Santiago Nazarian é escritor e tradutor, autor de Neve Negra.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como eu não tenho um emprego, minha rotina muda de acordo com os trabalhos que surgem, as viagens para eventos literários, o ritmo imposto por traduções, as reuniões de roteiro ou de trabalhos que não realizo sozinho. Minha carreira como escritor também tem quase duas décadas, então os livros foram escritos de maneiras muito diversas, desde os primeiros, em que eu ainda tinha empregos com horários fixos e tinha de escrever de madrugada e nos fins de semana, até os mais recentes, onde os horários são mais fluidos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Atualmente, de manhã, logo ao acordar. Não tenho rituais, mas muito café é indispensável, e uma vodca de vez em quando também ajuda.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando estou trabalhando em livro novo, escrevo todos os dias. A meta é pelo menos uma página por dia, levando o tempo que for. Mas quando o livro engrena, sempre vai mais do que isso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo começa com uma ideia, um tema, um universo que eu queira retratar. Para isso gerar um livro, precisa martelar na minha mente por algum tempo, meses, a história insistindo em se impor. Quando sinto essa insistência, parto para a página. O processo de pesquisa é mais orgânico, das necessidades que vão surgindo na narrativa, não costuma ser o ponto de partida porque eu escrevo sobre o que sei, não sobre o que estou descobrindo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sinceramente, isso nunca existiu para mim. Escrever sempre foi uma necessidade e um prazer. Dessa forma, eu não procrastino, é uma grande diversão para mim. Também nunca me deixei levar pelas expectativas, por medos – para mim faz parte do jogo: tentar conciliar o que tenho a dizer com o que preciso fazer na carreira; eu adoro encomendas, por exemplo. Não costumo ter travas, crise criativa – essa talvez seja a maior qualidade que eu vejo em mim como escritor. Nunca me falta.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não saberia dizer. As revisões são infinitas. E nunca é o suficiente. Não mostro para muita gente, até porque não tenho muita gente próxima que poderia me ajudar, mas acho fundamental ter alguns leitores especializados, não só em literatura em geral, mas no tema que eu estou tratando.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador, num Word básico. Não sou lá muito tecnológico, mas pertenço a uma geração em que o computador era uma ferramenta comum desde a adolescência. Não passei pela máquina de escrever, por exemplo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm da vida, de outras obras. Tão fundamental quanto ler, assistir cinema, teatro, é viver, viajar, beber, transar, se foder…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Minha escrita era mais apaixonada, espontânea. Com o tempo, ficou mais cerebral – atualmente se apoiando mais em pesquisa. Acho os dois momentos importantes. Na literatura valoriza-se muito a experiência, a maturidade, a velhice, mas há algo da paixão, da energia da escrita do jovem, que é fascinante – e isso eu já perdi. Então não tenho nada a ensinar ao meu eu-jovem – talvez ele é que tenha.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um livro de memórias lisérgicas e sexuais é algo que quero fazer num futuro não tão próximo. Tem muita história aí, e preciso registrar. Mas, para publicar, melhor esperar meus pais morrerem antes.