Rosângela Vieira Rocha é escritora, jornalista e professora aposentada da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente me levanto tarde, pois meu trabalho criativo rende mais à noite e por isso não durmo cedo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
À tarde e à noite. O meu ritual é olhar a agenda primeiro, pois quando me sento para escrever não gosto de cuidar de outros assuntos. Então vejo se há contas a agendar, consultas médicas, dentista, etc. Só me sento diante do computador para escrever ficção com a “cabeça vazia”, ou seja, sem me preocupar com assuntos de outra natureza. Jamais misturo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária e não escrevo todos os dias. Mas, se estou trabalhando num projeto específico como agora (estou escrevendo o meu quinto romance “adulto”, escrevo também livros infantojuvenis), eu me esforço para me dedicar ao texto pelo menos quatro dias por semana.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente faço a pesquisa primeiro (depende um pouco do tema). Para o projeto atual, pesquisei durante quatro meses. Não tenho dificuldade para começar; pelo contrário, às vezes a pesquisa ainda não terminou e meus dedos coçam para iniciar a escritura da história. Mesmo durante o processo de escrita, continuo pesquisando, mas sobre algum subtema específico, que me escapou na pesquisa integral.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho problema com procrastinação. Sempre fui organizada e persistente. E nem tampouco ansiedade com projetos longos. O que às vezes me “fisga” é a questão de não corresponder às expectativas alheias. Tenho sentido isso, às vezes de maneira mais forte ou atenuada, com o livro em andamento. Creio que, nesse caso específico, isso pode se dever ao fato de meu último romance, “O indizível sentido do amor”, lançado em 2107, ter recebido uma crítica muito boa e agradado leitores muito diferentes entre si.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes, progressivamente (capítulo por capítulo) e depois o conjunto, quando termino de escrever a história. Espero alguns dias e reviso novamente. Tenho um grupo muito pequeno de escritores amigos – três ou quatro – aos quais costumo pedir uma leitura antes da publicação. Raramente envio direto para a editora. Embora eu seja revisora, não sou eu a fazer a última revisão (de língua portuguesa) dos meus livros. Gosto de contratar outro profissional.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo direto no computador, há muitos anos. Contudo, no decorrer do dia e sobretudo à noite, quando já estou deitada, às vezes surge alguma ideia e corro para anotá-la à mão, em bloquinhos, para que não se perca. Mas depois digito essas anotações e salvo no computador, na pasta do livro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não tenho esse conjunto de hábitos – digamos, de maneira consciente – mas leio muito, leio demais, estou sempre lendo e acompanhando os lançamentos de livros, resenhas, etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria a mim mesma para tentar ficar mais tranquila, pois cada livro sai na hora certa, nem antes e nem depois do momento que lhe é destinado. O autor faz a sua parte, mas há o imponderável, existe o mistério do processo criativo. Não depende só de nós.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gosto muito do gênero biografia, embora não tenha escrito nenhuma, ainda. Gostaria de escrever a biografia de algumas mulheres brasileiras notáveis, especialmente de escritoras, mortas e/ou vivas. Nunca conversei a respeito com ela, de quem sou amiga, mas gostaria, por exemplo, de escrever a biografia da poeta Alice Ruiz, por gostar muito de sua obra e por achá-la uma pessoa muito interessante.