Ryana Gabech é artista plástica, compositora, poeta e performer.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia fazendo um bom café, um suco as vezes e um cuscuz. “Despacho a rua” e depois vou lavar roupas e ou/ responder mensagens.
- Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho ritual de preparação para a escrita. Eu tenho uma ideia, imagem ou som, e em algum momento do dia, eu escrevo uma frase ou uma palavra para não esquecer o assunto. Geralmente é só um verso mesmo. E depois eu fico maturando aquela ideia. Então, quando estou cheia de pensar, fazer conexões mentais, visuais e sonoras (geralmente na calada da noite), eu escrevo sobre.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas de escrita e sim de tornar físico o que eu já criei na minha subjetividade. Eu tenho as ideias e anoto. E o meu processo é em gerir um movimento em minha vida para que em algum momento “eu possa colocar a ideia em prática”. Isto porque eu tenho ideias sobre pintura, vídeo, música, performance, cenários, peça teatral e também textos e livros. Basicamente, eu estou sempre criando alguma coisa, imersa naquilo ali. E ao mesmo tempo estou com algumas outras ideias a “desenvolver” no futuro próximo. Como agora, que estou querendo concluir algumas pinturas e músicas. E também estou com um livro chamado “Água de Concha” a ser lançado pela editora @Telucazu. E, ainda, tenho mais três livros prontos a serem “revisados e finalizados” para publicação. Sem falar que estou com um projeto de gravação de poemas em vídeo, inéditos, que já iniciei. Fora uma peça infantil de poesia que tenho alguns esboços do roteiro a ser “depurado”…
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu tenho essa coisa inquieta com a escrita, assim como em todas as minhas criações. Eu começo a desenvolver alguma coisa e se ela trava, eu paro. Vou correr, pintar, cozinhar, dar conta da vida, até que eu tenha inspiração suficiente para voltar a mexer no texto ou na obra. Ainda sim, no processo de escrita especificamente, mesmo quando já acho que está bom e publico, vou ler meses depois e vejo que dava para alterar algumas “coisas”.
Eu tenho esse estado emergencial com o meu trabalho de poesia. Uma certa pressa. Quando fazia cursos de poesia, um dos meus professores da época, chamado Fernando José Karl, poeta do sul do Brasil, me ensinou que não existe “escrever bem e sim, pensar bem” . Então eu fui aprendendo a conviver com as palavras, com as ideias e imagens um tempo antes de colocá-las pra fora em forma de arte. Às vezes eu só desenho um projeto que vem na minha cabeça e depois, deixo ele andar um pouco por si, deixo um pouco a “vida” sinalizar que devo “voltar” àquele texto, “imagem” ou “som” e lançá-lo ou publicá-lo. Com a escrita eu geralmente publico mais rápido. Até porque eu fico com aquela “emoção do poema” até escrevê-lo. E assim que eu escrevo já quero “jogar” pro mundo. Até porque depois de tantos anos de poesia, aprendi a valorizar e a considerar de maneira significativa a “reação” do público com a “mensagem” que estou comunicando. Isto passou a me inspirar também, ao vender livros em bares. É um sentimento único quando as pessoas se identificam com o que você escreve, com o que você cria. É como se as pessoas conseguissem uma “expressão” para uma emoção que elas também possuem, mas não sabem como “dizer”. A gente gera uma espécie de afinidade com o público. E às vezes quando acontece o silêncio “da plateia” como acontece muito com a performance-poética, também tem alguma coisa ali que mexeu. Quando a gente não gosta de algo logo já justifica o porquê daquilo. Quando a gente silencia é porque não sabemos lidar “com aquilo”. E isto na arte, apesar do “não aplauso” que contém o silêncio, é um reconhecimento também. Então, com a poesia eu tenho essa curiosidade de saber se o público gosta ou não, de maneira mais direta. Daí a pessoa já dá um sinal querendo comprar o livro, ou não. Ás vezes não compra, mas pede pra anotar o poema, mandar para alguém…
É uma espécie de cumplicidade que a arte busca para com o mundo e as pessoas. Uma espécie de ser no mundo muito própria dela mesmo, a arte.
Se o poema gerou silêncio, aplauso ou cumplicidade, não importa a ordem: fez o seu papel. Este fenômeno, para além do ato de criar, se tornou precioso em meu processo criativo não só na poesia, mas como um todo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas idéias vem muito das imagens e dos sons. Eu me nutro de bons livros, bons hábitos, música, bons documentários de filosofia e religião, filmes e vídeos que me inspiram a crescer mentalmente e emocionalmente. Tenho uma relação muito criativa – funcional com meus amigos também. As conversas e compartilhamentos com as pessoas e a simultaneidade da vida em si, esse movimento, no geral, me inspiram muito. Isso tudo me mantém sempre motivada para viver e continuar criando.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Na parte da escrita eu não mudaria nada, mas na parte de como conduzi meus trabalhos, sim. Talvez eu gostaria de ter sido mais madura emocionalmente ou menos “passional” com as decisões que tomei acerca do meu trabalho. E também gostaria de estar atuando e ter atuado mais em grupos artísticos (literários), assim como ter participado de diversos projetos que sequer eu conheci quem “promoveu” (risos).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Muitos projetos que ainda não comecei e alguns não tenho como executar por falta de verba/ recursos. Mesmo assim vou trabalhando aos poucos nos desenhos, esboços e ideias, até onde posso ir sozinha. Quanto tiver a oportunidade, dou andamento.