ampla, da literatura a todas as outras manifestações artísticas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que agora conheço mais o Severino escritor. Essa, porém, é uma descoberta que só acontece à medida que vamos investindo em novos projetos, encarando novas histórias. Se eu pudesse voltar no tempo, diria que “a escrita acontece na própria escrita” e aconselharia a não planejar em excesso “porque toda história também precisa de uma boa dose de liberdade”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho várias ideias que ainda estão nos cadernos, aguardando ansiosamente para ganhar o mundo. Mas não gosto de contar muito sobre os projetos enquanto estão engatinhando… Posso dizer que quero tentar coisas novas: como roteiro, de cinema e de quadrinhos, teatro e poesia.
* Entrevista publicada em 10 de julho de 2022.