Samira Calais é escritora e jornalista.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Gosto muito de me concentrar em um projeto específico. Eu acabo rendendo mais dessa forma, pois dedico meu tempo e meus esforços a algo em especial e ao ver os resultados tomando forma, a sensação é de dever cumprido. Porém, fazendo isso eu acabo também deixando de lado ou não dando atenção a projetos que também deveriam ser olhados. Acho que esse sempre será um dilema na minha vida…
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Escrever a primeira frase sempre é mais difícil para mim, mas depois que eu começo o difícil é parar. Costumo planejar os projetos para depois executar, mas muitas vezes acontece de algo que começou despretensiosamente virar um grande projeto. Foi o que ocorreu com o meu primeiro livro solo, “Cenas da Pandemia” da editora Feminas. Eram postagens feitas no Instagram por mim com crônicas sobre o dia a dia do isolamento social e ilustrações da artista porto-alegrense Bruna Miranda. Mas passou a ter uma boa repercussão e surgiu a ideia de virar livro.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Quando escrevo não costumo seguir rotina e nem preciso de local específico. Antes da pandemia escrevia até (e principalmente) no transporte público! Mas agora com o isolamento, a rotina de escrita ficou um pouco mais bagunçada, já que têm dias que não dá vontade de fazer muita coisa, outros dias as ideias vêm rapidamente.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Com o isolamento e essa situação pandêmica que estamos vivendo é difícil não ter momentos de procrastinação ou de escrita travada. Acredito que nesse caso o ideal seja dar espaço para a mente e quando vier uma ideia não deixar ela passar: sentar e escrever!
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Meu maior orgulho e meu maior desafio sem dúvidas foi meu primeiro livro, o “Cenas da Pandemia”, que reúne crônicas e ilustrações que retratam situações cotidianas que passaram a fazer parte da vida das pessoas com o isolamento social. O processo de construção de um livro é muito bonito e ao mesmo tempo precisa de muita dedicação. E nada se compara à alegria de receber ele pronto da gráfica!
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Eu costumo dizer que são os temas que me escolhem. Dificilmente eu penso: “Vou escrever sobre esse assunto”. Mas quando eu vejo já estou escrevendo! Temas cotidianos costumam ser os meus preferidos, como a vida no isolamento social, por exemplo, que foi o tema do meu livro. Mas também gosto muito de escrever para mulheres, temas que são comuns às nossas vivências, nossas lutas.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Como jornalista, não tenho muito apego com meus textos, não me importo com revisões, mudanças. Então eu os escrevo e geralmente no fim do processo, depois da minha revisão, eu costumo mostrar para algumas pessoas próximas. Veja o que têm para me dizer sobre o texto e analiso se são sugestões que cabem à minha ideia e intenção.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Desde pequena eu gosto de escrever, vim de uma família de professoras e sempre fui muito incentivada à leitura e à escrita. Segui escrevendo na adolescência e na vida adulta, mas nunca tinha me visto como uma escritora. Acredito que essa ficha só começou a cair depois que eu publiquei no Cadernos Negros 41 em 2018. A partir dali tive meus textos publicados em antologias, coletâneas, revistas, blogs e entendi que a minha escrita poderia ser uma forma de me comunicar, me expressar.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Sou formada em jornalismo e isso sem dúvidas influencia a minha escrita literária. Às vezes a jornalista predomina e preciso resgatar a escritora, fico sempre tentando buscar esse equilíbrio. As minhas grandes inspirações literárias são Conceição Evaristo e Chimamanda Ngozi Adichie.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Há pouco tempo consegui terminar “Quarto de despejo” da Carolina Maria de Jesus. Foi uma leitura que demorei bastante, porque é muito difícil assimilar tudo que está ali. Acredito que esse seja um livro que todo brasileiro deveria ler. Além desse, tem outros dois que eu adoro e sempre indico, que são “Americanah” da Chimamanda e “Kindred” da Octavia Butler.